quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O Maksoud Plaza não morreu, foi assassinado, Marcos Nogueira, FSP

 Marcos Nogueira

SÃO PAULO

A música "Deusdéti", do grupo satírico paulistano Língua de Trapo, falava do dilema existencial do militante comunista caipirão que namorava uma patricinha da capital. O refrão dizia assim: "Não pude (não pu-u-de) / Não pude (não pu-u-de) / Não pude ir jantar com você no Maqueçude".

O ano era 1985, e não havia nada mais luxuoso em São Paulo do que o hotel Maksoud Plaza. Lá se hospedavam as celebridades internacionais. Lá teve até show petit comité do Frank Sinatra.

Nunca se imaginaria a decadência que se arrastou com lentidão cruel e excruciante, até o fechamento total do hotel, anunciado hoje (7/12/2021).

Vão interno do hotel Maksoud Plaza,
O impressionante vão interno do hotel Maksoud Plaza, com varandas e elevador panorâmico - Daniel Pinheiro/Divulgação

Na minha infância e adolescência, o Maksoud era um passeio dos sonhos que eu nunca realizei. Não do jeito que eu queria.

O pivete que eu era queria, mais do que tudo, viajar até o topo do prédio do Maksoud no elevador panorâmico que dá para o gigantesco vão livre do saguão de entrada.

Mas meus pais me achavam pirralho demais para comer smörgåsbord, o banquete escandinavo, no restaurante Vikings –o primeiro da cidade especializado em culinária nórdica. Eu obviamente iria detestar o arenque, mas o que interessava era o elevador.

Em 1985, ano de "Deusdéti", minha irmã do meio (mais velha do que eu) me levou a um show do guitarrista Buddy Guy no mesmo 150 Night Club em que o Sinatra havia cantado. Eu tinha 15 anos, achava que conseguiria ser bluesman um dia e fiquei embasbacado. Mas não rolou o elevador.

Mais ou menos na mesma época, era tradição dos secundaristas de escolas bestas tomar café da manhã no Maksoud depois da festa de formatura.

Não lembro por que, mas meus colegas decidiram em vez disso ir ao Mofarrej (hoje da rede Tivoli), outro hotel de luxo na região da avenida Paulista.

Fui andar no elevador só muitos anos mais tarde, quando já era um adulto com certa aflição de altura. Eu trabalhava na revista VIP, da Editora Abril, e fazíamos um ensaio de moda e gastronomia no hotel –que já parecia agonizar em 2011.

A revista fazia 30 anos, e o Maksoud simbolizava o que havia de mais glamuroso na época em que a VIP começou a circular. Havia modelos com roupas retrô, num cenário que incluía comidas antiquadas. Coquetel de camarão, esse tipo de coisa.

O ensaio foi quase todo no bar Batidas & Petiscos, espaço caidíssimo do térreo (que mais tarde ganharia vida nova ao se tornar o Frank e servir ótimos coquetéis).

Bar Batidas & Petiscos, do hotel Maksoud Plaza, que mais tarde se tornaria o Frank - Divulgação

Em busca de um cenário alternativo, pedimos para ver algum apartamento vago. Havia muitos apartamentos vagos.

O pivete dentro de mim despertou e pediu que o quarto fosse no último dos 22 andares. Vi o chão se distanciar dos meus pés sem a emoção que eu sentiria aos 10 anos de idade.

Na suíte, outro fuén. Mobília velha –chamá-la de "antiga" seria lisonjeiro demais– carpete puído, charme zero.

Aquele era um hotel moribundo. Um lugar triste. O Maksoud meio que foi tarde, deveria ter morrido com mais dignidade. Não merecia ser lentamente assassinado pela incompetência daqueles que deveriam ter cuidado dele.

Nubank abre em alta e ações sobem mais de 30% em estreia na Bolsa de Nova York, OESP

 O Nubank estreou na Bolsa de Nova York (Nyse) às 11h desta quinta-feira (9) como a instituição financeira mais valiosa da América Latina, mas as cotações de suas ações demoraram a começar a rodar, o que pode acontecer no primeiro dia de negociação, para ajuste entre a oferta e demanda. 

A ação do banco digital abriu com forte no pregão com alta de 25%, chegou a subir mais de 30% e, por volta das 15h, subia 22%. Com isso, o valor de mercado do banco digital já salta de um pouco mais de US$ 41 bilhões para mais de US$ 50 bilhões.

