domingo, 20 de julho de 2025

Com pó de rocha, Brasil se livra de fertilizantes e vira líder em carbono, Ronaldo Lemos, FSP

 O Brasil pode virar liderança mundial na retenção de carbono e ainda ganhar independência de fertilizantes importados. O caminho para isso é o pó de rocha. Trata-se literalmente do pó de rochas basálticas (vulcânicas primárias) misturado ao solo. As terras mais férteis do país, como a terra roxa, foram formadas assim. Só que por processos naturais de milhões de anos.

A ideia é acelerar. Moer rochas basálticas ou pegar resíduos da mineração de brita, calcário e, em alguns casos, do ferro e espalhar amplamente nas terras agrícolas do país. Isso resolve dois problemas. Fertiliza o solo com potássio, cálcio e magnésio. E retém cerca de uma tonelada de carbono por hectare por ano (1 crédito), hoje vendido a US$ 200. O processo é o intemperismo acelerado (ou ERW em inglês). Ao ser jogado no solo, o pó reage com água e gás carbônico e produz bicarbonato, que é lixiviado até os oceanos, retendo o carbono indefinidamente.

Tem dúvida? Pergunte para a empresa InPlanet, com sede em Piracicaba e Munique. Ela atua na serra da Mantiqueira em parceria com mineradoras e produtores de cana. A empresa tem jogado algo como dez toneladas de pó de rocha anualmente por hectare em propriedades da região. Conseguiu agora seu primeiro lote de créditos de carbono dessa forma, certificado pela Isometric.

A imagem mostra uma vista panorâmica de uma paisagem montanhosa, com colinas verdes e florestas densas na parte inferior. O céu está claro, com algumas nuvens brancas esparsas. As montanhas ao fundo apresentam diferentes tonalidades de verde e azul, criando um efeito de profundidade na cena.
Serra da Mantiqueira - Karime Xavier - 22.mai.25/Folhapress

Isso é revolucionário. Tanto que o Vale do Silício já percebeu. Uma concorrente americana da empresa com sede em San Francisco, chamada Terradot, captou US$ 58 milhões em dezembro passado para fazer a mesma coisa, com foco no Brasil. Dentre seus investidores estão o Google, a Microsoft e Sheryl Sandberg.

O pó de rocha ganhou também o XPrize em 2025. A competição é financiada por Elon Musk para premiar com US$ 100 milhões as tecnologias que melhor removem carbono da atmosfera. O pó de rocha ficou em primeiro lugar, recebendo US$ 50 milhões.

Dá um aperto no coração que seja preciso que uma tecnologia "nossa" precise primeiro ser consagrada fora para chamar a atenção aqui. Pergunte a qualquer cafeicultor do cerrado que ele vai te contar sobre o pó de rocha. Ou ainda, consulte o trabalho do saudoso geólogo mineiro Djalma Guimarães, um gigante, que nos anos 1950 publicou estudos seminais sobre o pó de rocha na agricultura.

Influenciado por eles, o Brasil passou uma lei essencial em 2013 que classifica o pó de rocha como fertilizante, permitindo seu amplo uso no país. Para ter uma ideia de como estamos perdendo tempo, o Brasil importa cerca de 90% dos fertilizantes que utiliza. Gasta US$ 25 bilhões por ano (em 2024, foram US$ 40 bilhões!). Hoje, menos de 1% das lavouras usam o pó de rocha. Seu uso em escala pode reduzir drasticamente essa dependência. E, de quebra, colocar o Brasil como líder isolado na produção de créditos de carbono.

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Para isso, o recomendado é aplicar dez toneladas do pó por hectare anualmente. Isso melhora progressivamente o solo, com efeitos de longo prazo (diferentemente dos fertilizantes químicos, que são de curto prazo). Um novo crédito é gerado a cada aplicação. País que quer ser soberano de verdade precisa sair do discurso e arregaçar as mangas. O pó de rocha é um dos caminhos para isso.

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