domingo, 22 de maio de 2016

A caravana do atraso, por Elio Gaspari, na FSP

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Conservador é uma coisa, direita é outra, mas os males de Pindorama nunca vieram de uma nem da outra. Vieram do atraso que sustenta um pedaço do andar de cima.
Michel Temer entrou no Planalto com a bandeira da reforma da Previdência. Ela gira em torno da elevação da idade com que os brasileiros podem se aposentar. Faz sentido que ninguém vá para a conta da Viúva antes dos 65 anos. Falta explicar como ficarão as pessoas do andar de baixo que estão há décadas no sistema do INSS. Não foram eles quem quebraram a Previdência.
Foi o atraso. Michel Temer, procurador do Estado de São Paulo, requereu sua aposentadoria em 1996, aos 55 anos. Desde então, passou a receber R$ 9.300 mensais. Naqueles dias, o cardiologista Adib Jatene, ícone da medicina brasileira comentava: "Tenho 66 anos de idade e 38 de serviço público. Não me aposentei". À época, o deputado Temer relatava a reforma da Previdência dos outros.
O deputado Ricardo Barros, ministro da Saúde de Temer, diz que o SUS deve restringir suas atividades e aplaude a proliferação de planos privados. Ele não é freguês do SUS, mas sua campanha recebeu uma doação de R$ 100 mil do presidente da operadora de saúde privada Aliança. Já o ministro do Desenvolvimento Social, doutor Osmar Terra, ponderou que é preciso "oportunizar" a saída de gente do Bolsa Família e que esse cheque não pode virar "coleira política". Tem toda razão, mas nem todo mundo é capaz de "oportunizar" um acesso à "coleira" da Odebrecht, que injetou R$ 190 mil na sua campanha eleitoral.
Como disse Temer ao justificar seu pedido de aposentadoria, tudo foi feito dentro da legalidade, pois do contrário pareceria que era um "safardana". Nem ele, nem Barros ou Terra são safardanas. São apenas parte de um enorme e histórico processo de predominância do atraso.
Os doutores nem novidade são. O patrono do ensino de economia no Brasil é José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835). Ele foi o primeiro professor de "ciência econômica" e propagava as ideias do escocês Adam Smith, o da "mão invisível" do mercado. Quando foi transferido de escola, Smith ofereceu-se para devolver aos alunos o dinheiro do curso. Cairu aposentou-se aos 50 anos e nunca deu uma aula.
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A COBRA QUE RI
Se Lula tiver saúde e estiver no uso e gozo de seus direitos políticos, será candidato a presidente em 2018.
A ideia de que se esmagou a cabeça da cobra da jararaca é prematura.
Essa especulação poderá ser mais bem avaliada depois da eleição municipal. Se o PT segurar a Prefeitura de São Paulo, a jararaca voltará a sorrir.
EM AÇÃO
Na quinta-feira (19), o secretário-executivo Moreira Franco e seu colega Raul Jungmann, ministro da Defesa, almoçavam no restaurante Laguiole, no Rio.
Um curioso fez a conta: eram acompanhados por seis seguranças.
Com a linda vista do Museu de Arte Moderna, o Laguiole é um dos mais caros da cidade.
No início do consulado petista, o mesmo curioso estava no Piantella de Brasília e percebeu que havia algo de novo no país quando viu a relação de Jair Meneguelli, ex-presidente da CUT, com uma taça de vinho. Ele manuseava o copo com a coreografia de um Rothschild no Maxim's.
JOGO CHINÊS
O companheiro Xi Jinping, presidente da China, avançou sobre o seu antecessor Hu Jintao.
Numa noite de 2012, uma Ferrari 458 Spider encaçapou-se num muro, matando o motorista e uma das jovens seminuas que estavam a bordo. O garoto era filho de Ling Jinhua, principal assessor do presidente Hu. Alguns amigos do mundo do petróleo compraram silêncios e a operação abafa foi um êxito.
O companheiro Xi vem decapitando as quadrilhas de poderosos. Encarcerou um rival, meteu na cadeia o chefe dos serviços de segurança. Agora o poderoso Ling vai para a cana.
Começa-se a suspeitar de que a campanha contra a corrupção esteja acompanhada de um projeto de poder pessoal de Xi.
A MÁGICA DE CUNHA
Eduardo Cunha tem um aliado em André Moura, o novo líder do governo na Câmara, e não se pode dizer que tenha um adversário no Palácio do Planalto.
Para fechar sua grande mágica, Cunha precisa eleger o novo presidente da Câmara. Ele sabe que ninguém conseguirá o lugar sem o apoio de sua bancada particular.
DINASTIA
José Mendonça Bezerra, pai de Mendonça Filho, o ministro da Educação na caravana Temer, elegeu-se sete vezes deputado federal por Pernambuco.
O ministro é genro de Marcos Vilaça, autor de um dos melhores livros sobre o patriarcado político nacional. Chama-se "Coronel, Coronéis - Apogeu e Declínio do coronelismo no Nordeste" e foi publicado quando Vilaça tinha 26 anos.
Alguém poderia retomar o assunto. Temer tem três ministros que se identificam pela condição de "filho" (Mendonça, Sarney e Fernando Coelho).
O Barão do Rio Branco era filho do poderoso Visconde e tinha a mesmo nome do pai, mas ninguém teve a ousadia de chamá-lo de Paranhos Filho.
O PATO DE SKAF
Se Temer aumentar um imposto, coisa que parece inevitável, o doutor Paulo Skaf, presidente da Fiesp, deverá recolocar aquele grande pato amarelo diante da sede da guilda.
A volta do enfeite poderá significar uma de duas coisas, ou ambas: O pato era Skaf. O pato era quem acreditava em Skaf.
VENEZUELA
O comissariado petista diz que o impedimento de Dilma Rousseff foi um golpe. Já as malfeitorias do presidente venezuelano Nicolás Maduro seriam aperfeiçoamento da democracia direta.
Tem razão o grande Pepe Mujica: "Maduro está louco como uma cabra".
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A Bolsa Fies alimenta gatos gordos

O ministro da Educação, Mendonça Filho, tem sobre a mesa uma pasta de pleitos. Nela estão as pressões das empresas que controlam instituições privadas de ensino aninhadas no Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies. Querem mais fregueses (leia-se recursos) e menos controles. Em 2014, a Viúva botou quase R$ 14 bilhões no programa.
Em tese, o Fies ajuda os estudantes. Na prática, por violar normas elementares do crédito, financia faculdades privadas e estimula calotes.
Quem estiver interessado na exposição desse truque, pode buscar o artigo "O Efeito da Disponibilidade de Crédito para Estudantes sobre as Mensalidades", dos professores João Manuel Pinho de Mello, do Insper, e Isabela Ferreira Duarte, da PUC-Rio.
Eles ralaram nos números de 2010 a 2013 e concluirão que o dinheiro do Fies provocou um aumento de seis pontos percentuais acima da inflação no preço das mensalidades das faculdades privadas. No período, a lucratividade do Grupo Kroton (o maior do mercado) dobrou. Metade dessa bonança viria do "efeito Fies".
O texto em inglês está na rede: "The Effect of the Availability of Student Credit on Tuitions: Testing the Bennet Hypothesis using Evidence from a Large-Scale Student Loan Program in Brazil".




É coisa para quem entende economês. 

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