segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Energia solar avança no Estado de São Paulo



Um dos destaques do último relatório da Piesp sobre os anúncios de investimentos de 2016 foi a aplicação de recursos financeiros em empreendimentos relacionados à energia solar, especialmente à geração fotovoltaica distribuída, no Estado de São Paulo. Inversões desse tipo também constam em anúncios captados no início de 2017.
Entre os projetos apontados pela pesquisa está a implantação, pela CPFL Energia, de sistemas solares fotovoltaicos no município de Campinas, envolvendo 200 unidades residenciais, o data center da Algar Tech e o hospital do Centro Infantil Boldrini. A empresa anunciou, ainda, a instalação de usina fotovoltaica no campus universitário da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação, em Lins. Já a Enel instalou a maior usina em telhado do Brasil, com duas mil placas solares, em Osasco, na nova sede do Mercado Livre, um dos líderes em comércio eletrônico na América Latina.
Outros investimentos destinaram-se às indústrias do setor, como a construção de fábricas de painéis solares em Campinas, pela BYD, Schutten We Brazil e DYA Solar; em Valinhos, pela Globo Brasil; e em Sorocaba, pela Flextronics, em parceria com Canadian Solar. Acrescente-se a unidade de produção de inversores em Sorocaba, pela ABB, e a de reatores elétricos em Itu, pela Trafotek.

geração distribuída (GD) vem se consolidando no mundo como forma inteligente de produzir eletricidade. Essa expressão é usada para designar a geração elétrica realizada junto ou próxima do(s) consumidor(es), independentemente da potência, tecnologia e fonte de energia. Esse tipo de produção diminui os custos da energia para o onsumidor, proporciona maior segurança no fornecimento, evita perdas em linhas de transmissão, não causa impactos ambientais e ainda contribui para a redução de emissão de gases com efeito estufa e a diversificação da matriz energética.
Os dados do mercado de GD, divulgados no site da Aneel, mostram que, entre janeiro de 2012 e junho de 2017, foram registradas no país 12.237 unidades de GD, que somam potência instalada de 139,1 MW. A quase totalidade dessas geradoras de pequeno porte (12.115) é do tipo solar fotovoltaica (UFV), 54 são termelétricas (UTE), 52 eólicas (EOL) e 16 centrais geradoras hidrelétricas (CGH).
Cerca de 42% das unidades fotovoltaicas (UFVs) dividem-se entre os estados de Minas Gerais e São Paulo. Os 58% restantes (7.015) distribuem-se em outras 23 UFs. Desde dezembro de 2015, o maior avanço nas conexões fotovoltaicas ocorreu no Estado de São Paulo, com um crescimento superior a12 vezes, passando de 200 para 2.496 unidades. Embora o Estado ainda ocupe a segunda colocação no período total analisado, o número de ligações registradas somente no primeiro semestre de 2017 (1.105) ultrapassou o do líder mineiro (988).
Entre os municípios paulistas, Campinas apresentou o maior número de conexões, com 16,7% do total do Estado (417), vindo, a seguir, São Paulo (195), São José do Rio Preto (86), Ribeirão Preto (62), Moji-Mirim (55), Bauru (50), Indaiatuba (49), Sorocaba (46) e Valinhos (40). Também constam UFVs em mais 263 cidades. Cabe ressaltar que Lins foi a 48ª colocada em número de unidades consumidoras, mas a terceira em potência instalada, situando-se abaixo apenas de Campinas e São Paulo, graças à usina do campus da FPTE (459 kW), um dos já citados destaques da Piesp 2016.
Pouco menos da metade das UFVs do Estado de São Paulo (46,4%, ou 1.158 ligações) está conectada à rede da distribuidora CPFL Paulista. Outras três concessionárias, juntas, respondem por 39,2% do total: Elektro (436), AES Eletropaulo (286) e CPFL Piratininga (257). A maioria absoluta dos empreendimentos (99,6%) enquadra-se na categoria de microgeração, com potência igual ou inferior a 75 kW, predominando a faixa entre 1 e 3 kW (49,6%). A principal classe de consumo é a residencial, que, na comparação dos períodos 2012-2015 e 2016-2017 (até junho), teve alta superior a 11 vezes, seja na quantidade de UFVs (de 169 para 1.987 ligações), seja na potência instalada (de 643,8 para 7.678,3 kW). Quanto às modalidades de uso, mais de 93% das conexões (2.328) geram energia na própria unidade de consumo; as demais ainda têm pouca representatividade (167 unidades de autoconsumo remoto e apenas uma de geração compartilhada).
As perspectivas para a GD solar são positivas. Em dezembro de 2016, o governo paulista, em parceria com as concessionárias de distribuição elétrica, iniciou projeto-piloto de instalação de placas solares e inversores em 26 casas construídas pela CDHU nos municípios de Pontes Gestal, Elisiário e Itatinga. Os resultados desse projeto servirão de base para instalar sistemas semelhantes em outras 51 mil moradias construídas entre 2011 e 2016. Embora ainda seja incipiente, a geração de energia solar também tem forte potencial de expansão em galpões, armazéns, estabelecimentos industriais, comerciais e na agricultura.
Novas oportunidades de negócios, emprego e renda tendem a se multiplicar nos vários segmentos que integram a cadeia produtiva fotovoltaica. No Estado de São Paulo, já operam fábricas de painéis solares, inversores e outros componentes do kit de geração solar, como estruturas de suporte das placas fotovoltaicas, cabos, trackers(rastreadores que acompanham o movimento do sol) e medidores bidirecionais de carga elétrica. Também ganham relevância os fornecedores de serviços vinculados a essa área, como a elaboração de projetos de engenharia e arquitetura, montagem e manutenção dos equipamentos, capacitação técnica de instaladores, consultoria econômico-financeira, logística e canais de venda. Empresas de diferentes portes, inclusive redes de franquias e startups, visam inserção nesse mercado. Grandes operadoras do setor elétrico estão criando divisões específicas para oferecer soluções completas aos consumidores que pretendem produzir sua própria energia.
A redução gradativa dos custos da GD fotovoltaica deve ampliar a demanda, sendo que diversas instituições financeiras, públicas e privadas, buscam oferecer linhas de crédito cada vez mais atraentes aos interessados.

