sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Hélio Schwartsman - Largada eleitoral, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

campanha municipal está para começar. O sinal inequívoco são as pesquisas eleitorais, que já vão dando as caras. Daqui a pouco vêm a propaganda no rádio e na TV e, finalmente, as urnas.

Este pleito é importante não só porque selecionará os prefeitos e vereadores dos 5.568 municípios do país mas também porque indicará quanto resta do sentimento antiestablishment que foi decisivo para a eleição de Bolsonaro dois anos atrás.

Na maioria das cidades, são questões locais que determinam os resultados. Em algumas, contudo, ocorre uma espécie de nacionalização, e as diferenças ideológicas que dão os contornos da disputa pelo poder no país acabam, se não definindo o pleito, exercendo influência considerável.

O fenômeno se dá em geral nas megacidades, que é onde partidos e outras forças políticas tendem a fazer seus principais investimentos. Não é coincidência que Bolsonaro, que prometia manter-se afastado das corridas municipais, apoie mais abertamente candidatos em São Paulo e no Rio.

E como interpretar a vantagem de nove pontos que, segundo o Datafolha, Celso Russomanno, o homem de Bolsonaro em São Paulo, abre sobre Bruno Covas? É cedo para dizer.

Convencionou-se afirmar que a pesquisa é o retrato do momento. Verdade, mas seria importante acrescentar que o processo pelo qual o eleitor forma seu voto é tudo menos linear. A melhor explicação para o vaivém das pesquisas é que, enquanto o cidadão se informa sobre a disputa (o que ocorre durante a campanha), ele rateia, tergiversa e muda de ideia, mais de uma vez, o que torna as primeiras sondagens pouco informativas.

Mas, se é assim, por que fazê-las com tanta antecedência? Bem, como pesquisas são um dos elementos que as pessoas usam para informar-se, o acúmulo de várias delas acaba sendo o sinal de que chegou a hora de o eleitor pensar seriamente em quem vai votar, o que as tornará mais informativas.

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

As universidades paulistas valem o que custam, Jornal da Unicamp On Line (comemorativa de 10 mil)

 Só com os seus cursos de graduação, as universidade estaduais paulistas USP, Unicamp e Unesp dão um retorno à sociedade maior do que os recursos públicos nelas investidos. Os resultados estão em estudo inédito elaborado por economistas das três instituições com base na análise de salários. O relatório foi apresentado nesta quinta-feira (17).

Na economia, a análise de salários é uma das formas de se medir produtividade. A lógica parte do princípio de que o retorno que o trabalhador traz para seu empregador deve ser pelo menos igual ao seu salário. Assim, com base em salários, é possível analisar a produtividade de profissionais formados em diferentes instituições de ensino ou se debruçar sobre a produtividade de determinado grupo de profissionais em relação aos recursos que foram investidos na sua formação.

“O salário é um indicativo do valor que o profissional gera para a empresa, ou seja, é um meio para acessarmos os níveis de produtividade gerados por eles”, explica Carlos Azzoni, pesquisador da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP), coordenador do estudo. “Características pessoais, características do emprego em que foram alocados e diferença da qualidade de ensino destas instituições ajudam a explicar as diferenças de produtividade destes profissionais”, comenta Azzoni.

No estudo, os cálculos de produtividade foram baseados nos dados mais recentes (2018) da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, que agrega informações sobre os trabalhadores formais no país — como empregados sob regime CLT e servidores da administração pública direta ou indireta, federal, estadual ou municipal. A análise se debruçou, primeiro, na análise salarial dos 138 mil formados pela USP, Unicamp e Unesp de 2005 a 2015 que constam na Rais (de um total de 180 mil egressos no mesmo período). Depois, os pesquisadores compararam esses dados com os 13 milhões de profissionais com nível superior universitário formados em outras instituições do país.

Os resultados revelam que, em 2018, a média da produtividade (ou seja, a média salarial) dos egressos das universidades públicas paulistas foi 62% maior que a média de todos trabalhadores formados em outras instituições de ensino superior do país. Se considerados na análise fatores como idade, gênero, UF de atuação, tipo e setor de atividade e posição de trabalho — para comparar profissionais no mesmo nível de carreira e faixas salariais compatíveis –, a produtividade de egressos das universidades públicas paulistas é em média 24% superior no conjunto de todos os trabalhadores e 30% maior no conjunto de trabalhadores do setor privado. Na prática, no ano analisado, cada egresso das três universidades teve um acréscimo de produtividade anual médio de R$ 27,8 mil em relação aos demais trabalhadores com nível superior.

