O Brasil tem mais de 170 milhões de smartphones em operação. Daqui a um ano, segundo projeção da Fundação Getúlio Vargas, eles serão mais de 236 milhões. Cada aparelho tem em média 15 aplicativos que servem para o usuário se comunicar, se divertir, monitorar dados de saúde, pedir uma refeição, realizar operações bancárias, se informar, se orientar no trânsito, entre outras atividades.
A grande maioria não se dá conta, mas por trás daquele pequeno ícone que aparece na tela do celular ou do tablet há uma altíssima tecnologia, a cada dia mais sofisticada. E o propósito dessa alta tecnologia é simplificar o uso do aplicativo para facilitar a vida das pessoas.
"A tecnologia fica cada vez mais complexa na parte invisível para que o uso do aplicativo fique mais amigável para o usuário. A regra básica é a busca pela simplicidade", afirma Antonio Graeff, especialista em criação de produtos digitais com mais de 18 anos de experiência.
Essa máxima da alta tecnologia invisível em busca de um serviço melhor e mais simples serve para os aplicativos, mas também para muitos outros equipamentos que nos rodeiam. Graeff cita o exemplo dos carros, cuja parte mecânica básica se mantém muito parecida desde Henry Ford, na virada do século 19 para o 20.
Mas a alta tecnologia está lá, imperceptível a olho nu, em milhões de linhas de código que controlam desde a ingestão de combustível até o funcionamento dos freios.
Para acadêmicos, desenvolvedores e empresas que se utilizam do universo digital, está bastante claro que o uso inteligente da alta tecnologia não tem nada de exibicionista.
Pelo contrário. Ao usar um aplicativo que funciona bem, o consumidor não deve pensar em como foi difícil desenvolvê-lo ou em quantos "nerds" vindos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) passaram meses ou anos trabalhando nele. Deve pensar em como é fácil utilizá-lo ou simplesmente não pensar em nada, uma vez que a experiência deve ser prazerosa, não penosa.
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Outra preocupação é que esses serviços sejam inclusivos para públicos que tenham familiaridades muito distintas com o universo digital. Afinal, a internet como a conhecemos hoje (com a introdução do www - world wild web) está à beira de completar 26 anos, e os smartphones ganharam popularidade só depois de 2007, com o lançamento do primeiro iPhone.
É pouquíssimo tempo, e isso quer dizer que enquanto os nascidos na era pós-internet podem ser considerados doutores no manejo de equipamentos e serviços digitais, alguns com mais idade ainda engatinham neste mundo.
"Ninguém pode ser deixado para trás ou ficar com dificuldade de acesso a essas ferramentas que estão aí para facilitar a vida de todos. Essa é uma das principais preocupações de desenvolvedores de aplicativos", afirma Juliano Spyer, antropólogo digital e pesquisador da University College London.
Spyer fez parte de um grupo multinacional que pesquisou o uso de meios digitais e a influência que eles exercem em comunidades díspares como o interior da Bahia, do Chile, da Índia ou da Itália, entre outras.
"Há muitas diferenças na forma como as pessoas se relacionam com aplicativos, com a internet. Em um mesmo país, em uma mesma cidade, as diferenças estão presentes e ligadas a idade, escolaridade, interesse por esse universo. Quem quiser atingir e ser compreendido por todo mundo terá que apostar na simplicidade", afirma Spyer.
Além da simplicidade, há outras características que um bom app de serviço deve ter.
Primeiro, ser ágil. Se demorar para abrir ou para ir de uma função a outra, o usuário tenderá a abandoná-lo.
Depois, ser organizado visualmente. É preciso haver uma priorização das funções, para que as de maior demanda estejam mais à mão.
Não deve também ocupar muita memória do aparelho. Ninguém gosta de ler a mensagem "armazenamento quase cheio" em seu celular, e, quando isso acontece, tende a apagar o aplicativo pelo tamanho que ocupa.
Precisa ser autoexplicativo e ter foco. Se quiser ser muito abrangente (com excesso de funções), não conseguirá cumprir as exigências anteriores.
E, mais importante que tudo, precisa resolver as necessidades do usuário.