quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Mortes: Gênio das palavras, usou a crônica para fotografar São Paulo, FSP

SÃO PAULO

Pouco mais de três meses após a morte do radialista José Paulo de Andrade, foi a vez de Luiz Carlos Gertel, seu companheiro no dial por mais de 40 anos.

Em 1978, Gertel trocou a Folha da Tarde pela Rádio Bandeirantes AM e deixou a emissora em abril de 2015.

Entre as reportagens e os boletins sobre trânsito, estradas e transporte público, tornou-se um cronista da cidade. Marcou época em programas como “O Pulo do Gato”, “Primeira Hora” e “Jornal Gente”.

Ele saboreava as palavras para retratar o cotidiano de São Paulo. Gertel foi um mestre, que ensinou o bom jornalismo a várias gerações.

Luiz Carlos Gertel (1947-2020)
Luiz Carlos Gertel (1947-2020) - Arquivo pessoal

Nascido em São Paulo, era filho de Noé Gertel, jornalista, militante político e um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil, e da tecelã e militante comunista Raquel Gertel.

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Nos momentos de descanso do microfone, não havia lugar melhor do que a sua casa. Gertel era avesso a festas e badalações.

“Ele tinha um humor maravilhoso e uma ironia elegante. Suas mensagens no WhatsApp aos amigos eram divertidas. O Gertel era um homem simples, humilde, gentil e generoso”, diz a esposa, a jornalista Vera Lucia Fiordoliva Gertel, 70.

Eles se conheceram na Rádio Bandeirantes. Eram amigos do coração e se admiravam. A paixão surgiu após o primeiro convite para um chope. Eles ficaram 35 anos casados.

Apesar de pacato, Gertel gostava do colorido. Seu bom gosto o fazia transitar da Bossa Nova até Beatles. “Sabiá”, de Tom Jobim, era uma das canções preferidas.

Uma queda foi o aviso de que a partida estava próxima. Foram 15 dias internados na UTI até o estado de saúde debilitar gradativamente.

Luiz Carlos Gertel morreu aos 74 anos, no dia 2 de novembro. Deixa a esposa Vera, o filho João Marcelo, a enteada Maria Rita, a nora Gabriela e o neto Francisco​; e os também filhos, os cães Joca e Maricota e um coelho —​Gertel era apaixonado por animais.

“Os meses da quarentena foram os melhores da nossa vida. A gente se amou mais, conversou mais. Acho que foi uma preparação. Eu me sinto muito abençoada”, diz Vera. 

Inovações ferroviárias, com eficiência energética Por Vicente Abate* ABIFER

 O setor ferroviário é pródigo em exemplos de pró-atividade ambiental. É, assim, totalmente amigável ao meio ambiente. As emissões de gases e particulados provenientes de seus sistemas situam-se entre as mais baixas dentre os vários modos de transporte.


As concessionárias ferroviárias de carga e de passageiros utilizam-se de tecnologia de ponta, nos veículos, em suas vias e nos centros de controle operacional, para atingirem cada vez mais eficiência energética, que lhes garanta a eficácia no transporte, com maior escala de volume, aliando produtividade e competitividade.

Por sua vez, a indústria ferroviária, global e nacional, empreende todos os seus esforços para oferecer às concessionárias equipamentos e sistemas projetados e fabricados com a mais elevada e atualizada tecnologia. Vamos aos diversos exemplos.

Na área de passageiros, os carros de metrô, de superfície, monotrilho e VLT contam com sistemas de tração elétrica, gerada usualmente através de motores assíncronos de corrente alternada, cuja energia é obtida pela regeneração vinda do sistema de frenagem do veículo, proporcionando significativa redução no consumo de energia, principal item de custo das operadoras. Outros tipos de veículos, com diferentes sistemas de tração, como a pneumática no caso dos aeromóveis ou a diesel-hidráulica, que pode utilizar até 100% de biodiesel, no caso de VLT, são também classificados como não poluentes. Já a fronteira tecnológica, na questão da tração, é a utilização do hidrogênio em Trens Regionais e VLT, em uso corrente na Europa.

A sinalização da via permanente, além de conferir a segurança essencial no transporte de carga e de passageiros, é um elemento energético positivo, do ponto de vista de seu resultado operacional, proporcionando operações em carrossel, que reduzem o consumo de energia do sistema.
 

“…o setor ferroviário é um aliado do meio ambiente e pronto para contribuir com as políticas globais de redução significativa e permanente de emissões de poluentes no planeta.”
 

A digitalização no setor é outro tema importante que leva à eficiência energética, com tecnologia embarcada nos trens de passageiros, nas locomotivas e nas estações.

Na área de carga, vários também são os exemplos. Locomotivas 100% elétricas movidas a bateria, que são carregadas pelo próprio freio dinâmico da locomotiva e já se encontram em fase final de testes nos EUA. Um exemplo nacional é a locomotiva 100% elétrica para uso em pátios, fabricada aqui, e já em teste no cliente. As locomotivas atuais, diesel-elétricas, também contribuem com a redução do consumo de combustível, ao serem equipadas com motores de corrente alternada, que permitem a adição de biodiesel e de gás natural liquefeito no diesel convencional.

