sábado, 21 de dezembro de 2019

LEGISLATIVO PAULISTA 'Tenho maturidade para ser prefeito', diz Mamãe Falei, deputado que xingou sindicalistas, FSP

Expulso do DEM e advertido por chamar pares de vagabundos, membro do MBL e youtuber afirma que não é 'moleque bobo xingando todo mundo'

  • 20
SÃO PAULO
A notoriedade obtida com uma sequência de brigas serve para alavancar o deputado estadual Arthur do Val, o youtuber Mamãe Falei, na corrida pela Prefeitura de São Paulo, mas esse comportamento não definirá sua gestão no cargo. 
Assim promete o segundo mais votado da Assembleia Legislativa paulista, num cenário em que o próprio presidente da República é criticado por não abandonar o estilo deputado baixo clero e adequar-se à liturgia do cargo. 
No último dia 4, um empurra-empurra entre deputados começou quando petistas ameaçaram agredir Arthur, que havia chamado sindicalistas presentes na Assembleia 11 vezes de vagabundos —mesmo termo que utilizou contra seus pares em outra ocasião e, por isso, recebeu advertência verbal. 
"Quando você é o chefe do Executivo, a sua postura tem de ser outra. Você tem de ter uma postura às vezes menos combativa e mais flexível", diz Arthur em entrevista à Folha em seu gabinete. 
O deputado estadual Arthur do Val (ex-DEM, sem partido) em seu gabinete na Assembleia Legislativa de São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress
Para viabilizar seu projeto, está em busca de um partido —foi expulso do DEM há um mês. Arthur servirá de laboratório do MBL (Movimento Brasil Livre), grupo do qual faz parte, para candidaturas majoritárias. 
[ x ]
O deputado tem críticas a Bolsonaro e a João Doria (PSDB), mas compartilha de valores da direita. Seu objetivo é enxugar radicalmente o Estado. 
Chamar servidores de vagabundos é compatível com o cargo de deputado estadual? Acho que sim. Eu não xinguei servidores, minha mãe é professora pública, minha tia também, tenho dois avós que trabalharam até morrer como enfermeiros do estado.
O que eu xinguei foram sindicalistas que estavam ali me ameaçando de morte, chamando a mim e às pessoas que votavam sim no projeto [da reforma da Previdência] de nazistas, assassinos. Eu não falo que servidor é tudo vagabundo. Eu olho no cara e falo: "você de óculos aí, você é vagabundo". E eu reafirmo. Sindicalista que se apoia nas costas do trabalhador para ficar sustentando mamata é vagabundo mesmo.
Mas é postura de deputado chamar para a briga? Eu não chamei para a briga. Em nenhum momento falei "vamos sair na porrada". Se eu estou aqui e acredito na política é porque não acredito na barbárie. Meu jeito sempre foi mais combativo, e vou continuar assim. Tomei bastante cuidado. As minhas palavras, por mais que eu pareça ali que eu estou exaltado, usei com muita cautela.
O sr. não estava exaltadoNão. Eu estava dentro da normalidade. Lógico, um pouquinho, mas eu não estava fora de controle.
O sr. tem maturidade política e pessoal para ser prefeito? Sim. Existe um efeito colateral do tipo de comunicação que eu faço, mas é um caminho que eu escolhi. E o trabalho que não é midiático e a gente faz? Que é ter convicção de votar contra um monte de politicagem que acontece aqui na Casa.