Estatísticas de desigualdade não mostram tudo, Vinícius Mota, FSP




Loic Venance - 13.mai.2016/AFP
O economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21"
O economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade
SÃO PAULO - Vem do provocador Nassim Taleb, especulador das finanças e pensador da incerteza, a ideia de que o mundo contemporâneo se divide entre Mediocristão, de um lado, e Extremistão, do outro.
No primeiro, onde vive a maioria dos humanos, riquezas não brotam nem desaparecem num átimo. Ganhos e perdas são graduais e limitados por barreiras físicas, como a incapacidade de trabalhar, digamos, mais de 20 horas por dia. As médias descrevem bem esse país imaginário.
No Extremistão, o trabalho se emancipou da natureza. Algumas horas de dedicação a uma canção podem fazer do seu intérprete um milionário instantâneo. Três cliques no mouse e lá se foi uma fortuna na Bolsa. Essa terra congrega um punhado de gigantes, uma multidão de anões e ninguém entre as duas categorias. As médias, mais que inúteis, iludem.
Estatísticas sobre desigualdade de renda e patrimônio, em franco aprimoramento após trabalhos como o de Thomas Piketty, tratam esses dois mundos como se fossem um. Extremistão domina Mediocristão. Sorteie 215 mil norte-americanos e apure sua riqueza média. Se Mark Zuckerberg for um deles, o resultado será o dobro do que é para o conjunto dos EUA.
A melhora do termômetro não significa que vejamos tudo de importante por meio dele. A mesma lógica de escalabilidade que produz fortunas pessoais inimagináveis provavelmente também favorece o mais abrangente avanço nas condições de vida que a humanidade testemunhou.
No caso do Brasil, há problemas adicionais. Digamos que se consiga, com impostos, retirar metade da renda dos 10% mais ricos. Ainda assim, seria preciso arrancar dos outros estratos algo próximo de dez pontos percentuais do PIB para satisfazer necessidades do gasto público.
Os 40% logo abaixo, dos quais viria o grosso da arrecadação faltante, ganham só 15% da renda média dos mais ricos. 

artigo muito parecido publicado em 26 de maio de 2008 na revista Época

Mediocristão/Extremistão




Bem, o tal cara médio (ver post anterior) define um mercado de massa exatamente porque,sendo médio, ele tem um comportamento previsível, mas é só isso.
Temos a tendência de achar que em tudo tem que haver um “normal”,que as coisas vão se acomodar no “médio”,mas isso é ilusão.Vou explicar.
Os eventos que tendem a influenciar mais nossas vidas hoje, tendem a ser “fora do normal”,”cisnes negros”, na terminologia de Nassim Taleb.Há razões (bem entendidas) para que isso seja assim,mas vou pulá-las para não alongar demais.
Nós,humanos, fomos projetados para viver em ambientes em que as as coisas mudavam muito lentamente. Ambientes ancestrais eram devagar, quase parando.
Havia um “normal”claramente definido. Embutimos em nosso equipamento mental comportamentos para lidar com esse “normal”.Perigos “fora do normal” eram catalogáveis e evitáveis porque eram poucos. Era um tigre,uma serpente traiçoeira,um encontro com outra tribo….Saíamos correndo se desse,se não desse,lutávamos.
Nassim Taleb criou os termos “Mediocristão” e “Extermistão” para falar de nossa obsessão pelo “normal”
Mediocristão é o lugar em que o médio,o normal e o esperado prevalecem.No Mediocristãonão existe um evento que possa mudar as coisas decisivamente.
Por exemplo:pegue mil pessoas e tire a média de suas alturas. Elas se distribuem em torno de uma média. Não é possível encontrar alguém com alturas extremas- 10cm ou 1km.Desvios da média ocorrem dentro de uma faixa muito limitada, e somem rápido à medida que você se afasta dela (média).Não existe a hipótese de que uma única pessoa,ao entrar na amostra,altere a média dos 1000.Ela é estável.
Peso, altura,características físicas em geral… são do Mediocristão. Os comportamentos humanos também são.
Agora considere a riqueza das pessoas.
Pegue ,ao acaso,mil pessoas com graus variados de riqueza e tire a média. Agora chame o Bill Gates. Ele altera a média pra valer.
A riqueza dos indivíduos mora no Extremistão.
Não há limites naturais para eventos no Extremistão.
Ali,um único evento (chamado Bill Gates neste caso) distorce totalmente distribuição.
Se duas pessoas, tomadas ao acaso, têm pesos somados de 160 Kg, pode apostar que os pesos individuais estarão numa faixa previsível- um terá 90 Kg outro 70Kg ou por aí. Pesos de pessoas habitam o Mediocristão.
Mas, se dois indivíduos, tomados ao acaso, têm rendas somadas de 15 milhões de reais, é muito provável que um ganhe R$ 14,99 milhões e o outro seja duro. A riqueza das pessoas mora no Extremistão. Aqui não vale média. Não vale distribuição normal.Não vale Gauss.
O que interessa na vida em sociedade (em negócios também) está ficando cada vez mais Extremistão.
O Google é do Extremistão. O 11 de setembro também. Longe do esperado, do normal. Não há mais o “esperado”.O “normal”,morreu.
Cauda Longa.Longe da média.
Os “Cisnes Negros” de Nassim Taleb habitam o Extremistão.

