domingo, 8 de novembro de 2020

Elio Gaspari Invasão à rede do STJ mostra que os sistemas são geridos de forma leviana, FSP

 Às 15h da última terça (3), o sistema de computadores do Superior Tribunal de Justiça foi invadido, e os trabalhos da corte só voltarão ao normal nesta semana.

O episódio mostra que os computadores da Viúva continuam sendo administrados de forma leviana. No mundo das altas competências, no século passado o governo brasileiro já pagou o mico de ter um sistema de criptografia das embaixadas protegido por equipamentos de uma fábrica suíça que tinha um sócio oculto, a CIA americana. No governo Dilma Rousseff, descobriu-se que algumas de suas comunicações também estavam grampeadas.

Sede do STJ (Supremo Tribunal da Justiça), em Brasília
Sede do STJ (Supremo Tribunal da Justiça), em Brasília - Alan Marques/Folhapress

Não se sabe o propósito dos invasores do STJ, pois achar que o tribunal tem meios ou recursos para pagar um resgate não faz sentido. Sabe-se, contudo, que a rede oficial de informática está contaminada por dois vícios elementares, que nada tem a ver com altas competências. É pura incompetência. Em muitas áreas, quando muda o chefão, ele troca a equipe de tecnologia.

Mesmo em áreas onde isso nem sempre acontece, os hierarcas usam seus endereços da rede oficial para tratar de assuntos pessoais. Nos EUA, a secretária de Estado Hillary Clinton pagou caro por isso. Assuntos oficiais e comunicações pessoais são coisas diversas. Se essa banalidade não é respeitada, só se pode esperar que o sistema esteja bichado em outras trilhas.

Essa incompetência não acontece por causa da herança escravocrata. Ela é produto de uma indústria da boquinha em quase tudo que tem a ver com informática. Prova disso é que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação armou uma licitação viciada de R$ 3 bilhões há mais de um ano, foi apanhado, cancelou a maracutaia, mas até hoje não explicou como o edital foi concebido.

Na compra de equipamentos pode-se pegar o jabuti quando ele quer mandar 117 laptops para cada um dos 255 alunos de uma escola. Quando as contratações vão para escolha de operadores, manutenção e até mesmo programação, entra-se num mundo complexo, atacado por amigos que têm conexões, mas não têm competência.

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No caso da invasão das máquinas do STJ, surgiu um perigoso efeito colateral. Com um presidente que não confia nas urnas eletrônicas, mas até hoje não provou que tenha ocorrido fraude na sua eleição, estende-se o tapete vermelho para que terraplanistas comecem a alimentar conspirações em relação ao pleito de 2022. O STJ ainda estava fora do ar quando o capitão Bolsonaro voltou a defender o voto impresso. Logo ele, que tratava assuntos de Estado com o ministro Sergio Moro na sua conta privada.

Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

sábado, 7 de novembro de 2020

JOSÉ DIAS Eleições municipais: o povo pode mais?, FSP

 As eleições municipais representam um momento importantíssimo no processo de consolidação da democracia, oportunidade em que cidadãos e cidadãs disputam espaços no executivo e legislativo, ao mesmo tempo em que exercem o direito de votar e ser votado, elegendo seus representantes.

É um momento em que pronunciamos e escutamos vários slogans, entre eles “o povo pode mais!”.

Mas, nem sempre é o povo que pode mais. A estrutura de dominação que há séculos desenvolve formas de entrar ou manter-se no poder por meio de grupos políticos tradicionais consegue planejar estratégias a partir da realidade cultural de dependência econômica, formação despolitizada, para manipular grande parte da sociedade, de tal modo que o povo pronuncie o slogan “o povo pode mais”, mas não consiga se apropriar desse poder.

Infelizmente o que acontece na maioria dos municípios é o fortalecimento de um grupo político que já estava no poder ou outro que entrará a partir do referendo do povo, e ficará por 4 anos sem criar nenhum espaço de participação da sociedade, de tal modo que o slogan “o povo pode mais” venha a se configurar como uma estratégia de gestão.

Muitos outros slogans são trabalhados de tal modo que o próprio povo termina assumindo o desenvolvimento das campanhas, se envolvendo ao máximo a ponto de gerar desavença com amigos e até com familiares, na defesa dessa ou daquela cor, pouco se importando com a essência das propostas e conduta dos candidatos.

Devido à disseminação da cultura tradicional de que cabe aos eleitos fazer para o povo, torna-se muito difícil mobilizar a população para criar espaços de acompanhamento da ação dos eleitos, de modo a assegurar que o povo que elegeu seus representantes possa assumir as rédeas do poder.

A história tem demonstrado que só votar não basta. A população precisa se articular para ir além. Exercendo apenas o direito de votar o povo estará simplesmente tirando o poder que possui e transferindo-o para um líder ou um grupo político que, na maioria dos casos, exercerá suas atribuições de maneira dominadora, excludente. Portanto, muito se precisa avançar para se conquistar espaços capazes de colocar em prática o mote “o povo pode mais”.

É possível analisar quais os candidatos que, dada a sua trajetória de vida e coerência, apresentam mais indicação de que,em caso eleição ou reeleição, criarão as condições para que o povo realmente possa mais.

O momento das eleições é importante, portanto, ao invés de ficar ligado só nas cores, promovendo discórdia com amigos e até familiares ao defender seus partidos, procurem conhecer o plano de governo e analisar a coerência dos candidatos, de modo a encontrar, em suas trajetórias de vida, indícios de que eles farão governos participativos, de conformidade com as condições de cada município para o exercício do povo no poder.

Dialogar com os amigos, com os vizinhos sobre a importância da gestão do poder após o voto pode ser um caminho. Será uma oportunidade para conquistas importantes na implementação e gestão das políticas públicas,viabilizando sonhos e necessidades da população, a partir dos seus reais interesses e condições de cada município.

“O povo pode mais” será possível a depender do nosso comportamento no processo das eleições.

Para grande parte dos governantes interessa apenas o voto e seus próprios interesses, mas aos eleitores deve interessar muito mais: o desenvolvimento por meio da aplicação correta dos recursos em políticas públicas eficientes para atender as necessidades da população

O histórico da gestão pública evidencia que isso só será possível com participação popular, portanto, depende de nós.

É com essa abordagem de entendimento que o Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS)desenvolve suas atividades ao logo de sua trajetória de atuação, acreditando que juntos se pode mais, juntos se consegue enxergar o que isolados não é possível.

O trabalho conjuga atividades de formação e apoio às famílias para o desenvolvimento de tecnologias sociais para a convivência com as adversidades do clima semiárido, no sertão da Paraíba. São iniciativas muito importantes, mas sua escalabilidade depende das políticas públicas.

Para a continuidade e ampliação desse trabalho, necessita-se da colaboração de pessoas físicas e jurídicas. Contamos com seu apoio.Visiteo site https://cepfs.org.br/, conheça a causa.

Torne-se um doador, abraçando uma causa que é de todos, acesse a página de doação no site https://cepfs.org.br/doar-para-a-ong-cepfs/ e faça uma doação.