O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Youssef, decidiu deixar o cargo. Ele informou o prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP) da decisão na noite desta quarta-feira (25). Somadas as duas passagens, a primeira de janeiro de 2019 a março de 2020 e a segunda de janeiro a agosto de 2021, ele ocupou a cadeira por quase dois anos.
Ele ficará no cargo até o fim de agosto para que Nunes escolha um novo secretário e combinou de participar da transição para seu substituto.
Em carta de despedida enviada a assessores e coordenadores ligados a ele, obtida pelo Painel, Youssef cita incompatibilidades ideológicas e dificuldades orçamentárias para a Cultura com o novo prefeito como motivos para a sua decisão de deixar a secretaria.
O secretário vinha travando disputa internamente a respeito do orçamento da pasta para 2022. A gestão municipal defendia a redução do percentual de recursos destinado à Cultura e Youssef não aceitou, impasse que desembocou na decisão pela saída.
Episódios pontuais mais recentes também geraram desgaste. Nunes recebeu em seu gabinete no começo de agosto o cantor Sorocaba, da dupla sertaneja Fernando e Sorocaba, que foi um dos articuladores de almoço em janeiro no qual Jair Bolsonaro foi exaltado.
O secretário municipal da Cultura, crítico do presidente, não participou da reunião que tratou da possibilidade de realização de um show da dupla sertaneja no vale do Anhangabaú.
Youssef foi uma escolha de Bruno Covas (PSDB) para a gestão municipal em 2019. Em seu projeto de tentar ser um radical de centro, equilibrando elementos do espectro político, como ele repetia, o tucano buscou no empresário e produtor cultural o componente mais à esquerda de sua administração.
Na política, Youssef havia sido coordenador da Juventude na administração municipal da então petista Marta Suplicy (2001-2004) e chefe de gabinete de Soninha (à época no PT) na Câmara dos Vereadores, entre 2005 e 2006.
Depois disso, como empresário, tornou-se um dos protagonistas da transformação da vida noturna da região do Baixo Augusta, em São Paulo. Ele foi, por exemplo, um dos sócios do Studio SP. Ele também fundou o bloco carnavalesco Acadêmicos do Baixo Augusta, que se tornou o maior da cidade.
Com a morte de Covas, em maio, Nunes assumiu o posto com a promessa de continuidade total. No entanto, seus secretários têm apontado diferenças, como a perspectiva mais conservadora a respeito da Cultura.
Youssef fala na carta na dificuldade da atual gestão da Prefeitura de São Paulo de compreender o “caráter libertário, transformador e independente da cultura”.
Em janeiro de 2020, o secretário realizou o Verão Sem Censura, festival organizado para abrigar peças de teatro e outras manifestações culturais que haviam sofrido intervenções e boicote pelo governo Bolsonaro. O evento, que foi um dos marcos de sua gestão, foi repetido em 2021 com o nome de São Paulo Sem Censura.
Youssef também foi um dos secretários que participaram da expansão do Carnaval de rua paulistano, que passou a acontecer em todas as subprefeituras da cidade e atingiu seus maiores números de público e de eventos.
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