sábado, 21 de maio de 2022

Da Bloomberg ao Instagram do centrão, Musk faz política, Nelson de Sá, FSP (definitivo)

 Em newsletter na manhã de sexta, a Bloomberg ressaltou, sobre a viagem do "homem mais rico do planeta" ao Brasil, que a "intervenção" de Elon Musk resultaria em "uma boa imagem para Jair Bolsonaro a cinco meses das eleições". Axios e outros também foram por aí.

Na visão da Bloomberg, a América Latina vem se voltando à esquerda, "numa região rica em commodities", mas a disputa com Lula "é o teste decisivo para saber se a mudança está chegando".

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Posteriormente, a Bloomberg destacou que "Musk é elogiado pelo presidente Bolsonaro em viagem surpresa". Na Reuters, "Bolsonaro chama proposta de Musk pelo Twitter de 'sopro de esperança'".

Líder do centrão e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira tirou uma foto com Musk para seu perfil de mídia social (abaixo), entre elogios à "grande conquista do nosso ministro das Comunicações, Fábio Faria", também do centrão.

Reprodução

ESTEVES E MUSK

No Brasil, pelo que vazou do almoço de Musk por ValorO Globo e outros, Musk se sentou entre Bolsonaro e André Esteves, com quem, de fato, conversou —e que foi introduzido por Fábio Faria como dono do terceiro banco brasileiro e, "em breve, o maior".

Foi Esteves quem levou alunos da Inteli, ligada a seu banco, para falarem com Musk. E sua revista Exame foi "o único veículo de imprensa a ter acesso ao hotel em que o encontro é realizado". A Exame trouxe informações como "Quanto custa ter a internet da Starlink", a empresa de Musk. "Cerca de R$ 500 mensalmente."

O banqueiro, também nesta sexta, foi perfilado pelo Financial Times, destacando sua "volta para o lugar de onde nunca saiu" (abaixo). No subtítulo, "Retorno de Esteves é formalizado, anos após prisão".​

MUSK E A VALE

Duas semanas antes de viajar ao Brasil, Musk fechou contrato com a Vale, noticiaram Bloomberg e FT, para compra de níquel.

A atual direção da mineradora brasileira "busca se transformar em fornecedora preferencial das montadoras americanas", não só a Tesla, "à medida que aumentam a produção de veículos elétricos". Musk aponta o minério como "um dos maiores desafios" da empresa.

Uma semana atrás, o empresário participou de evento do FT e foi questionado se pode "dar um passo além e comprar uma mineradora".

Respondeu: "Não é que queiramos comprar, mas, se for a única maneira, faremos isso. Refinar ou comprar uma mineradora, desde que possamos mudar sua trajetória, são possibilidades. Sim". O FT relacionou a resposta a seu acordo com a Vale.

INDONÉSIA TAMBÉM

Enquanto Musk viajava ao Brasil, o governo da Indonésia, "um dos maiores produtores de níquel do mundo", anunciou à imprensa local um acordo com a Tesla —dias após encontro de seu presidente com o bilionário:

Tatiana Prazeres O que aprendi lendo jornais na China por três anos, FSP

Cultivei um hábito nos últimos três anos vivendo em Pequim. Lia, todos os dias, a imprensa chinesa em inglês. Começou despretensiosamente, como curiosidade intelectual, mas a leitura regular se revelou um aprendizado valioso.

É uma experiência sociológica fascinante ler o China Daily de ponta a ponta por, digamos, uma semana. Em algum grau, é informativo. É cívico. Em parte, é ótimo para quem precisa de um pouco de escapismo.

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Você termina de ler e se sente otimista com o mundo —e, claro, com a China. Para não ser injusta, o China Daily traz, eventualmente, notícias sobre corrupção ou um desastre ambiental num rincão da China —e elas são sempre acompanhadas de referências sobre punições e medidas para prevenir esses problemas.

Página do jornal Global Times com a imagem do Congresso americano em banca de Pequim
Página do jornal Global Times com a imagem do Congresso americano em banca de Pequim - Thomas Peter - 21.jan.21/Reuters

O Global Times, por sua vez, é útil para tomar a temperatura do pensamento do Partido Comunista Chinês. Lembro-me de que, em 2020, o então secretário de Estado americano mereceu um editorial intitulado "[Mike] Pompeo, um inimigo da paz mundial". Ele havia dito que o partido era uma ameaça à humanidade —e o GT se encarregou da resposta.

O South China Morning Post, de Hong Kong, é uma brisa de ar fresco na cobertura sobre a China. Costumo brincar que se trata do jornal mais importante do mundo do qual você nunca ouviu falar. O SCMP preenche uma lacuna na cobertura jornalística sobre a China porque é chinês (mesmo que de Hong Kong) e também é plural —trata de temas sensíveis, publica opiniões pró e contra Pequim. Recentemente, divulgou um vídeo de protestos de estudantes contra a política de "Covid zero".

