quinta-feira, 23 de novembro de 2017

'É tolerância zero em qualquer sentido', diz Alckmin em Atibaia. G1

Governador visitou bloqueio da Operação Divisa na Rodovia Dom Pedro I.
Rodovia é a principal ligação entre Minas Gerais e a região de Campinas.

Renato FerezimDo G1 Vale do Paraíba e Região
Governador Geraldo Alckmin conversa com policiais rodoviários estaduais e policiais federais na Operação Divisa, na Rodovia Dom Pedro I, em Atibaia (Foto: Renato Ferezim/G1)Governador Geraldo Alckmin conversa com policiais rodoviários estaduais e policiais federais na Operação Divisa, na Rodovia Dom Pedro I, em Atibaia (Foto: Renato Ferezim/G1)
 Alckmin anuncia 200 novos delegados no EstadoO governador Geraldo Alckmin esteve em Atibaia (SP) na tarde desta terça-feira (20) para visitar  um ponto de bloqueio de veículos, implantado no entroncamento das rodovias Dom Pedro I e Fernão Dias. A ação faz parte da 'Operação Divisa', que é deflagrada no interior do Estado com objetivo de reduzir os índices de violência.
 Durante a visita, Alckmin declarou que o sistema de segurança de São Paulo passa por uma "reengenharia" e que "casos de violência não serão tolerados", sejam eles praticados por bandidos ou policiais.
Alckmin chegou à Atibaia por volta das 16h30. Ele conversou com policiais rodoviários, cumprimentou agentes da Polícia Federal e atendeu a imprensa. "Criminosos já foram presos com armamento pesado e o Brasil não fabrica este tipo de armamento. Por isso é importante este trabalho. Saíremos deste processo com a segurança pública de São Paulo fortalecida e com o crime organizado asfixiado financeiramente", disse o governador.
O governador também comentou sobre as mortes que vem ocorrendo desde o início do mês na capital. "Nós já tivemos um caso comprovado de ação errada da PM e toda a equipe já foi presa. É tolerância zero em qualquer sentido", disse o governador, se referindo a ação de policiais militares no bairro de Campo Limpo, na capital, que resultou na morte do servente de pedreiro Paulo Barbosa do Nascimento.
Questionado sobre o papel de cada instituição no plano de trabalho integrado entre governos estadual e federal, Alckmin disse que o trabalho de mapeamento e ação será realizado pelas Polícias Militar e Federal. Já a Polícia Civil e os Ministérios Públicos Estadual e Federal farão o trabalho de retaguarda, que seria relacionar as ações de grupos organizados com novas investigações.
Operação Divisa
Policiais rodoviários estaduais e federais, na Rodovia Dom Pedro I, em Atibaia (Foto: Renato Ferezim/G1)Policiais rodoviários estaduais e federais, em
Atibaia (Foto: Renato Ferezim/G1)
Três pessoas foram presas e mais de 10 quilos de maconha apreendidos no primeiro dia da Operação Divisa. Trata-se de uma das iniciativas do acordo de cooperação entre o governo estadual e o federal, firmado em 12 de novembro, após longa polêmica entre o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre uma suposta falta de ajuda a São Paulo no enfrentamento da onde de violência. 
Além deles, um foragido foi recapturado, 253 veículos foram vistoriados e 423 pessoas, abordadas. Segundo o governo do estado, a Polícia Militar montou cinco bloqueios com equipes de fiscalização em suas áreas de competência. Já a Polícia Civil reforçou os plantões das delegacias mais próximas às barreiras esquematizadas pela PM e poderá ainda destinar efetivo para os trabalhos de polícia judiciária no próprio local das blitze.
Dom Pedro IO bloqueio montado no quilômetro 74 da Rodovia Dom Pedro I é um dos 14 pontos mapeados pelo setor de inteligênica da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Participam da ação equipes da Polícia Rodoviária Estadual, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal.
"Nós vamos atuar em pontos mapeados pela inteligência da Polícia Militar. Aqui é um ponto estratégico porque é a porta de entrada de quem vem de Minas Gerais e vai para Campinas, São Paulo e Vale do Paraíba", diz o Capitão Elvis de Souza, da Polícia Rodoviária Estadual.
Neste ponto de bloqueio estão 34 homens, sendo 18 policiais rodoviários estaduais, 4 policiais federais e 12 policiais rodoviários federais. "Foram mapeados 14 pontos em todo o Estado. Diariamente os bloqueios serão montados em cinco deles, com horários alternativos, inclusive de madrugada", explica Capitão Elvis.
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Todo o poder às celebridades?, OESP


Enquanto Luciano Huck avalia o risco, o Brasil sonha com um astro que purifique a política

