O maior desafio do
novo presidente é colocar a economia brasileira nos trilhos. Isso requer
ajustar as contas públicas para evitar um crescimento explosivo da dívida.
Esse ajuste é
muito complicado em uma recessão, pois a arrecadação de impostos é
menor e aumentar impostos nesse momento torna ainda mais
difícil a recuperação.
Se o novo governo
conseguisse transmitir confiança aos investidores e, assim, atrair
investimentos, a tarefa seria menos complicada por dois motivos: esse
aumento no investimento e na produção teria um efeito positivo na arrecadação
(menos cortes seriam necessários); e o consequente aumento no nível de
emprego colaboraria para a popularidade do novo governo e, assim,
reduziria a oposição às reformas.
Então, como transmitir
confiança?
O governo precisa
convencer os agentes econômicos que será capaz de aprovar uma
série de medidas econômicas que implicam em gastos públicos menores e/ou
impostos maiores. Muita gente vai reclamar.
Portanto, para transmitir
confiança, o presidente precisa mostrar que será capaz
de suportar pressões de vários grupos e de angariar algum
apoio da opinião pública.
A questão do
Ministério ou Secretaria da Cultura é pouco relevante. Em princípio,
a mudança poderia ser só uma troca de nome. Só que Michel Temer
poderia ter usado esse episódio para transmitir confiança.
Usando a terminologia de
teoria dos jogos, a chiadeira contra a extinção do Ministério da Cultura deu ao
presidente a oportunidade de “sinalizar seu tipo”, ou seja, deu-lhe a chance
de mostrar que teria condições de suportar pressões e ditar a agenda.
Por exemplo, me parece que
seria fácil para o governo olhar os orçamentos dos ministérios e:
(1) Achar algum motivo pelo
qual faria sentido ter o Ministério da Cultura junto com o da Educação. Alguma
secretaria ou órgão com função parecida nos dois ministérios, ou alguns
programas que poderiam ser combinados, alguma sinergia, qualquer coisa.
Qualquer coisa que pudesse ser usada para argumentar que a mudança será benéfica (mesmo que depois alguém
pudesse apontar contra argumentos).
(2) Achar algum
gasto que pode ser cortado, algum incentivo que pode ser modificado
(talvez por algum tempo), alguma coisa que signifique uma economia de recursos
e que a maior parte da população seja a favor (claro que alguns vão
chiar, é preciso aguentar).
(3) Achar algum gasto
que foi cortado, algum programa que não foi executado pela gestão
anterior, qualquer coisa que custe menos que o que será cortado (o item 2) e
pareça um melhor uso de recursos.
Por exemplo: seria
reduzido o incentivo fiscal a grandes empresas (ou bancos!) que
financiam eventos direcionados aos mais ricos (com ingressos caros); aumentaria
o incentivo fiscal para algum tipo de projeto de arte com entrada franca. No
total, o país economizaria um troco.
Os jornais trariam os
argumentos dos Ministros ou Secretários com números e exemplos que
quase ninguém conhece ou tem acesso (ou paciência para olhar). Até alguém
achar os dados, entender o assunto e estruturar um
bom contra-argumento, levaria uma semana. Nesse tempo, o assunto já
estaria esfriando e o debate ficaria restrito aos mais interessados.
A economia de recursos
seria ínfima se comparada ao tamanho do ajuste, mas o governo
conseguiria “sinalizar seu tipo”.
À opinião pública, o
governo passaria a impressão de saber o que está fazendo e de estar
buscando um ajuste fiscal razoável.
Aos mais cínicos (como eu),
o governo passaria a impressão de conseguir suportar pressões e de ser
capaz de trazer a opinião pública para seu lado. Investidores passariam
a acreditar que o governo teria condições de fazer limonadas dos
vários limões que ainda serão atirados quando medidas de ajuste forem
propostas.
Ao invés disso, temos as
piadas sobre o Ministério do Recuo.
A teoria dos jogos nos diz
que quem não aproveita a chance para transmitir uma mensagem positiva
efetivamente transmite uma mensagem negativa.
A implicação é que os
agentes econômicos devem ficar um pouco mais céticos em relação à capacidade
desse governo aprovar as medidas de ajuste.