quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O mundo pós-pandemia conhecerá 'novas geografias de descontentes', Agência Fapesp

 Desencadeada em um contexto marcado por agudas desigualdades econômicas, sociais e culturais, a pandemia acentuou ainda mais a distância que separa os desiguais. O trabalho remoto contemplou apenas 38% da força de trabalho, excluindo vários grupos profissionais e também as faixas da população com menor conectividade. As regiões urbanas que concentram maior número de deslocamentos para o trabalho concentraram também o maior número de óbitos. E a imunização pelo critério etário privilegiou os territórios mais ricos.

“No mundo pós-COVID, testemunharemos o surgimento de novas geografias de descontentes, reforçadas por disparidades intraurbanas e inter-regionais, principalmente nos países em desenvolvimento”, afirmou o professor da Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Haddad, durante seminário on-line promovido no fim de outubro pela FAPESP e pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP).

O conceito de “geografia de descontentes” baseia-se na ideia de que a maneira como as pessoas vivem e trabalham influencia a maneira como veem o mundo e como pensam sobre os desafios que enfrentam.

“No contexto da pandemia, vimos que a disseminação do coronavírus esteve fortemente relacionada às desigualdades estruturais – sociais e espaciais. Indivíduos de baixa renda, que vivem nas periferias das cidades, tenderam a ser mais afetados. Por exemplo, na área metropolitana de Santiago, no Chile, as taxas de mortalidade nos bairros mais pobres atingiram patamares mais de cinco vezes superiores ao das taxas verificadas nos bairros mais ricos”, informou Haddad com base em uma pesquisa de 18 meses conduzida no Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP (Nereus).

De modo geral, segundo o pesquisador, a pandemia teve efeitos mais intensos nas famílias pobres das áreas metropolitanas do Sul Global, afetando fortemente os bairros densamente povoados, intensivos em mão de obra, com grande ocorrência de trabalho informal e pouca presença do Estado. “Estudos de impactos no Brasil, Angola, Colômbia e Marrocos, realizados no Nereus, mostraram que as principais perdas se concentraram nas regiões que mais contribuem para o Produto Interno Bruto [PIB] desses países, que coincidem com as áreas urbanas mais densamente povoadas e fortemente relacionadas com a economia de aglomeração”, disse.

“Outro ponto importante foi o papel das lideranças. Aqui no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro rejeitou publicamente o risco associado à pandemia e posicionou-se, assim como o então presidente norte-americano Donald Trump, contra métodos preconizados pela Organização Mundial de Saúde [OMS], como o distanciamento social e o uso de máscaras. Ainda assim, durante um bom tempo, grande parte das sociedades pareceu ignorar o perigo e apoiar os dois presidentes. A questão-chave é como os países absorvem as informações, adaptando-as às suas realidades, para combater a pandemia de forma mais eficaz. Nesse sentido, o papel dos líderes é muito importante”, enfatizou Haddad, que é professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA-USP) e presidente da Regional Science Association International (RSAI).

Desafios de mobilidade

O impacto da pandemia no setor de transportes foi o tema abordado por Ciro Biderman, professor dos programas de Graduação e Pós-Graduação em Administração Pública e Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp).

“Em função da crise sanitária, o transporte público por ônibus na cidade de São Paulo teve uma redução brutal de demanda – da ordem de 50%. E o sistema, que já vivia uma situação instável no período pré-pandemia, acabou estourado”, disse.

Discorrendo sobre essa instabilidade anterior, o pesquisador, que foi chefe de gabinete da São Paulo Transporte S/A (SP Trans) entre 2013 e 2015, informou que, até 2013, as tarifas de ônibus aumentavam sistematicamente acima da inflação. As manifestações contra a majoração das tarifas, ocorridas naquele ano, impediram, em certa medida, que isso continuasse acontecendo, o que aumentou a pressão sobre o sistema. “Além disso, surgiu um fenômeno novo, que foi a emergência do transporte por aplicativo. No transporte por ônibus, as viagens curtas subsidiam, na prática, as viagens longas. E a adoção do transporte por aplicativo fez cair exatamente a demanda por viagens curtas”, explicou.

O recuo relativo da pandemia já possibilitou que a demanda por ônibus subisse a 75% do nível pré-pandemia. Mas o futuro do sistema segue incerto. “Precisamos evoluir para um novo paradigma de mobilidade, com a separação entre tecnologia e operação; a incorporação dos avanços tecnológicos à operação, monitoramento, planejamento e comunicação; a criação de ônibus sob demanda, reduzindo o tempo de espera e a incerteza sobre quando o ônibus vai chegar; e a integração do transporte público com o transporte por aplicativos”, sublinhou Biderman.

Raquel Rolnik, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) e coordenadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), esmiuçou em sua fala como e por que a pandemia afetou de forma distinta os diferentes territórios. E contestou a resposta simplista que associa estritamente à pobreza a maior incidência de casos e óbitos.