Na quarta-feira à noite, o banco do cartão roxo precificou sua ação em US$ 9, abaixo do previsto quando lançou a oferta, e levantou US$ 2,6 bilhões, considerando apenas a oferta base. Além disso, a instituição conseguiu fazer o terceiro maior IPO do ano nos EUA, atrás apenas da sul-coreana Coupang e da chinesa DiDi.

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Nubank Nyse
Fachada da Bolsa de Nova York com a cor do Nubank; banco digital faz IPO com status de banco mais valioso da América Latina. Foto: Brendan McDermid/Reuters - 9/12/2021

O Nubank fez uma dupla listagem, ou seja, será listado tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, na B3. Por isso, será submetido à regulação dos dois mercados de capitais. Como os Estados Unidos a partir desta quinta-feira, 9, se tornam seu mercado primário, no Brasil serão listadas as BDRs, que se tratam de certificados que representam as ações listadas fora.

O dinheiro levantado na oferta será destinado para gastos com capital de giro e despesas operacionais, segundo aponta a instituição no prospecto da operação. Fora isso, os recursos poderão ser utilizados em investimentos e aquisições potenciais.

A oferta, que saiu em um momento de maior volatilidade em todo o mundo, precisou ajustar seu preço em 20%, mas conseguiu atrair um grupo de investidores estrangeiros. Segundo fontes, a demanda de investidores superou a oferta em quase dez vezes.

Entre os investidores locais, a gestora Catarina Capital foi uma que fez investimentos no IPO. O presidente da gestora, Thiago Lobão, afirma que houve uma assimetria de percepção entre brasileiros, porque, na sua leitura, não é possível uma comparação com o Itaú - superado pelo Nubank em valor de mercado. “O Itaú ainda luta para modernizar sua tecnologia e processos financeiros, muitos ainda datados dos anos 80, com custos anuais cada vez maiores para integração e atualização de sistemas, correndo atrás de se transformar um banco digital não apenas no marketing, mas sim na experiência ao usuário e em seus processos internos. É um grande gerador de caixa como banco, mas não uma empresa disruptiva frente às práticas e tecnologias que são adotadas pelos bancos hoje, o que o Nubank propõe transformar, já com resultados reais e bastante expressivos de tração de usuários", diz.

Segundo o Nubank, 815 mil pessoas físicas participaram do IPO. “No Brasil, é o maior IPO em investidores de varejo", afirmou o banco digital. Além disso, 7,5 milhões de clientes da instituição financeira aceitaram entrar no programa batizado de NuSócios e receberam um BDR cada.

O diretor de mercados de capitais internacionais da Nyse, Alex Ibrahim, disse ao Estadão, que a listagem do Nubank se tornou um marco, mostrando que o negócios da fintech “é real no Brasil e na América Latina". “Essa oferta deverá abrir a porta para outras, já que mostra que existe um mercado para elas”, afirma Ibrahim. 

Para o executivo, o Nubank, ao entrar no mercado norte-americano, passou a ter acesso a uma gama de investidores dedicados ao setor de tecnologia que não investem diretamente no Brasil. “O Nubank pegou o melhor dos dois mundos, porque ao também se listar na Bolsa brasileira deixou suas ações acessíveis aos seus clientes”, diz. 

As conversas com outras empresas brasileiras, incluindo as de tecnologia, seguem aquecidas e ofertas devem se materializar em 2022, afirma o diretor da Nyse.

Histórico

O Nubank foi fundado em 2013 pelo colombiano David Vélez, pela brasileira Cristina Junqueira e pelo americano Edward Wible. Desde então, o mais badalado banco digital do mundo já passou por 11 rodadas de captação e levantou, ao longo do tempo, cerca de US$ 2 bilhões, dinheiro que garantiu à fintech um rápido crescimento e um ganho meteórico do número de clientes. 

Em uma das últimas rodadas, em junho, o Nubank acrescentou mais US$ 500 milhões em seu caixa. O dinheiro veio de um dos investidores mais famosos do mundo, o oráculo de Omaha, Warren Buffett, por meio de sua gestora Berkshire Hathaway. Agora, o megainvestidor ampliou sua aposta no IPO do banco digital.

O título de unicórnio veio no início de 2018, quando a fintech recebeu um aporte de US$ 150 milhões, em rodada liderada pela DST Global. Em 2019 foram mais US$ 400 milhões injetados na empresa, dessa vez atraindo a gigante chinesa Tencent - e sua avaliação saltou para US$ 10 bilhões. Antes disso a Tencent já tinha injetado US$ 180 milhões em outubro de 2018.