*Eugênio Bucci, Impresso
23 Novembro 2017 | 03h12
“O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias”
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo
À medida que se adensam as especulações em torno do nome do apresentador Luciano Huck para eventual candidatura à Presidência da República, as reações de políticos atestam que eles não entenderam nada. O sintoma que mais chamou a atenção foi a declaração do senador Aécio Neves. “Acho que é um pouco da falência da política”, diagnosticou o tucano. “É um pouco do momento de desgaste generalizado pelo qual passa a política.”
Não deixa de ser um alívio saber que o líder mineiro se preocupa de modo tão altruísta com assuntos falimentares e desgastes generalizados, mas sua declaração traduz, ainda que inadvertidamente, um preconceito arrogante. Por que, afinal, as pretensões eleitorais de um ídolo televisivo indicariam que a política “faliu”? Em que ponto a candidatura de um animador de auditório – de resto, muito rico – é pior do que a candidatura de uns e outros que ficaram bilionários com salário de deputado? Um garoto-propaganda de banco não tem o direito de, como dizem nos rincões mineiros, “entrar para a política”? Acaso estaria menos preparado que um fazendeiro, um sindicalista, um pastor evangélico ou ex-governador, como sugere a fala de Aécio?
Houve tempo em que as famílias de respeito – de Belo Horizonte, inclusive – empinavam o queixo e franziam os lábios quando ouviam falar que uma amiga da sobrinha pretendia seguir a profissão de atriz. Era um preconceito arrogante. Agora, desqualificar de antemão a competência de astros vespertinos como se eles não fossem dignos de pedir votos é uma forma de reabilitar o velho preconceito. Numa democracia, todos os cidadãos são elegíveis, incluídos os que ganham a vida diante das câmeras – e estes não são em nada piores do que os que ganham a vida de maneiras ocultas e depois passam longas temporadas fugindo das câmeras.
Muitos políticos de carreira subscrevem o que Aécio declarou sobre Huck. Uns o fazem à boca pequena, com aquele modo característico de cochichar usando a mão para cobrir a boca e, assim, evitar o risco tenebroso da leitura labial. Outros se pronunciam aos berros, do alto de palanques. Não estão nem aí.
Além de não entenderem que todos os cidadãos podem ser candidatos, pois são iguais perante a lei e as urnas, os “de carreira” não entendem que o advento das celebridades e da indústria do entretenimento modificou a política para sempre. A política não é mais o que era no tempo de seus avós.
A incompreensão crônica e inamovível é chocante. Como podem ser tão obtusos? Os políticos profissionais cuidam da aparência como se fossem atrizes na terceira idade: fazem implante de cabelo, buscam a ortodontia estética para calibrar o sorriso, tingem o bigode, usam botox, fazem media training quando vão aparecer na TV. Os de direita, quando querem fazer pose de populares, mastigam sanduíches de mortadela e falam palavrão no tête-à-tête com os eleitores. Os de esquerda, quando precisam parecer confiáveis aos endinheirados, envergam as gravatas caras que ganham de presente dos lobistas – e logo se acostumam. Uns e outros passam as 24 horas do dia empenhados em burilar a própria imagem. Só pensam na imagem. São narcisos a soldo público. Sendo assim, como é que não entenderam nada?
Tudo o que desejam é ser celebridade, mas não sabem bem por quê. Os que pensam ter percebido alguma coisa tentam cooptar candidatos como Tiririca (ou mesmo Huck) para engordar quocientes eleitorais – mas também esses, que se imaginam feiticeiros maquiavélicos da popularidade alheia, são levados de arrasto por um maremoto que nem sequer enxergam.
A gramática do poder foi subsumida pelo espetáculo. Em poucas palavras (palavras andam em desuso), sua gramática se tece mais por imagens do que pelo texto. Seus enunciados são performances midiáticas. Kim Jong-un, com seu penteado boina, é um pop star. Trump saltou diretamente da fama de apresentador de TV para a Casa Branca, passando por uma escala meramente formal por um partido político. Arnold Schwarzenegger governou a Califórnia e Ronald Reagan governou os Estados Unidos da América. Berlusconi fez o que fez na Itália.
Por quê? Pela mesma razão que leva uma estrela de novela a ser ouvida como luminar quando opina sobre câncer de mama, energia nuclear ou o agigantamento das megalópoles. Vocalistas de bandas comerciais opinam para plateias planetárias e deslumbradas sobre ecologia e sustentabilidade. Uma top model pontifica sobre demarcação de terras indígenas. Um ex-jogador de futebol dá apoio a um ditador sul-americano – e esse apoio se confunde com legitimidade autêntica.
Como o dinheiro na economia, o espetáculo realizou a proeza de ser um equivalente geral no mundo da imagem: uma celebridade, venha ela de onde vier, ganha autoridade para ditar regra sobre qualquer tema que atraia o olhar das multidões. O espetáculo acentua o caráter de mercadoria nas candidaturas e infla um quê de sagrado nas mercadorias. De seu lado, as multidões histéricas veneram as celebridades como os gregos antigos veneravam os deuses do Olimpo. As celebridades são o politeísmo de um mundo sem divindades. Que elas postulem cargos eletivos, ora, nada mais lógico, nada mais mítico.
A política reduziu-se a um reality show, no qual até ministros do STF atuam, envaidecidos. Esse reality show atrai as celebridades do show business para depois incinerá-las. Elas chegam, brilham e viram pó. Vide um certo prefeito de metrópole que até outro dia era o “não político” mais estridente do Brasil: até ele, chamuscado, precisou fugir das câmeras.
Enquanto Luciano Huck avalia o risco, o Brasil sonha com um astro que purifique a política, em vez de ser queimado por ela. “Dinheiro na mão é vendaval.” O espetáculo é um apocalipse de fogo e fúria.
Que venha 2018.
*Jornalista, é professor da ECA-USP

