domingo, 22 de maio de 2016

A TV pública como palanque, por Mauricio Sticer


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No bangue-bangue que se seguiu ao afastamento da presidente Dilma Rousseff e à posse do interino Michel Temer, um dos primeiros alvos atingidos foi a área de comunicação.
A confusão destes dias iniciais não deixa dúvida de que o novo governo tem a intenção de mexer de forma drástica na EBC (Empresa Brasil de Comunicação), responsável pela TV Brasil.
O primeiro sinal foi dado pela demissão nesta terça-feira (17) do presidente da empresa, o jornalista Ricardo Melo. Temer, que quer colocar um aliado no lugar, causou espécie por tomar uma atitude juridicamente questionável. O estatuto da EBC estabelece que o presidente tem mandato de quatro anos e só pode ser demitido por vontade própria ou falha grave no exercício da função.
Melo foi nomeado por Dilma no último dia 4, apenas sete dias antes do início da votação no Senado que resultou na suspensão do mandato da presidente. O cargo estava vago havia três meses, desde que o jornalista Américo Martins pediu demissão.
À época, especulou-se que o jornalista estaria insatisfeito com pressões recebidas do governo para indicação de nomes e alterações na grade da TV Brasil.
Reside aí, justamente, um dos pontos centrais da discussão. Como critica Eugênio Bucci em "O Estado de Narciso" (Companhia das Letras, 2015), "a comunicação pública no Brasil virou um palanque partidário, um negócio lucrativo, uma passarela para a vaidade particular e, sem exagero nenhum, uma arma a serviço da guerra eleitoral".
Tese de livre-docência apresentada à USP em 2014, o estudo reflete experiências do autor em dois níveis –como presidente da Radiobrás (2003-2007) e como conselheiro da Fundação Padre Anchieta, responsável pela TV Cultura, em São Paulo.
Bucci chama a atenção para o erro, cometido em todas as instâncias de poder, de achar legítimo o uso da comunicação pública para defender o ponto de vista de um partido ou uma coalizão. "A comunicação pública só se justifica dentro do Estado democrático de Direito se ela realizar o dever do Estado de informar".
Na sua visão, uma falha grave na estrutura da EBC é o fato de os dois cargos principais da empresa serem uma escolha do presidente do país. Bucci também critica o vínculo funcional da estatal com o governo por meio da área de comunicação social, e não a de cultura. "Não há possibilidade de decisões que contrariem as diretrizes expressas dos ministros e do presidente da República."
A situação, observa, é semelhante na TV Cultura. "Não existe, na história da Fundação, uma única decisão grave que tenha prevalecido contra a vontade do governador de turno".
Concordo que mudanças no modelo são necessárias. Mas não é açodamento um governo interino, com prazo de duração estabelecido por lei, propor alterações estruturais? Não seria mais correto esperar até o fim do processo de impeachment para, se confirmado o afastamento de Dilma, fazer isso?
CONVITE


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