Considerando que a vida profissional se estende por, em média, 40 anos, e multiplicando-se o acréscimo de produtividade anual pelos cerca de 16 mil formados na graduação das três universidades públicas paulistas a cada ano, os pesquisadores concluíram que a produtividade dos egressos das estaduais paulistas (R$ 12,6 bilhões) é 14,5% maior do que os R$ 10,1 bilhões que representam a soma do orçamento da USP, Unesp e Unicamp.

Vale lembrar: o montante governamental destinado às universidades estaduais paulistas (9,57% do total arrecadado pelo ICMS) dá conta de todas as atividades das universidades ligadas à ensino, pesquisa e extensão. Isso significa que também entraram na conta de gastos com formação de alunos de graduação os dispêndios com, por exemplo, hospitais universitários e museus. Na prática, para cada real de investimento feito pela sociedade paulista nas suas universidades, a sociedade como um todo obtém um retorno de 2,78% ao ano em termos de aumento do produto social.

O estudo traz contribuições importantes para o debate sobre o financiamento público das universidades públicas paulistas ao mostrar — de maneira inédita — o retorno dessas instituições à sociedade em termos de produtividade. Segundo comenta Azzoni, os resultados do relatório se contrapõem à “ideia de que as universidades não geram produto nenhum, e que só geram custos para os cofres públicos”, usada como justificativa para propostas de corte de orçamento destas instituições. Exemplo disso é o projeto de lei 529/20 em trâmite na Assembleia do Estado São Paulo, que propõe uma série de mudanças no gerenciamento de recursos destas instituições — e que, se aprovado, trará impactos enormes para a ciência brasileira.

Confira a íntegra do estudo inédito elaborado pelos economistas Carlos Azzoni, Moisés Vassallo. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Volkswagen irá desembolsar R$ 36 milhões por ter entregado funcionários à ditadura, FSP

SÃO PAULO

Volkswagen do Brasil se comprometeu nesta quarta-feira (23) a destinar R$ 36,3 milhões a ex-funcionários da empresa que foram presos, perseguidos ou torturados durante a ditadura militar (1964-1985).

O pagamento acontece com a conclusão de três inquéritos civis no Ministério Público Federal, no Ministério Público de São Paulo e no Ministério Público do Trabalho.

Fábrica da Volkswagen em São Bernardo, no ABC Paulista - Zanone Fraissat/Folhapress

As investigações iniciadas em 2015 chegaram à conclusão de que a montadora colaborou com o aparato repressivo do regime instalado após o golpe de 1964.

A disponibilização das indenizações foi anunciada pela Promotoria e também pela empresa, após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), um acordo extrajudicial. Os inquéritos incluíram documentos e depoimentos prestados por testemunhas.

Do valor total que a empresa vai pagar, R$ 16,8 milhões serão doados à Associação Henrich Plagge, que congrega os trabalhadores da Volkswagen.

O dinheiro será repartido entre ex-funcionários que foram alvo de perseguições por suas orientações políticas ou também entre sucessores legais daqueles que já morreram.

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Outros R$ 10,5 milhões serão dedicados a projetos que resgatam a memória sobre as violações aos direitos humanos, como o Memorial da Luta por Justiça, desenvolvido pela seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pelo Núcleo de Preservação da Memória Política (NPMP).

Os R$ 4,5 milhões restantes serão destinados à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para o financiamento de novas pesquisas sobre a colaboração de empresas com a ditadura e para a identificação das ossadas de presos políticos encontradas em uma vala clandestina no cemitério de Perus, na capital paulista, em 1990.

Por fim, a Volkswagen obrigou-se a pagar também R$ 9 milhões aos Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos. Segundo nota da Promotoria, os valores devem ser pagos em janeiro.

A Volkswagen também emitiu nota para divulgar o teor do acordo. O texto diz que a "montadora se compromete a doar R$ 36 milhões para iniciativas ligadas à defesa de direitos humanos, investigação de crimes da época e à memória histórica".

"Com este acordo, a Volkswagen quer promover o esclarecimento da verdade sobre as violações dos direitos humanos naquela época", afirma a nota.

“Lamentamos as violações que ocorreram no passado. Para a Volkswagen AG, é importante lidar com responsabilidade com esse capítulo negativo da história do Brasil e promover a transparência”, escreveu Hiltrud Werner, membro do Conselho de Administração da Volkswagen.