quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Geração de energia por biogás é alternativa para resíduos do esgoto, Agência Brasil


  • 06/06/2017 13h04
  • Brasília
Fabíola Sinimbu* - Repórter da Agência Brasil

Tomaz Silva/Agência Brasil
Lixo e esgoto são matérias orgânicas que podem virar biogásTomaz Silva/Agência Brasil

O lodo resultante do esgoto em Curitiba está prestes a ser transformado em energia elétrica, para abastecer a própria estação de tratamento de água da capital paranaense. O processo de conversão de matéria orgânica em gases que podem gerar energia é antigo, mas o aproveitamento do lodo em grande quantidade é uma novidade.
Restos de alimentos, resíduos da pecuária e da agricultura e até dejetos são matéria orgânica que podem virar biogás. O processo, conhecido como biodigestão, aproveita a ação das bactérias que se alimentam dessas substâncias em ambientes sem oxigênio e transformam tudo em gases como metano, dióxido de carbono e oxigênio. Esses gases, quando injetados em grupogeradores, servem tanto para gerar energia térmica quanto eletricidade. Em uma estação de tratamento de água, as bactérias estão presentes e produzem os gases que, muitas vezes, acabam sendo liberados e causam danos ao meio ambiente.
Potencial
Por ter uma participação ainda pequena na matriz energética brasileira, o biogás – junto a outras fontes energéticas como o biodiesel – é classificado de biomassa. Segundo dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética, no ano de 2015, a participação da biomassa no setor como um todo foi 8%. No entanto, o potencial dessa fonte de energia no país é bastante relevante: a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) afirma que o Brasil produz 7 milhões de metros cúbicos (m³) de lodo por dia, 15 milhões de m3 de resíduos de alimentos e 56 milhões de m3 de sucroenergético por dia (produção de energia a partir de cana-de-açúcar).
Esse potencial foi identificado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) em Curitiba, onde a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Belém recebe 840 litros de esgoto por segundo diariamente. Após o processo de tratamento, essa quantidade gera entorno de 600 metros cúbicos de lodo por dia.
Segundo o engenheiro da Sanepar Charles Carneiro, esse resíduo será depositado em biodigestores construídos próximo ao sistema de tratamento do esgoto, misturado a outros materiais orgânicos dispensados por grandes produtores de alimentos. O biogás produzido será transformado em energia elétrica por meio da usina com potência instalada de 2,8 mega-watts (MW), e o resíduo pós-digerido passará por uma secagem térmica para virar biofertilizante ou carvão. Esse material será usado no próprio processo de secagem.
O engenheiro Gustavo Possetti, da Assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Sanepar, explica que com a implantação da usina de biogás todo o processo passa a ser sustentável. “Além de tratar o esgoto promovendo a saúde pública e a limitação de impactos ambientais, nós tentamos gerenciar da forma mais correta possível todos os subprodutos que advêm desse processo.”
O primeiro passo para a instalação da usina foi verificar o potencial de produção e das características do biogás das estações de tratamento. “A partir desse projeto geramos as primeiras diretrizes que poderiam orientar a recuperação energética desse material, em função das escalas das estações e consequentemente em função de cada uma das propostas de utilização”, conta Possetti.
Histórico
Antes de construir a usina em Curitiba, a Sanepar fez uma primeira experiência, em 2009, na ETE Ouro Verde, em Foz do Iguaçu. De acordo com o engenheiro, lá foi possível estudar as características da produção do biogás e adquirir experiência para compreender o processo de geração distribuída de eletricidade e do sistema de compensação. Isso viabilizou a efetivação da planta de biogás ainda maior, na ETE Belém, ligada à rede de distribuição da cidade, com possibilidade de gerar créditos para desconto na conta de luz da companhia.
A previsão é que a usina de Curitiba entre em funcionamento no segundo semestre de 2017, mas a energia deve começar a ser gerada efetivamente apenas 180 dias depois da inauguração, prazo necessário para que os biodigestores gerem gases suficientes para ligar as máquinas. Em uma segunda etapa, a planta de Biogás na Sanepar terá a capacidade instalada ampliada para 5,6 MW.
* A repórter viajou a convite da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ)