Eu não surgi do nada. Não sou um cara que de repente abriu um canal no YouTube e não tinha nada para falar. Fui trabalhar, abri empresa, tive sucesso na iniciativa privada. Então existe, sim, uma maturidade. Não é um moleque bobão xingando todo mundo. É alguém que tem um trabalho sólido e uma conduta condizente com os ideais que prega.
Como prefeito, o sr. vai negociar com sindicalistas? Ou vai dizer que é vagabundo? Quando você é o chefe do Executivo, a sua postura tem de ser outra. Você tem de ter uma postura às vezes menos combativa e mais flexível.
O prefeito Mamãe Falei não terá a mesma atitude do que o deputado Mamãe Falei, então? Com certeza. São papéis diferentes. É a mesma pessoa, sou o mesmo cara, tenho as mesmas convicções. Agora, o jeito de me comportar é diferente.
É possível fazer muitas críticas aos sindicatos e à maneira como operam. Mas o sr. não entende que eles são legítimos? Depende. A partir do momento que tem financiamento compulsório e a unicidade sindical obrigando que você se filie somente àquele sindicato, então você não tem concorrência, não pode dizer que aquilo é legítimo.
Mas a lei é assim. A culpa é deles? Opa, claro que é. A lei foi feita desse jeito por causa de pressão de corporações como sindicatos. Eu não estou falando que sindicato não deveria existir. Deveria existir nos moldes espontâneos.
Quais são os seus principais feitos aqui na Casa? Como eu realizo meu trabalho aqui? Sendo o deputado mais barato da Casa. Eu tenho apenas 6 dos 32 funcionários que eu posso ter, abri mão de todos os benefícios. Isso manda um recado para todos os outros parlamentares e para a sociedade. 
E eu barrei os principais projetos que desrespeitam o dinheiro público. Barrei sozinho o projeto que aumentava em R$ 4.000 o benefício para os deputados alugarem carro aqui. O projeto estava quase passado, corri na Comissão de Finanças, fiz um discurso de três minutos e pouco que finalizou a sessão, viralizou e a partir de então os deputados ficaram constrangidos em votar.
Por que o sr. não declarou nada de verba de gabinete? O sr. não comprou nem uma folha de sulfite em nove meses? Não. Às vezes eu recebo um convite de um evento que vai ter aqui na Casa. Aí vem um envelope lindo, com a cara do deputado, brilhante. Quanto será que custou? Não é só pelo valor do envelope, é pelo recado que passa. No começo do ano eu gastei R$ 150, comprei alguns pacotes de folha de sulfite, uma caixa de caneta, um pouco de clipes e até hoje ninguém precisou mais.
 
O MBL, ao qual o sr. é ligado, defende privatização. Como o sr. avalia o programa de desestatização atual da prefeitura, e o que mudaria? É um programa bem-intencionado, só que por alguns motivos não deu certo. Se você pegar a privatização do Anhembi, ninguém se interessou. Se não apareceu nenhum interessado, está esquisito.
Eu posso dizer a mesma coisa da Prodam, do autódromo e das praças. O Doria veio com uma ideia muito boa, de passar praças para concessão privada onde você vai poder explorar atividade econômica. É bem-intencionado, mas foi tecnicamente mal feito. Eu faria mais parecido com Nova York, no Central Park você pode comprar o banco onde conheceu sua esposa.
 