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Um mundo à parte, OESP


Membros do Poder Judiciário parecem operar num mundo acima da Constituição

O Estado de S.Paulo
21 Novembro 2017 | 03h06
O Poder Judiciário é o último esteio com o qual a sociedade deve contar para a proteção de direitos individuais e coletivos. Quando tudo parece lhes faltar, é à Justiça que os cidadãos recorrem para a salvaguarda de seus direitos.
É precisamente este sofisticado sistema de moderação de conflitos, com base em normas e leis supostamente conhecidas e respeitadas por todos, que representa um dos pilares sobre o qual está erigido o Estado, cuja finalidade precípua é a busca do bem comum e a garantia da paz social.
Não por acaso, a opinião que a sociedade tem a respeito do Poder Judiciário, em geral, tende a ser mais positiva do que o que se pensa dos Poderes Executivo e Legislativo. Entretanto, esta liderança do Judiciário em uma imaginária “competição” pelo afeto popular vem sendo comprometida recentemente por desvirtuamentos praticados por membros do próprio Poder, que, alheios à realidade do País a que devem servir, parecem operar em um mundo de plena disponibilidade material, orçamentos flexíveis e inesgotáveis e livre edição de normas que pretendem estar acima da Constituição.
Organizando-se como se pertencessem a castas que parecem ter sido concebidas para a defesa de seus próprios interesses materiais, e não institucionais, alguns membros do Poder Judiciário agem como aproveitadores da fé que os cidadãos devotam à Justiça, e nela depositam seus anseios e esperanças, para emplacar pleitos que estão longe de representar uma justa melhoria de condições para o exercício da atividade que exercem.
Acumulam-se no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mais de 5.500 pedidos de autorização para criação de novos cargos no Poder Judiciário ou pagamentos de gratificações a servidores públicos da Justiça, categoria profissional que já tem um dos mais altos patamares de remuneração do serviço público. Caso sejam aprovados, esses pedidos, somados, representarão um impacto anual de R$ 606 milhões no Orçamento. Um escândalo diante do quadro de desajuste das contas públicas que o governo vem, a duras penas, tentando reverter.
De acordo com uma reportagem do jornal O Globo, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) é o órgão recordista de pedidos ao CNJ, com cinco solicitações entre 2013 e 2016. Os requerimentos são para a criação de mais 1.117 cargos e gratificações para a Justiça do Trabalho, sendo 15 cargos de juiz para o preenchimento de novas varas do trabalho nos Estados da Bahia e do Maranhão. Em seguida, com quatro pedidos, está o Tribunal Superior do Trabalho (TST), que requereu, entre 2015 e 2016, a criação de 1.387 novos cargos e gratificações.
As solicitações de apenas estes dois órgãos da Justiça do Trabalho representam, caso sejam aprovadas, um aumento de R$ 304 milhões nos gastos da Justiça, a metade de todo o volume de recursos que esperam pela aprovação do CNJ.
Não é de estranhar que em muitos setores da sociedade há quem defenda a extinção da Justiça do Trabalho e a incorporação de seus quadros e funções pela Justiça Federal.
Os pedidos feitos pela Justiça do Trabalho são tão somente os mais gritantes. Há outros, tão desconectados da realidade do País como aqueles, que provêm do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Superior Tribunal Militar (STM), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além dos pleitos apresentados pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal.
A cegueira da Justiça deveria se limitar aos fatos que possam se interpor entre o juiz e a lei, comprometendo a imparcialidade do seu julgamento. Mas o que se tem nos casos em tela, para prejuízo da sociedade, é a cegueira deliberada em relação à realidade econômica do País, para não dizer do resgate da moralidade pública que tem ocupado corações e mentes dos brasileiros nos últimos anos.
É preciso ficar claro, de uma vez por todas, que a divisão dos Poderes deve servir não só para os bônus, mas também para os ônus. E o momento impõe sobriedade e higidez dos servidores públicos, seja a que Poder pertençam.