Loic Venance - 13.mai.2016/AFP | ||
O economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade |
SÃO PAULO - Vem do provocador Nassim Taleb, especulador das finanças e pensador da incerteza, a ideia de que o mundo contemporâneo se divide entre Mediocristão, de um lado, e Extremistão, do outro.
No primeiro, onde vive a maioria dos humanos, riquezas não brotam nem desaparecem num átimo. Ganhos e perdas são graduais e limitados por barreiras físicas, como a incapacidade de trabalhar, digamos, mais de 20 horas por dia. As médias descrevem bem esse país imaginário.
No Extremistão, o trabalho se emancipou da natureza. Algumas horas de dedicação a uma canção podem fazer do seu intérprete um milionário instantâneo. Três cliques no mouse e lá se foi uma fortuna na Bolsa. Essa terra congrega um punhado de gigantes, uma multidão de anões e ninguém entre as duas categorias. As médias, mais que inúteis, iludem.
Estatísticas sobre desigualdade de renda e patrimônio, em franco aprimoramento após trabalhos como o de Thomas Piketty, tratam esses dois mundos como se fossem um. Extremistão domina Mediocristão. Sorteie 215 mil norte-americanos e apure sua riqueza média. Se Mark Zuckerberg for um deles, o resultado será o dobro do que é para o conjunto dos EUA.
A melhora do termômetro não significa que vejamos tudo de importante por meio dele. A mesma lógica de escalabilidade que produz fortunas pessoais inimagináveis provavelmente também favorece o mais abrangente avanço nas condições de vida que a humanidade testemunhou.
No caso do Brasil, há problemas adicionais. Digamos que se consiga, com impostos, retirar metade da renda dos 10% mais ricos. Ainda assim, seria preciso arrancar dos outros estratos algo próximo de dez pontos percentuais do PIB para satisfazer necessidades do gasto público.
Os 40% logo abaixo, dos quais viria o grosso da arrecadação faltante, ganham só 15% da renda média dos mais ricos.
artigo muito parecido publicado em 26 de maio de 2008 na revista Época
Bem, o tal cara médio (ver post anterior) define um mercado de massa exatamente porque,sendo médio, ele tem um comportamento previsível, mas é só isso.
Temos a tendência de achar que em tudo tem que haver um “normal”,que as coisas vão se acomodar no “médio”,mas isso é ilusão.Vou explicar.
Os eventos que tendem a influenciar mais nossas vidas hoje, tendem a ser “fora do normal”,”cisnes negros”, na terminologia de Nassim Taleb.Há razões (bem entendidas) para que isso seja assim,mas vou pulá-las para não alongar demais.
Nós,humanos, fomos projetados para viver em ambientes em que as as coisas mudavam muito lentamente. Ambientes ancestrais eram devagar, quase parando.
Havia um “normal”claramente definido. Embutimos em nosso equipamento mental comportamentos para lidar com esse “normal”.Perigos “fora do normal” eram catalogáveis e evitáveis porque eram poucos. Era um tigre,uma serpente traiçoeira,um encontro com outra tribo….Saíamos correndo se desse,se não desse,lutávamos.
Nassim Taleb criou os termos “Mediocristão” e “Extermistão” para falar de nossa obsessão pelo “normal”
O Mediocristão é o lugar em que o médio,o normal e o esperado prevalecem.No Mediocristãonão existe um evento que possa mudar as coisas decisivamente.
Por exemplo:pegue mil pessoas e tire a média de suas alturas. Elas se distribuem em torno de uma média. Não é possível encontrar alguém com alturas extremas- 10cm ou 1km.Desvios da média ocorrem dentro de uma faixa muito limitada, e somem rápido à medida que você se afasta dela (média).Não existe a hipótese de que uma única pessoa,ao entrar na amostra,altere a média dos 1000.Ela é estável.
Peso, altura,características físicas em geral… são do Mediocristão. Os comportamentos humanos também são.
Agora considere a riqueza das pessoas.
Pegue ,ao acaso,mil pessoas com graus variados de riqueza e tire a média. Agora chame o Bill Gates. Ele altera a média pra valer.
A riqueza dos indivíduos mora no Extremistão.
Não há limites naturais para eventos no Extremistão.
Ali,um único evento (chamado Bill Gates neste caso) distorce totalmente distribuição.
Se duas pessoas, tomadas ao acaso, têm pesos somados de 160 Kg, pode apostar que os pesos individuais estarão numa faixa previsível- um terá 90 Kg outro 70Kg ou por aí. Pesos de pessoas habitam o Mediocristão.
Mas, se dois indivíduos, tomados ao acaso, têm rendas somadas de 15 milhões de reais, é muito provável que um ganhe R$ 14,99 milhões e o outro seja duro. A riqueza das pessoas mora no Extremistão. Aqui não vale média. Não vale distribuição normal.Não vale Gauss.
O que interessa na vida em sociedade (em negócios também) está ficando cada vez mais Extremistão.
O Google é do Extremistão. O 11 de setembro também. Longe do esperado, do normal. Não há mais o “esperado”.O “normal”,morreu.