Um diagnóstico terrível. OESP


Amplo estudo divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Ministério das Cidades mostrou que 45% da população ainda não dispõe de serviço de esgoto considerado adequado

Impresso
28 Setembro 2017 | 03h06
Um amplo estudo divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Ministério das Cidades mostrou que 45% da população ainda não dispõe de serviço de esgoto considerado adequado, isto é, com o uso de fossa séptica ou rede de coleta e tratamento. Esse indicador é essencial para perceber a distância que o País ainda precisa percorrer para ser considerado desenvolvido.
Quando quase metade da população ainda vive em ambiente insalubre, sujeita a doenças que poderiam ser evitadas e que reduzem a capacidade dos cidadãos de trabalhar e estudar, constata-se o grau de negligência dos governos nas últimas décadas, em especial daqueles que se gabavam de ter acabado com a pobreza. De nada adianta o “pobre andar de avião” e o “filho da empregada entrar na universidade” se essas mesmas pessoas, ao voltarem para casa, encontram ali um ambiente extremamente precário, em que não há condições mínimas de habitação.
O estudo da ANA e do Ministério das Cidades verificou as condições de saneamento nos 5.570 municípios do País, mas apenas das residências urbanas. Ou seja, o quadro seguramente seria pior se fosse avaliado o serviço também nas áreas rurais, tradicionalmente insatisfatório.
A publicação, intitulada Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas, se destina a mapear as condições dos recursos hídricos, entre os quais aqueles que recebem efluentes domésticos. A ideia é ampliar o conhecimento sobre esses recursos para avançar na universalização dos serviços de saneamento.
Há dez anos, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que dava prazo até 2035 para que todos os brasileiros tivessem acesso a água encanada e coleta de esgoto. Como se observa pelo estudo agora divulgado, o País está muito distante de atingir essa meta, que, em si, é vergonhosa, uma vez que esse problema já deveria ter sido resolvido no século passado.
Mesmo com todo o discurso em favor dos pobres, os governos petistas não investiram o suficiente nem sequer para minorar o problema. Segundo o Atlas Esgotos, ainda serão necessários R$ 150 bilhões em investimento para a universalização do esgotamento sanitário nas áreas urbanas no prazo estabelecido. Além da necessidade desses recursos, o estudo enfatiza que o problema não é apenas de falta de dinheiro, mas de gestão adequada. “No País, existem vários exemplos de sistemas de esgotamento sanitário que foram abandonados ou sequer entraram em operação devido a problemas associados a essa questão”, informa o documento.
O problema da falta de saneamento em grande parte do País afeta diretamente a qualidade da água. Para ser bem-sucedido, o tratamento deveria remover pelo menos 60% da carga orgânica dos efluentes oriundos do esgoto doméstico. No entanto, em 4.801 municípios esse tratamento remove menos de 60%. A maioria absoluta das cidades, 70%, consegue remover no máximo 30%. No geral, considerando-se todo o País, apenas 39% da carga orgânica é retirada das águas nas estações de tratamento.
Entre as unidades da Federação, somente o Distrito Federal retira mais de 60% da carga orgânica. Considerando-se os municípios, apenas 14% do total, a maioria no Sudeste, consegue remover esse montante. Das 100 cidades mais populosas, o índice considerado adequado é atingido por apenas 31.
Diante desse quadro, o estudo adverte que, além de gerar significativa precariedade habitacional para os que não dispõem de coleta adequada de esgotos, o déficit desse serviço acaba “comprometendo a qualidade das águas para diversos usos, com implicações danosas à saúde pública e ao equilíbrio do meio ambiente”.
A produção desse estudo por parte do governo é, em si, uma boa notícia. Com ele, dispõe-se oficialmente de um diagnóstico bastante preciso dos problemas e de um levantamento das necessidades para que se alcance a tão desejada universalização da coleta e do tratamento de esgotos. Falta agora, urgentemente, passar da constatação para a ação.