A quem interessa demonizar os Batistas?, Mario Rosa FSP


Zanone Fraissat/Folhapress
Wesley e Joesley Batista, da JBS, empresa da holding J&F
Wesley (à esq.) e Joesley Batista, da JBS, empresa da holding J&F

Quando estrearam como colaboradores, os irmãos Batista foram catapultados para o panteão de salvadores da pátria: tudo o que diziam era verdade absoluta.
Eis que girou a roda do destino, e eles se convertem agora no inimigo público número 1. A opinião pública nunca esteve tão bipolar em termos de imagem e reputação. Mas há outra questão: a quem interessa a demonização dos Batistas?
Como consultor de crises, trabalhei no epicentro de escândalos nos últimos vinte anos. Não tenho pretensão de psicografar pensamentos, mas convivi tanto com criminalistas em tantos casos que acho que escreveriam assim, se pudessem:
-Sou advogado de Joesley e não brigo com os fatos: politicamente, as gravações são horríveis, e a mídia vai fazer um estrago. O cara tava na pior, e uísque nunca ajudou nenhum depoente. Agora, fala sério: Joesley prestou uma baita contribuição ao país, pô! Trouxe a público a delação mais sólida e detalhada da história. Fez tudo vo-lun-ta-ria-men-te. Toda delação é um vai e volta: tem recall. Eles fizeram tudo certinho. As fitas criaram essa onda negativa toda, mas o MP virou surfista? Não podem desmerecer tudo que foi feito. Os Batistas merecem linchamento?
Eu responderia a essa questão imaginária: os humores da opinião pública sempre são voláteis em grandes escândalos, mas jamais houve um escândalo da magnitude do atual.
Na verdade, vivemos uma pandemia de escândalos. E a sociedade, politraumatizada, está vulnerável a qualquer solução que pareça solução. Mesmo que não seja.
Concentrar a discussão nos delatores, e não nas delações, significa desviar o foco e um alívio e tanto para os delatados. Essa é a consequência imediata da histeria contra os Batistas.
Então, a Lava Jato encontra-se do ponto de vista de imagem numa espécie de paradoxo: a vilanização dos Batistas interessa a todos os que se beneficiaram do sistema ultrapassado e carcomido que eles, é inegável, ousaram denunciar.
A jabuticaba da JBS entrará para a história: os delatores estão na cadeia. Nenhum delatado está.
Não vou nem mencionar Wesley, preso por causa do sobrenome. Fosse Wesley Mendes ou Silva, não estaria nesta história.
No caso da JBS, o presidente do BNDES vocifera contra a empresa. Mas empresas abertas não podem estar sujeitas a pressões políticas. Elas têm é que estar imunes. A JBS não é do BNDES, nem do governo. É de todos os acionistas. Quem deve decidir seu destino é a Justiça.
Sem querer invocar atitudes mediúnicas, apenas para que o leitor entenda como pensa o "lado de lá", diria que os advogados de defesa pensam assim:
-Pô, o Joesley mudou. Rompeu com tudo. Ser colaborador foi uma mudança de vida, uma viagem sem volta, uma quebra definitiva, um ato de grandeza. E, claro, um cara que faz isso sai do eixo. É muita ansiedade, angústia, medo. Sem contar as demandas de documentos para comprovar o que falou, o rompimento de amizades de décadas. Quem não cai num stress no meio disso? E aí um momento de fraqueza exposto publicamente e, de repente, tudo o que ele fez de bom não vale nada?
Encerro eu mesmo: Joesley não é um herói, mas não é o maior vilão do país. A vilania, hoje, torce para o calvário dele...
MARIO ROSA é consultor de crises, palestrante e autor de quatro livros sobre imagem e reputação
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