O SCMP foi comprado em 2016 pelo grupo Alibaba, então liderado por Jack Ma, que é membro do partido —e isso não parece ter afetado a linha editorial do jornal. A Lei de Segurança Nacional para Hong Kong, de 2020, que levou ao fechamento de outros veículos, não silenciou o SCMP.

Nos últimos três anos, chama a atenção nos jornais em inglês da China continental o crescimento de uma visão negativa sobre o cenário internacional. Consolidou-se a mensagem de que o Ocidente não aceita a ascensão chinesa. O proverbial ganha-ganha, típico do discurso chinês sobre relações externas, foi perdendo espaço.

Ganharam destaque, ao mesmo tempo, críticas aos problemas americanos. Tensões raciais e atentados com armas de fogo nos EUA, por exemplo, têm ampla repercussão —a ponto de fazer com que pais chineses tenham receio de mandar seus filhos para estudar em universidades americanas, como me contou um aluno de Yunnan.

A pandemia fez com que, incansavelmente, a imprensa chinesa contrastasse o caos no exterior com a normalidade no país, sobretudo entre 2020 e 2021. Agora, o foco é valorizar os resultados desses dois anos. Nesta semana, com lockdowns ainda em vigor, o destaque do China Daily foi para o fato de que 1 milhão de americanos morreram de Covid. O tom triunfalista da superioridade da resposta chinesa arrefeceu, mas a essência da mensagem não mudou.

Um sinólogo uma vez me disse que, na China, o jornalista é um profissional que vê seu papel como parte da construção da imagem do país. Aprende-se assim desde a faculdade. Quando comentei essa visão com um amigo jornalista chinês, ele me devolveu a provocaçãose os estrangeiros já fazem o papel de criticar a China, o seu seria o de oferecer o contraponto.

Não são necessários três anos de leitura para chegar a essa conclusão, mas, goste-se ou não, conhecer melhor a China de hoje passa por entender as mensagens que o governo quer transmitir. 

Rodrigo Garcia força mudança na direção do Sebrae-SP para colocar aliado, FSP

SÃO PAULO

governador Rodrigo Garcia (PSDB) decidiu trocar o atual diretor-superintendente do Sebrae-SP, Wilson Poit, por um nome político de sua preferência.

Trata-se do cargo mais alto da entidade no estado, cobiçado por controlar um orçamento de R$ 674 milhões. O preferido de Garcia para o posto é Marco Vinholi, presidente do PSDB-SP e coordenador da campanha presidencial de João Doria (PSDB). Pressionado, Poit pedirá demissão do posto, abrindo espaço para o substituto.

Formalmente, o governador não tem poder para demitir ou nomear no Sebrae, uma entidade privada, mas os governadores fazem articulações para colocar seus indicados.

Rodrigo Garcia (PSDB), governador de SP, durante jantar em São Paulo
Rodrigo Garcia (PSDB), governador de SP, durante jantar em São Paulo - Mathilde Missioneiro-20.nov.2019/Folhapress

O nome do diretor-superintendente é escolhido por um conselho de 13 membros do Sebrae-SP, que representam instituições como Fiesp, Fecomércio, Sindibancos, Associação Comercial de SP. A administração estadual tem assentos no conselho por meio da Desenvolve SP e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Poit é pai do deputado federal Vinicius Poit (Novo), pré-candidato ao Governo de SP e provável concorrente de Garcia. Empresário, ele migrou para a política quando se tornou secretário de Desestatização de Doria em 2017, na Prefeitura de SP.

Com a saída de Poit, que deve se concretizar no fim de maio, Garcia também atinge o ex-governador, de quem o empresário é próximo. Doria foi o responsável por sua indicação ao atual posto, que ocupa desde abril de 2019.

Wilson Poit, diretor-superintendente do Sebrae-SP desde 2019
Wilson Poit, diretor-superintendente do Sebrae-SP desde 2019 - Divulgação/Sebrae-SP

A troca de Poit por um político de carreira disparou reações negativas, e os envolvidos acreditam que Garcia não terá facilidade em emplacar seu indicado no conselho, caso mantenha o perfil de Vinholi.

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"Para o bom funcionamento do Sebrae, as ingerências politicas devem ser evitadas. É desejável, e deve ser incentivado, o estabelecimento de parcerias com os governos, em todos os níveis (federal, estadual e municipal). Mas parcerias não podem ser confundidas com subordinação", diz Antonio Alvarenga, diretor-superintendente do Sebrae-RJ.

"Substituir um empreendedor de sucesso, como Poit, será uma desaconselhável e indesejável interferência no Sebrae-SP", completa. Outras lideranças do Sebrae, em caráter reservado, argumentaram no mesmo sentido.

A assessoria de comunicação do Sebrae-SP diz que Poit "sairá para se dedicar à iniciativa privada" —ele foi escolhido para a presidência do conselho de administração da empresa Light em março. O empresário não quis comentar as articulações para sua saída.

O governador Garcia também preferiu não se pronunciar. Vinholi disse que "não tem nenhum fundamento" a afirmação de que ele pode assumir o Sebrae-SP.