A sua ideia é privatizar tudo? A gente não pode ser liberal bobo. Não posso chegar aqui e dizer "ah, é absurdo ter subsídio para transporte". Nenhuma cidade do mundo, fora Seul, conseguiu não subsidiar transporte. Se você fizer um estudo técnico dentro de um parâmetro aceitável, dá para privatizar praticamente tudo.
Escola, saúde, inclusive? Não, isso eu nem posso pela Constituição. O que dá para ser feito são programas liberais de voucher. Sobre transporte por aplicativo, sou a favor da completa desregulamentação desse tipo de serviço.
Como vê o cenário eleitoral? Acha que consegue pegar o voto da direita bolsonarista? Sim. O cenário é o seguinte. Tem a esquerda da lacração, a esquerda PSOL, que tem um engajamento forte, mas um teto [de votos] baixo. Tem a esquerda petista, que atrapalha a esquerda não-petista, provavelmente o Márcio França (PSB).
Na direita, temos no meio o Bruno Covas (PSDB) com voto de máquina. Na centro-direita, o Andrea Matarazzo (PSD), o Felipe Sabará (Novo) e eu. E uma direita mais ideológica, com algum candidato do Bolsonaro.
Tem a Joice Hasselmann (PSL), que é uma incógnita. Acabou de sair um vídeo dela dançando com o Doria. É simbólico. Ela está chutando o Bolsonaro e abraçando o Doria. Qual a viabilidade eleitoral disso? Bem questionável.
O sr. não tem partido. Essa incerteza vai até quando? Estou conversando com muita gente. É impressionante como os partidos são rachados. Estamos com conversas avançadas. O que sei é que não vou ser vice de ninguém.
Sua campanha vai ser muito centrada no combate aos privilégios. Isso como bandeira de candidato a prefeito não é insuficiente? Minha campanha não vai ser centrada nisso. Tudo bem, você vai combater privilégios, mas e a saúde? E a educação? A mulher que quer levar o filho na creche está muito mais preocupada com a realidade imediatista do que com os privilégios. E eu não vou julgar moralmente se isso é certo ou errado.
As pessoas têm demandas reais. A base da minha candidatura à prefeitura não é minha experiência de deputado. Eu aprendi muito mais na vida privada e na vida real do que como deputado.

Arthur do Val, 33
Nascido em São Paulo e formado em engenharia química, atuou no comércio e distribuição de resíduos metálicos e gerenciou um estacionamento. Em 2015, abriu o canal "Mamãe Falei" no Youtube, com mais de 2,6 milhões de inscritos, onde faz provocações à esquerda e prega liberalismo econômico. É membro do MBL. No ano passado, viralizou ao receber um pescotapa de Ciro Gomes (PDT). Foi o segundo deputado estadual mais votado de São Paulo, com 478 mil eleitores. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

É a política, estúpido! Pesquisas esclarecem uma velha suspeita: a política emburrece as pessoas?

O professor Pablo Ortellado, que coordena o grupo de pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP), arregalou os olhos quando viu os resultados finais da pesquisa de opinião organizada pela sua equipe durante um dos protestos a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em 2015. Os dados mostraram um fenômeno curioso: apesar da alta escolaridade dos manifestantes entrevistados (dois em cada três tinham curso superior completo), a maioria afirmou acreditar em boatos tão inverossímeis quanto “o PCC é o braço armado do PT” ou que “50 mil haitianos vieram ao Brasil para votar em Dilma” nas eleições do ano anterior.
Esse fenômeno voltou a aparecer em pesquisas posteriores, mas relativas ao outro extremo ideológico. Na manifestação contra o impeachment em março de 2016, 56% dos entrevistados disseram que os protestos contra a corrupção eram na verdade articulados pelos Estados Unidos para se apropriar do petróleo brasileiro – a mesma proporção dos que afirmaram que o juiz Sérgio Moro, que julga os casos da Lava Jato, é filiado ao PSDB. E, assim como na primeira manifestação, os participantes também tinham escolaridade bem acima da média nacional.
O resultado dessas pesquisas é revelador, mas cada vez menos surpreendente. Uma série de estudos recentes num campo que congrega ciência política, cognição e psicologia social está derrubando a ideia de que o acesso a mais informação significa, de fato, que as pessoas ficarão mais bem informadas. Na verdade, quando o assunto é política, parece acontecer o oposto: o ser humano tende a reforçar ainda mais suas convicções (mesmo que estejam erradas) quando são expostas a evidências que provem o contrário.
 