Rumo ao lucro

Agora, como empresa listada, o banco digital terá de provar seu caminho rumo à lucratividade, visto que ainda anda no vermelho. De janeiro a setembro deste ano, o Nubank teve prejuízo líquido de US$ 99,1 milhões, pior que o observado no mesmo intervalo de 2020, quando a perda da fintech foi de US$ 64,4 milhões.  

A receita total do banco digital no acumulado do ano até setembro foi de US$ 1,062 bilhão, alta de 98,7% em termos anuais. No entanto, o número que mais chama atenção do Nubank é o rápido crescimento de sua base de clientes. No fim de setembro o número já estava em 48 milhões -  eram 3,7 milhões no início de 2018.


Governo autoriza projetos de 9 novas ferrovias privadas, com mais de R$ 50 bi de investimentos, OESP

 BRASÍLIA - O governo federal assinou nesta quinta-feira, 9, os primeiros contratos de ferrovias privadas no Brasil, que prometem gerar investimentos de mais de R$ 50 bilhões. São nove projetos ferroviários que serão construídos do zero, cruzando dez Estados em 3,5 mil quilômetros de trilhos. Atualmente, a malha ferroviária brasileira soma 29,3 mil quilômetros de estradas de ferro. Os planos são baseados nas regras do novo Marco Legal das Ferrovias, que está em vigor desde o fim de agosto por meio de uma medida provisória editada.

O texto libera um novo regime ferroviário no País, chamado de autorização. Nele, novos traçados são construídos exclusivamente pelo interesse da iniciativa privada, sem licitação. O modelo é muito comum em países como Estados Unidos e Canadá, e para atender demandas específicas de transporte de cargas, identificadas pelos próprios produtores e empresas. Além disso, o fardo regulatório é mais leve, baseado nos princípios da livre concorrência e da liberdade de preços - ou seja, sem intervenção do poder público na definição das tarifas de transporte.

Nesta quinta, o governo liberou as autorizações de novas ferrovias solicitadas por seis empresas: Bracell, produtora de celulose; Ferroeste, empresa ferroviária estatal do Paraná; Grão Pará Multimodal, que tem autorização para operar um terminal portuário em Alcântara (MA); Petrocity, empresa do setor portuário; Macro Desenvolvimento LTDA; e Planalto Piauí Participações (veja abaixo os trechos de cada ferrovia e o investimento previsto).

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O governo já recebeu 47 pedidos de requerimentos de ferrovias, segundo o secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa. Em relação a 36 desses projetos, o governo já tem estimativas de investimentos, que alcançam R$ 150 bilhões. “Estamos vendo agora o início da revolução que vai nos tornar novamente um País ferroviário”, disse Costa. Segundo ele, os números devem levar o modal ferroviário a uma participação na matriz de transportes superior a 40%.

Ferrovia Norte-Sul
Obras na Ferrovia Norte-Sul; novo regime ferroviário permite a construção de novos trilhos por empresas privadas sem a necessidade de concessão ou licitação Foto: Dida Sampaio/Estadão

O modelo de concessão para ferrovias continuará existindo e é importante, por exemplo, para grandes projetos que envolvem mais de uma carga, interesses difusos e cujo traçado corta mais de um Estado. Nesses casos, há um interesse de política ferroviária por parte do Estado, fazendo com que o esquema de concessão – com regras mais rígidas, mas também com compartilhamento de riscos com o poder público – seja mais interessante.

Trechos de novas ferrovias autorizadas pelo regime de autorização

  • Bracell – Lençóis Paulistas (SP): 4,29 km de extensão dentro do próprio município – R$ 40 milhões
  • Bracell – Lençóis Paulistas a Pederneiras (SP): 19,5 km de extensão – R$ 200 milhões
  • Ferroeste – Cascavel/PR a Chapecó/SC: 286 km de extensão – R$ 6,4 bilhões
  • Ferroeste – Maracaju/MS a Dourados/MS: 76 km de extensão – R$ 1,20 bilhão
  • Ferroeste – Cascavel/PR a Foz do Iguaçu/PR: 166 km de extensão – R$ 3,1 bilhões
  • Grão Pará – Alcântara a Açailândia/MA: 520 km de extensão – R$ 5,2 bilhões
  • Macro Desenvolvimento Ltda – Presidente Kennedy/ES a Sete Lagoas/MG: 610 km de extensão – R$ 14,30 bilhões
  • Petrocity – Barra de São Francisco/ES a Brasília/DF: 1.108 km de extensão – R$ 14,22 bilhões
  • Planalto Piauí Participações – Suape/PE a Curral Novo/PI: 717 km de extensão – R$ 5,7 bilhões

Fonte: Ministério de Infraestrutura