Conservador
é uma coisa, direita é outra, mas os males de Pindorama nunca vieram de uma nem
da outra. Vieram do atraso que sustenta um pedaço do andar de cima.
Michel
Temer entrou no Planalto com a bandeira da reforma da Previdência. Ela gira em
torno da elevação da idade com que os brasileiros podem se aposentar. Faz
sentido que ninguém vá para a conta da Viúva antes dos 65 anos. Falta explicar
como ficarão as pessoas do andar de baixo que estão há décadas no sistema do
INSS. Não foram eles quem quebraram a Previdência.
Foi
o atraso. Michel Temer, procurador do Estado de São Paulo, requereu sua
aposentadoria em 1996, aos 55 anos. Desde então, passou a receber R$ 9.300
mensais. Naqueles dias, o cardiologista Adib Jatene, ícone da medicina brasileira
comentava: "Tenho 66 anos de idade e 38 de serviço público. Não me
aposentei". À época, o deputado Temer relatava a reforma da Previdência
dos outros.
O
deputado Ricardo Barros, ministro da Saúde de Temer, diz que o SUS deve
restringir suas atividades e aplaude a proliferação de planos privados. Ele não
é freguês do SUS, mas sua campanha recebeu uma doação de R$ 100 mil do
presidente da operadora de saúde privada Aliança. Já o ministro do
Desenvolvimento Social, doutor Osmar Terra, ponderou que é preciso
"oportunizar" a saída de gente do Bolsa Família e que esse cheque não
pode virar "coleira política". Tem toda razão, mas nem todo mundo é
capaz de "oportunizar" um acesso à "coleira" da Odebrecht,
que injetou R$ 190 mil na sua campanha eleitoral.
Como
disse Temer ao justificar seu pedido de aposentadoria, tudo foi feito dentro da
legalidade, pois do contrário pareceria que era um "safardana". Nem
ele, nem Barros ou Terra são safardanas. São apenas parte de um enorme e
histórico processo de predominância do atraso.
Os
doutores nem novidade são. O patrono do ensino de economia no Brasil é José da
Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835). Ele foi o primeiro professor de
"ciência econômica" e propagava as ideias do escocês Adam Smith, o da
"mão invisível" do mercado. Quando foi transferido de escola, Smith
ofereceu-se para devolver aos alunos o dinheiro do curso. Cairu aposentou-se
aos 50 anos e nunca deu uma aula.
A COBRA QUE RI
Se
Lula tiver saúde e estiver no uso e gozo de seus direitos políticos, será
candidato a presidente em 2018.
A
ideia de que se esmagou a cabeça da cobra da jararaca é prematura.
Essa
especulação poderá ser mais bem avaliada depois da eleição municipal. Se o PT
segurar a Prefeitura de São Paulo, a jararaca voltará a sorrir.
EM AÇÃO
Na
quinta-feira (19), o secretário-executivo Moreira Franco e seu colega Raul
Jungmann, ministro da Defesa, almoçavam no restaurante Laguiole, no Rio.
Um
curioso fez a conta: eram acompanhados por seis seguranças.
Com
a linda vista do Museu de Arte Moderna, o Laguiole é um dos mais caros da
cidade.
No
início do consulado petista, o mesmo curioso estava no Piantella de Brasília e
percebeu que havia algo de novo no país quando viu a relação de Jair
Meneguelli, ex-presidente da CUT, com uma taça de vinho. Ele manuseava o copo
com a coreografia de um Rothschild no Maxim's.
JOGO CHINÊS
O
companheiro Xi Jinping, presidente da China, avançou sobre o seu antecessor Hu
Jintao.
Numa
noite de 2012, uma Ferrari 458 Spider encaçapou-se num muro, matando o
motorista e uma das jovens seminuas que estavam a bordo. O garoto era filho de
Ling Jinhua, principal assessor do presidente Hu. Alguns amigos do mundo do
petróleo compraram silêncios e a operação abafa foi um êxito.
O
companheiro Xi vem decapitando as quadrilhas de poderosos. Encarcerou um rival,
meteu na cadeia o chefe dos serviços de segurança. Agora o poderoso Ling vai
para a cana.
Começa-se a suspeitar de que a campanha contra a corrupção esteja acompanhada de um projeto de poder pessoal de Xi.
Começa-se a suspeitar de que a campanha contra a corrupção esteja acompanhada de um projeto de poder pessoal de Xi.
A MÁGICA DE CUNHA
Eduardo
Cunha tem um aliado em André Moura, o novo líder do governo na Câmara, e não se
pode dizer que tenha um adversário no Palácio do Planalto.
Para
fechar sua grande mágica, Cunha precisa eleger o novo presidente da Câmara. Ele
sabe que ninguém conseguirá o lugar sem o apoio de sua bancada particular.
DINASTIA
José
Mendonça Bezerra, pai de Mendonça Filho, o ministro da Educação na caravana
Temer, elegeu-se sete vezes deputado federal por Pernambuco.
O
ministro é genro de Marcos Vilaça, autor de um dos melhores livros sobre o
patriarcado político nacional. Chama-se "Coronel, Coronéis - Apogeu e
Declínio do coronelismo no Nordeste" e foi publicado quando Vilaça tinha
26 anos.
Alguém
poderia retomar o assunto. Temer tem três ministros que se identificam pela
condição de "filho" (Mendonça, Sarney e Fernando Coelho).
O
Barão do Rio Branco era filho do poderoso Visconde e tinha a mesmo nome do pai,
mas ninguém teve a ousadia de chamá-lo de Paranhos Filho.
O PATO DE SKAF
Se
Temer aumentar um imposto, coisa que parece inevitável, o doutor Paulo Skaf,
presidente da Fiesp, deverá recolocar aquele grande pato amarelo diante da sede
da guilda.
A
volta do enfeite poderá significar uma de duas coisas, ou ambas: O pato era
Skaf. O pato era quem acreditava em Skaf.
VENEZUELA
O
comissariado petista diz que o impedimento de Dilma Rousseff foi um golpe. Já
as malfeitorias do presidente venezuelano Nicolás Maduro seriam aperfeiçoamento
da democracia direta.
Tem
razão o grande Pepe Mujica: "Maduro está louco como uma cabra".
-
A
Bolsa Fies alimenta gatos gordos
O
ministro da Educação, Mendonça Filho, tem sobre a mesa uma pasta de pleitos.
Nela estão as pressões das empresas que controlam instituições privadas de
ensino aninhadas no Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies. Querem mais
fregueses (leia-se recursos) e menos controles. Em 2014, a Viúva botou quase R$
14 bilhões no programa.
Em
tese, o Fies ajuda os estudantes. Na prática, por violar normas elementares do
crédito, financia faculdades privadas e estimula calotes.
Quem
estiver interessado na exposição desse truque, pode buscar o artigo "O
Efeito da Disponibilidade de Crédito para Estudantes sobre as
Mensalidades", dos professores João Manuel Pinho de Mello, do Insper, e
Isabela Ferreira Duarte, da PUC-Rio.
Eles
ralaram nos números de 2010 a 2013 e concluirão que o dinheiro do Fies provocou
um aumento de seis pontos percentuais acima da inflação no preço das
mensalidades das faculdades privadas. No período, a lucratividade do Grupo
Kroton (o maior do mercado) dobrou. Metade dessa
bonança viria do "efeito Fies".
O texto em inglês está
na rede: "The Effect of the Availability of Student Credit on Tuitions:
Testing the Bennet Hypothesis using Evidence from a Large-Scale Student Loan
Program in Brazil".
É
coisa para quem entende economês.
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