 
Essa conclusão é nova, mas está se tornando consenso na academia. Um estudo que se tornou referência foi conduzido em 2013 pelo cientista social Dan Kahan, do Centro de Cognição Cultural, da Escola de Direito da Universidade de Yale. Mil adultos daquele país foram recrutados para analisar dados fictícios de uma pesquisa cujo objetivo era identificar se um novo creme para pele causava ou não irritação. A conclusão foi a esperada: quem antes havia se saído melhor em um teste de matemática conseguiu interpretar os números de maneira mais correta e identificar os possíveis efeitos do creme.
Tudo mudou, no entanto, quando o problema deixou de ser sobre um produto dermatológico e passou a envolver um assunto bem mais polarizador nos Estados Unidos: o porte de armas. Dados fictícios similares foram apresentados às mesmas pessoas, mas desta vez relativos a supostos crimes em cidades que proibiam ou permitiam o porte de arma pelos cidadãos. Dois grupos de dados foram apresentados a grupos distintos: um deles levava à conclusão de que o porte de armas estaria relacionado a aumento nos crimes, enquanto o outro apontava o oposto. Dessa vez, o que separou a performance dos indivíduos não foi mais a habilidade matemática, mas sim a ideologia: os liberais foram melhores para interpretar os dados quando eles relacionavam o porte de armas com um aumento de criminalidade, mas os conservadores ganharam quando a versão apresentada do exercício apontava à direção contrária.
O mais notável, no entanto, é que a taxa de erro no cenário político acabou sendo quase duas vezes maior entre os indivíduos bons de matemática do que entre os outros – justamente o contrário do que ocorrera quando o assunto era um simples creme para pele. Em outras palavras, os pesquisadores concluíram que a política “emburrece” mais justamente os mais aptos para analisar as evidências de maneira técnica – o que torna a correlação entre alta escolaridade e crença em boatos nas manifestações brasileiras algo bem mais compreensível.
Emburrecimento. “Esse processo existe, e isso está cada vez mais claro. Quando se discute algo relacionado com um valor importante para uma pessoa, a reação natural é que ela só saia mais convencida da sua certeza anterior”, diz Pablo Ortellado, que coordenou as pesquisas dos protestos no Brasil. A reação natural dos indivíduos em proteger seus valores foi batizada por Kahan como “cognição de proteção da identidade”. Esse conceito, segundo ele, vem da importância dada pelas pessoas às crenças compartilhadas pelos grupos com os quais se identificam. “Baseados em mecanismos psicológicos, os indivíduos aceitam ou rejeitam evidências empíricas, a partir de sua visão desejada de sociedade”, escreveu o pesquisador.
Como o que importa para a identidade de cada grupo muda de sociedade para sociedade, é natural que consensos indiscutíveis em um determinado país sejam impossíveis de serem alcançados em outro. Um exemplo disso é o aquecimento global. Nos Estados Unidos, esse é um assunto polarizador, que divide o país em linhas similares aos dos dois grandes partidos (democratas e republicanos). Lá, apenas 64% da população acredita que essa seja uma ameaça séria, segundo pesquisa publicada na Nature em 2015. Já no Brasil, onde todos os grandes partidos parecem compartilhar preocupação similar em relação ao tema, como mostra artigo publicado pela revista Opinião Pública também em 2015, esse porcentual salta para 99%.
Para Ortellado, dois fenômenos recentes são catalisadores desse processo cognitivo. O primeiro é o efeito bolha nas redes sociais. “Vimos nas pesquisas que ambos os lados nas manifestações dizem se informar sobre política principalmente no Facebook. E estudos recentes mostram que o algoritmo usado para escolher o que aparece na página de um usuário prioriza o que confirma as opiniões dele.” O segundo seriam as chamadas “guerras culturais”. O professor da USP explica: “O debate político está deixando de ser sobre questões econômicas e está indo para temas relacionados a valores, como drogas e homossexualidade. E os grupos e partidos estão se realinhando em torno dessas novas disputas.”
Para ele, essa tendência fortalece os vieses dos grupos que se articulam ao redor de uma posição sobre esses temas. Isso teria ao menos um efeito macabro: o debate público ficaria menos produtivo, já que um extremo não consegue conversar com o outro, e quem está no meio – ou seja, quem não considera que esse tema importante para definir sua identidade social – se sente excluído da discussão. Novos estudos feitos no Brasil corroboram essa tese. Um trabalho recente de dois pesquisadores da Universidade de Brasília, Carlos Oliveira e Mathieu Turgeon, com base em bancos de dados de pesquisas de opinião, concluiu que a grande maioria dos eleitores não se alinha em torno dos polos de direita e esquerda, e que esses conceitos pouco importam ao decidir em quem votar.
A disputa dos extremos no debate público, portanto, seria dirigida justamente a essa grande maioria silenciosa. “Os extremos polarizam o debate, e isso dá a falsa impressão de que é impossível conversar. Mas não é assim. Estimamos que esses extremos totalizam cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil. Todo o resto, portanto, pode ir pra lá ou pra cá. São pessoas que nem se interessam tanto por política, e por isso não têm tanta dificuldade em mudar de opinião ou serem convencidas”, afirma Ortellado.
Eleição. Para alguns pesquisadores desse campo, mais importante do que entender como funcionam os vieses cognitivos é descobrir como furá-los. A importância disso está no uso prático – uma ONG ambientalista, por exemplo, precisa convencer pessoas de que o aquecimento global ameaça a humanidade. Por isso mesmo, partidos políticos e think tanks norte-americanos gastam milhões de dólares financiando pesquisas para descobrir a resposta a duas perguntas: É possível resolver impasses entre os extremos? E, se sim, como?
Ainda não há respostas definitivas, mas aparecem hipóteses promissoras. Uma delas é quase uma consequência óbvia da cognição de proteção de identidade: se a tendência das pessoas é reagir à evidência sobre um assunto de maneira a não contradizer as crenças do grupo social com o qual ela se identifica, talvez ela fique mais aberta a mudar de ideia caso essas evidências sejam apresentadas de maneira que reforcem sua visão de mundo, em vez de contestá-la.
Essa saída foi testada por pesquisadores das universidades de Yale, Texas e de Stanford, que tentaram mudar a opinião de estudantes que se declararam contrários ou favoráveis à pena de morte. Eles concluíram que era mais simples convencer alguém do contrário quando os argumentos eram apresentados de maneira condizente com valores considerados importantes por essa mesma pessoa em um momento anterior da pesquisa – se alguém havia dito que se identificava como ligado à família, por exemplo, comentários que enfatizavam esse traço pessoal eram feitos antes da leitura do texto, o que, segundo os pesquisadores, aumentava as chances de o estudante mudar de ideia.
Mas um artigo que saiu na revista Science em abril deste ano causou furor especial nesse meio. Uma dupla de pesquisadores da Universidade da Califórnia e de Stanford comprovou que existe outra maneira eficaz de causar mudanças em opiniões fortes sobre um assunto polarizador: a homossexualidade. O estudo, financiado por uma ONG de combate à homofobia, consistia em enviar 56 entrevistadores – alguns transgêneros, outros não – em mais de 500 residências na Flórida para conversar sobre preconceito contra homossexuais e saber a opinião dos indivíduos em duas ocasiões diferentes, separadas por três meses. O resultado provou que, quando um transgênero realizava a entrevista, a chance de a pessoa reduzir sua pontuação em uma escala de homofobia tinha aumento significativo. O contato pessoal com os dramas pessoais, portanto, ajudaria a derrubar barreiras cognitivas que antes pareciam intransponíveis.
O que todos os estudos mostram é que, se nem evidências científicas são suficientes para mudar a opinião de um convencido, partir para o enfrentamento direto é a pior das estratégias. O melhor caminho para estimular o debate entre grupos opostos – ou transformar uma opinião cristalizada sobre um assunto politicamente sensível – pode estar em entender os valores considerados importantes para os grupos e usá-los na hora de apresentar novos argumentos. Parece simples, mas uma olhada rápida em qualquer feed de Facebook prova que encontrar esse meio-termo pode ser tarefa árdua – ainda mais em tempos de impeachment e eleições.
Tudo o que sabemos sobre:
PT [Partido dos Trabalhadores]

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Boa surpresa com criação de empregos, Celso Ming, OESP



Quando o tempo é de estiagem prolongada nunca é uma chuvinha temporária que muda tudo. Mas quando o tempo já vem melhorando, uma chuva criadeira é sempre bem-vinda e prenuncia boa colheita.
Assim aconteceu com os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quinta-feira pela Secretaria do Trabalho, que vieram acima das previsões. Foi o melhor novembro desde 2010: crescimento de 99,2 mil postos de trabalho formal (com registro em carteira), como mostra o gráfico. 
Não dá para tapar o sol com peneira. O quadro geral do mercado de trabalho continua ruim. Com base nos dados do IBGE coletados em outubro, há mais de 12,4 milhões de desempregados (11,7% da força de trabalho) e outros 4,9 milhões (4,2%) nem procuram emprego porque estão na faixa daqueles que foram atingidos pelo desalento. É possível que estatísticas mais atualizadas a serem divulgadas na semana que vem apontem para novas melhoras também nessa área. 
No entanto, os números do Caged reforçam a percepção de que as coisas estão melhorando na economia. O setor produtivo vem reagindo. E isso acontece não apenas nos setores mais dinâmicos, especialmente no agronegócio e na área de petróleo e gás, mas, também, na indústria de transformação e na construção civil que, a esta altura do ano, ainda estão sob impacto de desaceleração sazonal.
Apenas o aumento do déficit  comercial (exportações menos importações), de 0,7% do PIB em janeiro de 2018 para 2,2% do PIB em novembro, que é um dado negativo, reflete uma realidade positiva, que é a do avanço das importações em consequência do aumento da demanda interna.
Carteira de Trabalho
Carteira de Trabalho Foto: Nilton Fukuda/Estadão
O Banco Central reviu para cima (para 1,2%) o crescimento do PIB deste ano, como está no Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira. Os juros básicos (Selic), que estão no menor nível histórico (4,5% ao ano), encorajam o crédito, a revisão dos contratos de financiamento e o consumo.
Além disso, graças em parte ao avanço das reformas e a alguma melhora nas condições das contas públicas, a confiança geral vem aumentando, como os últimos levantamentos junto com o empresariado vêm demonstrando.
O CDS (Credit Default Swap) dos títulos do Tesouro de 5 anos, que funciona como seguro contra avarias financeiras, há seis meses estava nos 184 pontos porcentuais. Nesta quinta-feira caiu para 101 pontos, recuo que vai obrigando as agências de classificação de risco a rever para melhor a qualidade dos títulos do Brasil.
Este é um reflexo do atual estado de espírito. Por falar nisso, há o galope do mercado de ações, que nesta quinta-feira atingiu novo recorde: fechou nos 115 mil pontos, o que perfaz uma valorização de 31% ao longo deste ano.
Até mesmo do exterior provêm prognósticos mais otimistas, na medida em que os governos dos Estados Unidos e China, envolvidos na sua guerra comercial, parecem ter feito um acordo por tréguas ao menos temporárias.
Por enquanto, o otimismo sobre o desempenho da economia brasileira em 2020, embora mais generalizado, continua cauteloso. O desemprego, como ficou dito, ainda é alto demais. A pequena melhora no investimento ainda é insuficiente para garantir crescimento sustentado de 2% ou 3% ao ano e há essa política propriamente dita de cujo exercício sempre se podem esperar surpresas desagradáveis.
Quando se trata de mão de obra, não dá para esquecer de que todo mercado de trabalho passa por profundas transformações. O uso intensivo de aplicativos vem destruindo postos de trabalho. Todo o setor produtivo  não tem outra opção que não seja a intensificação do emprego de tecnologia, cuja natureza é a dispensa de mão de obra.