Os vagões de carga também entraram, definitivamente, na era do avanço tecnológico. São projetados utilizando-se técnicas avançadas de sofisticados programas, como o Vampire, em que são verificadas as condições de interação da estrutura do vagão com os truques e destes com o trilho, numa avaliação que leva em conta a situação real da via permanente. Até testes em túnel de vento têm sido utilizados, para verificar a estabilidade do vagão com elevado centro de gravidade, além de questões aerodinâmicas para diminuir a resistência ao ar. Todas estas iniciativas promovem a redução do consumo de combustível, reduzem o desgaste de componentes e aumentam a carga útil do vagão, principalmente pela redução de seu peso. A redução do peso é fator também importante no retorno do vagão vazio, que consome menos combustível para ser tracionado. Muito embora hoje, cada vez mais, as concessionárias estão conseguindo transportar os vagões carregados nos dois sentidos, também uma forma de aumentar a eficiência energética.

Podemos considerar, em suma, que o setor ferroviário é um aliado do meio ambiente e pronto para contribuir com as políticas globais de redução significativa e permanente de emissões de poluentes no planeta.


 

*Presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER).


domingo, 8 de novembro de 2020

Drauzio Varella - rotina de ir para o escritório que amofinava seus dias agora é um sonho, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

Você quer sair, encontrar os amigos, jantar fora, beber no bar, viajar para Minas. A rotina de ir para o escritório que amofinava seus dias agora é um sonho, José.

Nós sabíamos que seria difícil manter o afastamento social por muito tempo. Com 15 milhões de pessoas aglomeradas em moradias precárias nas favelas, 46% das quais sem água encanada, como ficar em isolamento?

Todos concordaram que os serviços essenciais não podiam parar. Mas eles são mantidos por quem? Pelos que trabalham em mercados, padarias, farmácias e portarias de prédios, pelos entregadores e seguranças e pelos informais encarregados dos pequenos serviços. Era evidente que a mobilidade obrigatória dos menos desfavorecidos levaria o vírus para a periferia das cidades.

O preço pago pelos que vivem nos bairros distantes tem sido desproporcional. A prevalência da infecção pelo vírus na pobreza da zona sul de São Paulo é quase quatro vezes maior do que na zona centro-oeste, de poder aquisitivo mais alto. Em todas as cidades brasileiras, a mortalidade atingiu níveis mais elevados entre pobres e pretos, como acontece com doenças de caráter epidêmico, desde a Antiguidade.

Quando vejo os mais jovens da classe média alta aglomerados nos bares e restaurantes, sem máscara, sinto um misto de decepção e de desprezo.

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Eles se comportam como se o vírus não existisse ou como se não fosse problema deles. Bancam os corajosos para impressionar os amigos, ridicularizam os mais cuidadosos, mas, ao surgir a primeira febrícula, correm para os melhores hospitais da cidade, mortos de medo de morrer, sobrecarregando e pondo em risco os profissionais de saúde que cuidarão deles.

Ilustração de uma esquina movimentada. A morte está andando com sua foice no meio de uma multidão de esqueletos vestidos, alguns estão com copos nas mãos e outros gesticulam
Líbero/Folhapress

Isso quando não levam o vírus para os pais, para crianças e pessoas vulneráveis da família. Daria tudo para saber o que lhes passa pela consciência quando um ente querido infectado por eles vai parar na UTI.

Quanto à empregada da casa que contraiu o vírus do patrãozinho, o remorso do transmissor é provavelmente nenhum. Ela e os parentes que se arranjem. Não é para isso que existe o SUS?

A exposição irresponsável ao vírus é, antes de tudo, um ato de egocentrismo covarde. O temerário se arrisca não por ser destemido e estar disposto a arcar com as consequências de seus atos, mas por acreditar que os mais jovens serão poupados. Se não se preocupa nem sequer com a própria família, vamos pretender que tenha consideração pela comunidade? Que venha a entender que, assim agindo, participa ativamente da disseminação da epidemia?

Embora alguns médicos ainda acreditem que um antimalárico ou um prosaico vermífugo administrados nas fases iniciais curem a Covid, a fé é de pouca valia nesta hora. Achar que a vacina nos salvará assim que disponível é pensamento mágico, o caminho da imunização em larga escala será longo, penoso e cheio de incertezas. A tal imunidade de rebanho antes da existência de uma ou mais vacinas eficazes não passa de miragem.

A conclusão, José, é que conviveremos com esse coronavírus por muitos meses, senão por anos. Não é pessimismo, olhe o que ocorre na Europa, na Ásia e, especialmente nos Estados Unidos, o exemplo máximo de como a cegueira estúpida de um dirigente pode causar uma tragédia de proporções inimagináveis. Ou é por acaso que os Estados Unidos, o país mais rico do mundo, ostentam o título de campeões mundiais de mortalidade?

Sejamos sensatos, meu amigo, é tarde para chorarmos o leite derramado. De agora em diante temos de concentrar nossos esforços em reduzir a velocidade de disseminação da epidemia. No decorrer deste ano aprendemos que o vírus é transmitido por via respiratória, preferencialmente em lugares fechados, quando as pessoas se aproximam umas das outras. Aprendemos que a higiene das mãos e o uso de máscara são medidas protetoras. Não é pouco, já sabemos o essencial.

Nosso desafio é a adoção de medidas para evitar aglomerações e convencer a população a colocar máscara ao sair de casa. Essa deve ser a ênfase das campanhas de saúde pública e do exemplo que cada um de nós deve dar às crianças, aos que não estudaram e aos ignorantes que frequentaram as melhores escolas.

O uso de máscara é medida simples, protetora, acessível a todas as camadas da sociedade, mas enfrenta o problema da mudança de hábitos, dificuldade maior do comportamento humano.

Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

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