Como avaliar estes leilões, Celso Ming OESP



Muito importante é a nova postura da administração econômica, que abandonou a retranca postergadora e protecionista que prevaleceu ao longo do período Dilma






Celso Ming, O Estado de S.Paulo
27 Setembro 2017 | 21h00
A análise dos leilões das quatro usinas da Cemig e da 14 ª rodada de concessões de petróleo realizados hoje não pode restringir-se ao resultado de caixa, embora ele também tenha sido expressivo e deverá contribuir para a redução do rombo das contas públicas.
Mais importante do que isso é a nova postura da administração econômica, que abandonou a retranca postergadora e protecionista que prevaleceu ao longo do período Dilma, e a resposta positiva dos interessados.

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O martelo foi batido: leilões desta quarta-feira devem trazer mais capital e eficiência ao Brasil Foto: Marcos Muller
O leilão das hidrelétricas da Cemig trouxe mais capital estrangeiro e provavelmente agregará mais eficiência na administração desse patrimônio. Podem-se esperar agora mais investimentos como, por exemplo, a instalação de placas flutuantes ao longo dos reservatórios para geração de energia elétrica de fonte solar, que aproveitará melhor as linhas de transmissão já existentes.
Nas unidades leiloadas deixarão de imperar o patrimonialismo e cupinchismo dos chefes políticos da hora, situação que as deixará menos vulneráveis à corrupção e aos cabides de emprego. E essas conquistas não são pouca coisa.
O interesse demonstrado pelos concorrentes ao leilão, num setor tão fortemente abatido pelo intervencionismo, poderia ser maior não fosse a relativamente baixa qualidade dos ativos brasileiros tal como avaliada pelas agências de análise de risco.
Mas ficou clara entre os participantes a recuperação da confiança nas instituições e nas leis brasileiras. Embora continuem sendo esperados recursos judiciais contra a transferência definitiva dessas hidrelétricas, este obstáculo não foi considerado fator impeditivo à realização dos leilões. E à medida que crescer a participação de outras empresas, o setor elétrico ficará menos exposto ao jogo predador dos políticos. O leilão das usinas da Cemig deve ter melhorado a atratividade do próximo leilão das distribuidoras da Eletrobrás e, também, de energia nova agendado para dezembro.
Quanto ao leilão de novas áreas de petróleo, em terra ou nas áreas da plataforma marítima acima da camada de sal, há dois fatos positivos importantes a considerar. O primeiro deles é o de que o governo recuperou o sentido de urgência, abandonou a inércia dos governos anteriores, à espera pela melhora de preços do petróleo. O segundo tem a ver com flexibilização das regras do jogo. Foram reduzidas as exageradas exigências de conteúdo local (encomendas às empresas brasileiras), que vinham aumentando substancialmente os custos de investimentos de produção.
Felizmente, prevaleceu o entendimento de que é preciso tirar o atraso e apressar os investimentos, não só para reativar o emprego num setor prostrado pela imobilidade, mas, também, para proporcionar mais receitas com royalties que tanta falta vêm fazendo nos orçamentos combalidos dos Estados e prefeituras.
A Agência Nacional do Petróleo já tem agendados para este ano mais dois leilões de áreas e outros dois, para 2018 e 2019. Também se propõe a fazer duas rodadas de venda de campos maduros em terra, no Recôncavo.
O sucesso do leilão de hoje deve ser visto como espécie de prévia para o resultado do leilão de 27 de outubro, que contemplará cobiçadas áreas do pós-sal na Bacia de Santos.
CONFIRA
» Avanço real do crédito
Os dados mais recentes divulgados pelo Banco Central hoje mostram notória expansão do crédito, especialmente às pessoas jurídicas. Os números do gráfico ao lado estão deflacionados. Acusam um crescimento de 2,5% ante a agosto de 2016 no segmento das concessões livres às empresas. Isso significa aumento tanto da demanda por financiamentos como da disposição dos bancos em ampliar suas operações de crédito. É mais uma indicação de que o setor produtivo está se recuperando.


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