Aguardada há mais de 40 anos pelos moradores de Pirituba, na zona norte de São Paulo, as obras de uma ponte que ligaria o bairro à Lapa, na zona oeste, estão paradas há pouco mais de três anos por decisão judicial e já consumiram R$ 33,9 milhões dos cofres públicos.
A Prefeitura de São Paulo afirmou incorrer em prejuízo de R$ 3,5 milhões com os canteiros desativados, pagando mensalmente serviços de segurança e manutenção desde que o empreendimento foi paralisado, em abril de 2020, pela 8ª Vara de Fazenda Pública do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).
Iniciada em maio de 2019, a ponte ampliaria e alargaria a avenida Raimundo Pereira de Magalhães nos trechos de acesso à nova ligação, com duas faixas para carros, além de corredores exclusivos de ônibus, ciclovias e passeio público.
O Ministério Público do Estado de São Paulo, contudo, entrou com uma ação para anular as licenças ambientais do projeto argumentando que, originalmente, o plano não contemplava a construção das alças de acesso pela marginal Tietê.
A Justiça estadual, então, ordenou a interrupção da obra. A prefeitura recorreu, e o processo está agora na segunda instância.
Para subsidiar uma nova decisão, o TJ-SP determinou a realização de uma perícia técnica para analisar documentos e avaliar a situação atual. De acordo com o Executivo municipal, 14% das obras foram concluídas. A Prefeitura de São Paulo diz aguardar a deliberação do Judiciário para retomar a construção.
Para a primeira parte do projeto —construção da ponte, alargamento da Raimundo Pereira de Magalhães e intervenções para drenagem— foi celebrado um contrato de R$ 209,5 milhões.
O valor total da intervenção, que inclui gastos com desapropriações, enterramento de rede elétrica e de telefonia, compensações ambientais e fiscalização da obra, seria, inicialmente, de R$ 386,5 milhões.
Atualmente, moradores de Pirituba que utilizam a avenida e vão para a Lapa ou acessam o bairro como alternativa para outros trajetos precisam usar as pontes da Anhanguera e do Piqueri para atravessar a marginal.
A inauguração da ponte desafogaria estes dois acessos, criando uma alternativa para atravessar o rio Tietê e sua marginal. Isso representaria, por dia, uma economia de até 36 minutos em viagens de transporte público entre os terminais dos dois bairros, após o remanejamento das linhas de ônibus da região, segundo estudo de tráfego da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Para os usuários do transporte individual, seriam 15 minutos a menos nos trajetos diários.
Sérgio Ejzemberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP, afirma que a ponte, além de aumentar o fluxo viário em uma região residencial da Lapa, não resolveria inteiramente o problema do trânsito carregado.
"Do ponto de vista conceitual, acredito ser dinheiro jogado no lixo. Investir em ponte e viaduto e não investir em trilho é garantir que o congestionamento será levado a metros adiante. Eu deixo de perder tempo em um ponto e perco tempo no resto", afirma.
Quanto ao transporte sobre trilhos, ele ressalta a importância de investimento em metrô, principalmente.
"A prefeitura tem que dar as mãos ao estado e parar de separar o Plano Diretor do plano de transporte, unir investimentos e investir em metrô. Em uma cidade carente de transporte por trilho, nenhum outro meio pode encarar a demanda."
A ponte é uma reivindicação de mais de 40 anos dos moradores de Pirituba e beneficiaria 115 mil pessoas, que utilizariam diariamente o novo acesso.
Segundo a estudante Giovanna Mendes Casteluchi, 21, que mora atualmente em um prédio no entorno da avenida Raimundo Pereira de Magalhães, a infraestrutura atual do bairro não comporta mais o número de moradores na região, que cresceu.
"A [avenida] Raimundo não estava preparada para esse tanto de morador que chegou. Essa ponte já era uma necessidade urgente, e a partir do momento que você promete uma ponte, chegam milhares de habitantes e ela não é construída, vira um caos", disse.
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