Cauda Longa.Longe da média.
Os “Cisnes Negros” de Nassim Taleb habitam o Extremistão.
No primeiro, onde vive a maioria dos humanos, riquezas não brotam nem desaparecem num átimo. Ganhos e perdas são graduais e limitados por barreiras físicas, como a incapacidade de trabalhar, digamos, mais de 20 horas por dia. As médias descrevem bem esse país imaginário.
No Extremistão, o trabalho se emancipou da natureza. Algumas horas de dedicação a uma canção podem fazer do seu intérprete um milionário instantâneo. Três cliques no mouse e lá se foi uma fortuna na Bolsa. Essa terra congrega um punhado de gigantes, uma multidão de anões e ninguém entre as duas categorias. As médias, mais que inúteis, iludem.
Estatísticas sobre desigualdade de renda e patrimônio, em franco aprimoramento após trabalhos como o de Thomas Piketty, tratam esses dois mundos como se fossem um. Extremistão domina Mediocristão. Sorteie 215 mil norte-americanos e apure sua riqueza média. Se Mark Zuckerberg for um deles, o resultado será o dobro do que é para o conjunto dos EUA.
A melhora do termômetro não significa que vejamos tudo de importante por meio dele. A mesma lógica de escalabilidade que produz fortunas pessoais inimagináveis provavelmente também favorece o mais abrangente avanço nas condições de vida que a humanidade testemunhou.
No caso do Brasil, há problemas adicionais. Digamos que se consiga, com impostos, retirar metade da renda dos 10% mais ricos. Ainda assim, seria preciso arrancar dos outros estratos algo próximo de dez pontos percentuais do PIB para satisfazer necessidades do gasto público.
Os 40% logo abaixo, dos quais viria o grosso da arrecadação faltante, ganham só 15% da renda média dos mais ricos.
artigo muito parecido publicado em 26 de maio de 2008 na revista Época
Mediocristão/Extremistão
26/05/2008 - | IDEIAS E INOVAÇÃOBem, o tal cara médio (ver post anterior) define um mercado de massa exatamente porque,sendo médio, ele tem um comportamento previsível, mas é só isso.
Temos a tendência de achar que em tudo tem que haver um “normal”,que as coisas vão se acomodar no “médio”,mas isso é ilusão.Vou explicar.
Os eventos que tendem a influenciar mais nossas vidas hoje, tendem a ser “fora do normal”,”cisnes negros”, na terminologia de Nassim Taleb.Há razões (bem entendidas) para que isso seja assim,mas vou pulá-las para não alongar demais.
Nós,humanos, fomos projetados para viver em ambientes em que as as coisas mudavam muito lentamente. Ambientes ancestrais eram devagar, quase parando.
Havia um “normal”claramente definido. Embutimos em nosso equipamento mental comportamentos para lidar com esse “normal”.Perigos “fora do normal” eram catalogáveis e evitáveis porque eram poucos. Era um tigre,uma serpente traiçoeira,um encontro com outra tribo….Saíamos correndo se desse,se não desse,lutávamos.
Nassim Taleb criou os termos “Mediocristão” e “Extermistão” para falar de nossa obsessão pelo “normal”
O Mediocristão é o lugar em que o médio,o normal e o esperado prevalecem.No Mediocristãonão existe um evento que possa mudar as coisas decisivamente.
Por exemplo:pegue mil pessoas e tire a média de suas alturas. Elas se distribuem em torno de uma média. Não é possível encontrar alguém com alturas extremas- 10cm ou 1km.Desvios da média ocorrem dentro de uma faixa muito limitada, e somem rápido à medida que você se afasta dela (média).Não existe a hipótese de que uma única pessoa,ao entrar na amostra,altere a média dos 1000.Ela é estável.
Peso, altura,características físicas em geral… são do Mediocristão. Os comportamentos humanos também são.
Agora considere a riqueza das pessoas.
Pegue ,ao acaso,mil pessoas com graus variados de riqueza e tire a média. Agora chame o Bill Gates. Ele altera a média pra valer.
A riqueza dos indivíduos mora no Extremistão.
Não há limites naturais para eventos no Extremistão.
Ali,um único evento (chamado Bill Gates neste caso) distorce totalmente distribuição.
Se duas pessoas, tomadas ao acaso, têm pesos somados de 160 Kg, pode apostar que os pesos individuais estarão numa faixa previsível- um terá 90 Kg outro 70Kg ou por aí. Pesos de pessoas habitam o Mediocristão.
Mas, se dois indivíduos, tomados ao acaso, têm rendas somadas de 15 milhões de reais, é muito provável que um ganhe R$ 14,99 milhões e o outro seja duro. A riqueza das pessoas mora no Extremistão. Aqui não vale média. Não vale distribuição normal.Não vale Gauss.
O que interessa na vida em sociedade (em negócios também) está ficando cada vez mais Extremistão.
O Google é do Extremistão. O 11 de setembro também. Longe do esperado, do normal. Não há mais o “esperado”.O “normal”,morreu.
Cauda Longa.Longe da média.
Os “Cisnes Negros” de Nassim Taleb habitam o Extremistão.
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