terça-feira, 10 de agosto de 2021

A geração Z poderá livrar o mundo do e-mail, OESP

 Sophia June, The New York Times - Life/Style, O Estado de S.Paulo

10 de agosto de 2021 | 05h00

Apesar das reservas sensatas de gerações mais velhas, a Geração Z – em geral, definida como os nascidos entre 1997 e 2012 – está sendo pioneira na promoção da volta de tendências caóticas como os jeans de cintura baixa, o pop-punk e a marca de roupas Ed Hardy.

Mas membros da Geração Z parecem concordar com os mais velhos em uma coisa: “E-mail, eca”. E, se tivermos sorte, talvez eles possam, algum dia, salvar todos das caixas de entrada lotadas.

NYT - Life/Style (não usar em outras publicações).
Ilustração de Genevieve Ashley/The New York Times.

Segundo um estudo de 2020 da empresa de consultoria Creative Strategies, existe uma lacuna geracional no que diz respeito às ferramentas básicas de trabalho. A pesquisa constatou que, para as pessoas acima dos 30 anos, o e-mail era uma das ferramentas que eles usavam para a colaboração. Para as pessoas com menos de 30 anos, o Google Docs foi o aplicativo que os trabalhadores mais associavam à colaboração, seguido pelo Zoom e pelo iMessage.

Adam Simmons, 24 anos, prefere comunicar-se usando “literalmente qualquer outro meio, menos o e-mail”. Simmons, de Los Angeles, fundou uma companhia de produção de vídeo, depois de formar-se na Universidade de Oregon, em 2019. Ele se comunica fundamentalmente com seus oito funcionários e clientes, que são em geral equipes esportivas, por envio de mensagens de texto, Instagram e Zoom.

“O e-mail é o principal fator de estresse em uma área, o que torna o esgotamento muito mais difícil”, ele disse. “Você olha para os seus e-mails e tem trabalho a fazer, que é a prioridade, e então o pagamento do aluguel e depois a conta da Netflix. Eu acho que esta é realmente uma maneira negativa de viver a vida”.

O ponto de virada para Simmons foi quando um e-mail de trabalho da Seattle Mariners se perdeu em sua pasta de spam.

“É realmente uma loucura como é ultrapassado”, ele disse referindo-se ao e-mail, tornando-se cada vez mais animado durante a entrevista que nós marcamos por mensagens de texto. Ele observou que mensagens aparecem em spam quando não são spam e que precisa carregar videoclipes em outro lugar antes de enviá-los por e-mail. “É doloroso usar o Google Drive”.

“Parte da razão de eu não querer trabalhar para outra pessoa é porque eu não quero verificar constantemente o meu e-mail e ter certeza de que o meu chefe não me enviou um e-mail”, disse Simmons. “Isto é a coisa mais estressante”.

As deficiências do e-mail só foram exacerbadas pela pandemia. As decisões que antes eram tomadas parando na mesa de um funcionário foram relegadas à "caixa de entrada pingue-pongue". Algumas pessoas escreveram falando de uma sensação de culpa por não serem capazes de responder mais rapidamente ou por acrescentar e-mails às caixas de entrada dos seus colegas. Outros descreveram que o fato de precisar responder a uma grande quantidade de e-mails fazia com que perdessem o rumo de outras tarefas, criando um ciclo, na melhor das hipóteses, improdutivo e que, na pior, os enfurecia.

"Depois que o e-mail é enviado, preciso pensar muito a respeito de onde eu estava e o que estava fazendo. É o equivalente digital de entrar em uma sala e logo esquecer por que fui ali”, escreveu Vishakha Apte, 46 anos, arquiteto, em Nova York.

Alguns estão tentado livrar-se do e-mail há anos. Escritores como Cal Newport, cujo livro A World Without Email: Reimagining Work in an Age of Communication Overload (Um mundo sem e-mail:  reimaginando o trabalho em uma era de sobrecarga de comunicação, em tradução livre) foi publicado em março, há muito tempo afirmam que a “tirania da caixa de entrada” nos leva a perdermos a capacidade de nos concentrar. Alternar rapidamente entre e-mail, Slack e outras tarefas cria um acúmulo nas nossas mentes.

“Nós também nos sentimos frustrados. Nós nos sentimos cansados. Nós nos sentimos ansiosos. Porque a mente humana não consegue fazer isto”, contou Newport a Ezra Klein do Times em março. Ele fala esta mesma coisa desde pelo menos 2016.

Em 2017, um estudo constatou que a caixa de entrada média tinha 199 mensagens não lidas. E aqui, quase 16 meses mais tarde em trabalho remoto para muitos funcionários de escritório, as caixas de entrada só se tornaram ainda mais cheias.

Mas trabalhadores mais jovens, atingidos de maneira desproporcional pela instabilidade da pandemia, aparentemente estão reavaliando as suas prioridades profissionais. E talvez eles tenham a capacidade de fazer o que a obra de Newport – que, aos 39 anos, está na ponta mais velha da geração millenial – não conseguiu fazer.

Harrison Stevens, 23 anos, fundou uma empresa de roupas vintage enquanto cursava a Universidade de Oregon e abriu um local depois de se formar em 2020. Ele começou dando aos clientes o seu telefone pessoal e eles não param de mandar mensagens de texto ou por telefone, que, segundo ele afirma, ajudam a aliviar a carga, mas cria um novo problema de não ter um equilíbrio claro entre o trabalho e a sua vida pessoal.

Aurora Biggers, 22 anos, uma jornalista que se formou recentemente na George Fox University, disse que costumava fornecer o seu número, mas estava recebendo tantas mensagens de texto que elas estavam prejudicando o seu tempo pra vida pessoal. Ela acha que a sua geração está menos propensa a usar o e-mail como meio principal de comunicação. Embora ela goste dos limites de trabalho que o e-mail oferece, ela disse que o que ela acha mais difícil é que não há uma forma padrão de comunicação. O problema fundamental com o e-mail, então, não é necessariamente o excesso de e-mails, mas de uma concorrência excessiva.

“É impossível esperar que o e-mail seja a principal forma de comunicação porque tantas pessoas não estão trabalhando em escritório ou estão sentadas em um escritório com uma notificação da chegada de um e-mail”, ela disse. “Não acredito que esta seja a maneira mais relevante de esperar que as pessoas se comuniquem com você”. /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.


Nenhum comentário: