Quando o tempo é de estiagem prolongada nunca é uma chuvinha temporária que muda tudo. Mas quando o tempo já vem melhorando, uma chuva criadeira é sempre bem-vinda e prenuncia boa colheita.
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Assim aconteceu com os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quinta-feira pela Secretaria do Trabalho, que vieram acima das previsões. Foi o melhor novembro desde 2010: crescimento de 99,2 mil postos de trabalho formal (com registro em carteira), como mostra o gráfico.
Não dá para tapar o sol com peneira. O quadro geral do mercado de trabalho continua ruim. Com base nos dados do IBGE coletados em outubro, há mais de 12,4 milhões de desempregados (11,7% da força de trabalho) e outros 4,9 milhões (4,2%) nem procuram emprego porque estão na faixa daqueles que foram atingidos pelo desalento. É possível que estatísticas mais atualizadas a serem divulgadas na semana que vem apontem para novas melhoras também nessa área.
No entanto, os números do Caged reforçam a percepção de que as coisas estão melhorando na economia. O setor produtivo vem reagindo. E isso acontece não apenas nos setores mais dinâmicos, especialmente no agronegócio e na área de petróleo e gás, mas, também, na indústria de transformação e na construção civil que, a esta altura do ano, ainda estão sob impacto de desaceleração sazonal.
Apenas o aumento do déficit comercial (exportações menos importações), de 0,7% do PIB em janeiro de 2018 para 2,2% do PIB em novembro, que é um dado negativo, reflete uma realidade positiva, que é a do avanço das importações em consequência do aumento da demanda interna.
O Banco Central reviu para cima (para 1,2%) o crescimento do PIB deste ano, como está no Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira. Os juros básicos (Selic), que estão no menor nível histórico (4,5% ao ano), encorajam o crédito, a revisão dos contratos de financiamento e o consumo.
Além disso, graças em parte ao avanço das reformas e a alguma melhora nas condições das contas públicas, a confiança geral vem aumentando, como os últimos levantamentos junto com o empresariado vêm demonstrando.
O CDS (Credit Default Swap) dos títulos do Tesouro de 5 anos, que funciona como seguro contra avarias financeiras, há seis meses estava nos 184 pontos porcentuais. Nesta quinta-feira caiu para 101 pontos, recuo que vai obrigando as agências de classificação de risco a rever para melhor a qualidade dos títulos do Brasil.
Este é um reflexo do atual estado de espírito. Por falar nisso, há o galope do mercado de ações, que nesta quinta-feira atingiu novo recorde: fechou nos 115 mil pontos, o que perfaz uma valorização de 31% ao longo deste ano.
Até mesmo do exterior provêm prognósticos mais otimistas, na medida em que os governos dos Estados Unidos e China, envolvidos na sua guerra comercial, parecem ter feito um acordo por tréguas ao menos temporárias.
Por enquanto, o otimismo sobre o desempenho da economia brasileira em 2020, embora mais generalizado, continua cauteloso. O desemprego, como ficou dito, ainda é alto demais. A pequena melhora no investimento ainda é insuficiente para garantir crescimento sustentado de 2% ou 3% ao ano e há essa política propriamente dita de cujo exercício sempre se podem esperar surpresas desagradáveis.
Quando se trata de mão de obra, não dá para esquecer de que todo mercado de trabalho passa por profundas transformações. O uso intensivo de aplicativos vem destruindo postos de trabalho. Todo o setor produtivo não tem outra opção que não seja a intensificação do emprego de tecnologia, cuja natureza é a dispensa de mão de obra.
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