“A primeira coisa que apareceu nos debates públicos foi a ideia de que ‘onde tem favela tem COVID’. Essa ideia dialoga com o reconhecimento das desigualdades, das condições precárias vividas por grandes parcelas da população, mas não se verifica na prática. Já vimos esse tipo de explicação em outros momentos da história e ela esconde uma espécie de criminalização de certas formas de morar que, no pós-pandemia, justificaria a demolição de determinados espaços”, disse.

Segundo a pesquisadora, a correlação mais clara mostrada pelas pesquisas foi com a mobilidade urbana. Áreas que concentram o maior número de saídas para o trabalho foram também as que concentraram o maior número de óbitos. E isso foi ainda reforçado pelo tempo de exposição no transporte coletivo, afetando os segmentos da população que precisam fazer os maiores deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego.

“O ‘fique em casa’ não pôde contemplar a maior parte dos trabalhadores. Só um percentual pequeno da força de trabalho da cidade tinha um tipo de ocupação que lhe permitia trabalhar de casa. Além do fato de a conexão com a internet ser absolutamente diferenciada para os diversos grupos sociais”, afirmou.

Outra pesquisa citada por Rolnik mostrou que, na escala dos bairros, também foram afetadas as áreas que apresentam maiores aglomerações e maiores circulações. Nessa mesma pesquisa, constatou-se que a máscara, que recebeu uma enorme adesão no município de São Paulo, também não era usada no comércio local, como se o comércio local fosse uma espécie de extensão do espaço do lar – o que é um fenômeno bastante conhecido nas periferias.

Desigualdade tecnológica

A última palestra foi proferida por Gabriel Poli de Figueiredo, doutorando na FAU-USP e pesquisador do INCT Internet do Futuro para Cidades Inteligentes. Ele abordou o tema “cidades inteligentes e tecnologia nas cidades pós-pandemia”.

“Existe uma pretensa neutralidade da tecnologia. Isso aparece muito no discurso sobre cidades inteligentes. Sendo que, ao contrário, cada escolha tecnológica pode apresentar um viés de classe, raça ou gênero”, argumentou Figueiredo.

O pesquisador mostrou que existem conflitos que não podem ser resolvidos de maneira racional, sentando-se ao redor de uma mesa. “Há conflitos irreconciliáveis, posições tão opostas que é impossível chegar a um consenso. Um modelo genérico e pretensamente universal, como o das cidades inteligentes, é muito difícil que dê conta de realidades tão complexas.”

Conforme Figueiredo, no contexto da pandemia, houve grandes expectativas em relação ao potencial da tecnologia. “Expectativas em relação ao trabalho remoto, à redução dos deslocamentos, de que tudo poderia ser entregue imediatamente e que haveria uma explosão no tipo de serviços oferecidos por via digital. Mas o que de fato aconteceu? Mais de 70% das pessoas ocupadas nas classes A e B puderam aderir ao trabalho doméstico. Porém, nas classes C, D e E, a adesão não passou de 28%. Também houve uma grande disparidade em relação ao tipo de dispositivo utilizado para a realização do trabalho remoto. Enquanto 77% das pessoas ocupadas nas classes A e B utilizaram o computador, laptop, notebook, nas classes D e E as pessoas tiveram que recorrer ao celular”, apontou.

A síntese das quatro apresentações é que, se a ideia de pós-pandemia parece apontar para o futuro, o que se verifica de fato é a persistência do passado – um passado de desigualdades que a COVID acentuou, em vez de arrefecer.

O seminário “As cidades pós-pandemia” foi mediado por Horácio Forjaz, gerente de Relações Institucionais da FAPESP. E teve a participação da deputada estadual Carla Morando, líder do PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo. O evento on-line integra o Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação 2021 e pode ser assistido na íntegra pelo YouTube.
 


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Com 1 terabyte em arquivos compartilhados pela CPI da Covid, MP de São Paulo estuda ampliar força-tarefa que investiga Prevent Senior e abrir novas frentes a partir dos achados da comissão, OESP

 Os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL), presidente, vice-presidente e relator da CPI da Covid, e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) entregaram nesta quarta-feira, 10, ao Ministério Público de São Paulo cópia do relatório final aprovado pela comissão parlamentar. O material deve subsidiar as investigações sobre a conduta da Prevent Senior na pandemia.

Os parlamentares estiverem na sede do MP, na região central da capital paulista, onde se reuniram com o procurador-geral de Justiça do Estado, Mário Sarrubbo, e com os promotores responsáveis pela investigação que atinge a operadora de planos de saúde nas esferas cível e criminal. 

