sábado, 21 de agosto de 2021

RAFAEL BALAGO Conversas de guerra, FSP

 O diálogo foi uma parte importante da estratégia do Talibã. Ao negociar com líderes e militares locais, conseguiu convencer muitos a deixarem a luta. A proposta era: junte-se a nós e tenha um lugar no futuro, ou nos enfrente e arrisque sua vida.

O processo gerou um ciclo virtuoso para o grupo: cada acordo fechado aumentava seu poder de convencer outros rivais a desistirem do combate. Esta tática os ajudou a concluir um golpe de Estado em poucas semanas e a tomar Cabul praticamente sem disparar tiros.

Agora, o Talibã testa suas habilidades de comunicação com mais gente. Nos primeiros dias, seus líderes deram entrevistas e postaram conteúdos em redes sociais para tentar mostrar ao mundo que não são demônios, mas gente de bem. Por trás disso, há a intenção de obter reconhecimento internacional, ajuda humanitária e o acesso a reservas de dinheiro e ouro, que pertenciam ao governo anterior do Afeganistão e estão guardadas em cofres distantes, como os de Nova York.

Do outro lado, o presidente dos Estados Unidos tenta calibrar o discurso para explicar as cenas de caos da retirada e convencer o público de que não havia como deixar o Afeganistão sem detonar uma crise.

[ x ]

Porém, até mês passado, Joe Biden dizia acreditar que havia poucas chances de o Talibã retomar o controle do país. Na última segunda, disse que a situação atual é consequência da falta de vontade de lutar dos militares afegãos. Terminou a semana prometendo resgatar todos os americanos em perigo, mas ressaltou que essa será uma das missões mais difíceis da história dos EUA.

Enquanto Biden discursava em uma Washington com ruas calmas, em clima de férias de verão, Cabul via cenas de desespero, como a de pessoas tentando subir em um avião em movimento para deixar o país ou entregando um bebê a estrangeiros. Gestos extremos de quem sente que as palavras dos dois lados já não servem para nada.

Nenhum comentário: