De todos os crimes previstos no catálogo, um dos com mais agravantes é a obstrução da Justiça. Comete-se um assassinato e pode-se pegar longa cana por ele; mas, se se tenta impedir que a lei chegue a quem o encomendou, a pena deveria dobrar. Afinal, o encobrimento, às vezes, é mais complexo do que o crime em si. Exige o apagamento tanto de armas, impressões digitais, pistas telefônicas, transações bancárias, câmeras de segurança e processos judiciais quanto de testemunhas, cúmplices e intermediários.
O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, no Rio, passa por isso desde 2018. Nesses cinco anos, as investigações começaram, foram interrompidas, retomadas, evoluíram, pararam de novo, transferidas do Rio para Brasília e sabotadas pelas mais diversas instâncias por quanto tempo possível. Tudo para manter o ou os mandantes a salvo.
E quanto não está custando silenciar de vez certos envolvidos na história? Em 2018, um mês depois da execução de Marielle, Lucas Silva, o Todynho, foi morto a tiros em Bangu. O ex-policial Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, em 2020, na Bahia. O braço-direito de Adriano, Luiz Carlos Martins, o Orelha, em 2021, em Realengo. Outro ex-policial, Edmilson de Oliveira, o Macalé, também em 2021 e também em Bangu. E Helio Ferreira, o Senhor das Armas, este ano, no Anil. Todos eram homens que sabiam demais.
Mas ninguém saberá mais do que o também ex-PM Ronnie Lessa, já preso como autor material do crime. Sua prosperidade é a prova. Entre seus bens, incluem-se um terreno de 3.500 metros quadrados no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis; um imóvel num condomínio em Mangaratiba; dois carros blindados, avaliados em R$ 150 mil cada; e uma casa no condomínio Vivendas da Barra, tendo como vizinho e colega de patuscadas Jair Bolsonaro.
Incrível o que o salário de um ex-PM pode comprar.
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