Ao encerrar os trabalhos no mês passado, a CPI da Covid sugeriu o  indiciamento de oito médicos da Prevent Senior, do diretor-executivo Pedro Benedito Batista Júnior e dos donos da empresa, os irmãos Fernando e Eduardo Parillo. Os crimes imputados são tentativa de homicídio, perigo para a vida ou saúde de terceiros, falsidade ideológica,  omissão de notificação de doença e crime contra a humanidade.

Parte do material levantado pela comissão parlamentar, responsável por revelar as primeiras suspeitas de irregularidades envolvendo a Prevent Senior, começou a ser compartilhado com o Ministério Público ainda em setembro, quando Sarrubbo instituiu uma força-tarefa para investigar se a operadora deve ser responsabilizada por tratar pacientes com remédios ineficazes contra a covid-19, pressionar médicos a prescreverem esses medicamentos e ocultar mortes de um estudo interno sobre o ‘kit covid’. Agora, o MP tem em mãos a íntegra dos documentos obtidos pelo Senado Federal, que somam mais de 1 terabyte em arquivos.

Senadores da CPI da Covid estiveram nesta quarta-feira, 20, no Ministério Público de São Paulo para entregar relatório final da comissão. Foto: Estadão

O conteúdo relacionado ao caso Prevent Senior foi distribuído à força-tarefa que investiga a empresa, enquanto outras possíveis linhas de investigação serão analisadas pelo gabinete do procurador-geral da Justiça. Sarrubbo também estuda reforçar o grupo de trabalho que se debruça sobre a conduta da operadora de planos de saúde.

“A partir desses subsídios a ideia é que a investigação avance”, disse o chefe do MP paulista. Ele também afirmou que recebeu ‘informações estarrecedoras’ da CPI da Covid.

Entre as possíveis novas frentes de investigação, estão sendo avaliadas, por sugestão dos senadores, a abertura de apurações sobre o FIB Bank, que tem sede na capital paulista e foi usado como garantidor do contrato de compra da vacina indiana Covaxin.

Os senadores estão na capital paulista para cumprir uma agenda robusta que também inclui visita, na tarde de hoje, à Câmara Municipal de São Paulo, onde os vereadores criaram a própria comissão parlamentar para apurar o caso Prevent Senior.

Na esfera crível, o Ministério Público de São Paulo sugeriu à Prevent Senior um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que proíbe o uso off-label do kit-covid. O acordo foi assinado no último dia 22. Na avaliação de Sarrubbo, em uma primeira análise, os documentos compartilhados pela CPI da Covid não devem comprometer o termo.

Na seara criminal, a investigação da força-tarefa do MP está na fase de colheita de depoimentos. Os procuradores ouvem médicos, pacientes e familiares de vítimas do novo coronavírus. O interrogatório dos dirigentes da Prevent Senior deve ser marcado na fase final da investigação, quando os membros do MP terão mais subsídios para questioná-los sobre os achados do inquérito.

Deserto do Atacama vira cemitério tóxico da moda descartável, OESP

 Paula Bustamante, AFP, O Estado de S.Paulo

10 de novembro de 2021 | 12h23

A vestimenta desejada, o tamanho ideal e a marca sonhada: não é uma loja grande nem um guarda-roupa generoso, mas o deserto do Atacama no Chile se transformou em um lixão clandestino de roupas compradas e vestidas nos Estados UnidosEuropa e Ásia.

Colinas coloridas que crescem com as cerca de 59 mil toneladas de roupas que entram por ano na zona franca do porto de Iquique, a 1.800 quilômetros de Santiago.

PUBLICIDADE

Deserto do Atacama roupas chile lixao de roupas
Área do deserto do Atacama, em Alto Hospício, no norte do Chile, transformou-se em lixão de roupas usadas. Foto: MARTIN BERNETTI/ AFP

Deserto do Atacama Chile lixao de roupas
Mulher seleciona roupas usadas entre as toneladas descartadas no deserto do Atacama. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

O consumo excessivo e fugaz de roupas, com redes capazes de liberar mais de 50 temporadas de novos produtos por ano, tem feito com que o desperdício têxtil cresça exponencialmente no mundo, que leva cerca de 200 anos para se desintegrar.

São roupas feitas na China ou Bangladesh e compradas em Berlim ou Los Angeles, antes de serem jogadas fora. Pelo menos 39 mil toneladas acabam como lixo no deserto na área de Alto Hospício, no norte do Chile, um dos destinos finais para roupas "de segunda mão" ou de temporadas anteriores de cadeias de fast fashion.

Chile Deserto do atacama roupas
Cerca de 59 mil toneladas de roupas entram por ano pela zona franca do porto de Iquique, no Chile. Foto: MARTIN BERNETTI/ AFP

Deserto do Atacama Roupas Chile
Em meio a pilha de roupas descartadas no deserto do Atacama, mulher confere estado das peças antes de escolhê-las. Foto: MARTIN BERNETTI/ AFP

O Chile é o maior importador de roupas usadas da América Latina. Há quase 40 anos existe um sólido comércio de "roupas americanas" em lojas de todo o país, que se abastecem com fardos comprados pela zona franca do norte do país dos Estados Unidos, Canadá, Europa e Ásia.

"Essas roupas vêm de todas as partes do mundo", explica Alex Carreño, um ex-trabalhador da zona de importação do porto de Iquique, que mora próximo a um lixão de roupas.

Deserto do Atacama roupas
Chile é o maior importador de roupas usadas da América Latina; parte do 'excedente' acaba no deserto do Atacama. Foto: MARTIN BERNETTI/ AFP

Deserto do Atacama roupas chile
Roupas usadas revendidas e descartadas no Chile vem dos Estados Unidos, Canadá, Europa e Ásia. Foto: MARTIN BERNETTI/ AFP

Nesta zona de importadores e taxas preferenciais, os comerciantes do resto do país escolhem as peças para as suas lojas e aquelas que sobram não podem passar pela alfândega desta região de pouco mais de 300 mil habitantes.

"O que não foi vendido para Santiago ou foi para outros países (como BolíviaPeru e Paraguai para contrabando), fica aqui porque é uma zona franca", afirma Carreño.

Deserto do Atacama Chile
Imagem aérea mostra lixão de roupas descartadas no deserto do Atacama, em Alto Hospicio, no norte do Chile. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Deserto do Atacama Chile
Catadora mostra roupa encontrada entre as pilhas de descarte. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Na paisagem desértica há manchas de todo tipo de lixo, muitas delas de roupas, bolsas e sapatos. Ironicamente, botas de chuva ou sky se destacam em uma das áreas mais secas do mundo.

Uma senhora, que prefere não revelar o nome, tem metade do corpo afundado em uma pilha de roupas e remexe em busca das melhores possíveis para vender em seu bairro.

Deserto do Atacama Chile
Mulheres e crianças sentam-se em pilha de roupas no lixão enquanto procuram modelos entre os descartados. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Em outro lugar, Sofía e Jenny, duas jovens venezuelanas que cruzaram a fronteira entre a Bolívia e o Chile há poucos dias, a cerca de 350 km do aterro, escolhem "coisas para o frio" enquanto seus bebês engatinham nas colinas têxteis: "Viemos procurar roupas porque a gente realmente não tem, jogamos tudo fora quando viemos mochilando".

Moda tóxica

Reportagens sobre a indústria têxtil expuseram o alto custo do fast fashion, com trabalhadores mal remunerados, denúncias de emprego infantil e condições deploráveis para a produção em massa.

A isso se somam hoje cifras devastadoras sobre seu imenso impacto ambiental, comparável ao da indústria do petróleo.

De acordo com estudo da ONU de 2019, a produção de roupas no mundo dobrou entre 2000 e 2014, o que mostra que se trata de uma indústria "responsável por 20% do total de desperdício de água globalmente".

Deserto do Atacama Chile
Homens trabalham em fábrica de reciclagem que usa roupas descartadas no deserto do Atacama. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Deserto do Atacama chile roupas
Trabalhador de empresa de reciclagem mostra roupa de marca encontrada entre material retirado do deserto. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

O mesmo relatório indica que apenas a produção de jeans necessita de 7.500 litros de água, destaca que a fabricação de roupas e calçados gera 8% dos gases de efeito estufa, e que "a cada segundo é enterrada ou queimada uma quantidade de tecidos equivalente a um caminhão de lixo".

Nos lixões têxteis deste deserto chileno, é possível topar com uma bandeira dos Estados Unidos, ver um "muro" de calças com etiquetas e até pisar numa coleção de suéteres com motivos natalinos tão populares nas festas de fim de ano em Londres ou Nova York.

"O problema é que a roupa não é biodegradável e contém produtos químicos, por isso não é aceita nos aterros municipais", diz à France-Press Franklin Zepeda, fundador da EcoFibra, empresa de economia circular com unidade produtiva no Alto Hospício de painéis com isolantes térmicos feitos com as roupas descartadas.

Deserto do Atacama Chile roupas
Homens trabalham em fábrica que recicla roupas usadas descartadas no deserto do Atacama para a fabricação de painéis de isolamento térmico para habitações sociais. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Deserto do Atacama roupas
Roupas descartadas no deserto levam cerca de 200 anos para se desintegrar. Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

No subsolo há mais roupas cobertas com a ajuda de caminhões municipais, na tentativa de evitar incêndios causados e muito tóxicos pelos produtos químicos e tecidos sintéticos.

Mas roupas enterradas ou à vista também liberam poluentes no ar e nos lençóis freáticos típicos do ecossistema do deserto. A moda é tão tóxica quanto pneus ou plásticos.