Celso Ming*, O Estado de S.Paulo
26 de agosto de 2021 | 19h47
Afinal, qual é a política do governo para enfrentar a pior crise hídrica dos últimos 91 anos?
A julgar pelos fatos, o governo não sabe o que quer. A primeira providência foram apelos, e não mais que apelos, para evitar o desperdício de energia. Foi a linha adotada em junho pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que convocou uma cadeia nacional de rádio e TV, prometeu declarações graves que, no entanto, não passaram de lero-lero. Em seguida, veio a sobretarifa da bandeira vermelha, sugerindo que a redução de consumo de quilowatts se faria por aumento de preços. Agora, o ministro avisa que vai fazer o contrário, vai cobrar menos de quem consumir menos energia, sem informar que economia espera desse procedimento.
A única política que se conclui das omissões do governo é a abordagem negacionista, são as tentativas de negar a gravidade da crise. Assim como a pandemia não passava de “uma gripezinha”, essa crise, além de passageira, é pouco importante. Não impõe nenhuma ação mais radical, como o racionamento de energia elétrica e de água tratada. E, no entanto, os meteorologistas têm avisado que, além do grau de secura que não se previa em junho, julho e agosto, as perspectivas continuam ruins para a temporada de chuvas que deve iniciar-se em meados de setembro ou começo de outubro.
Inesperadas declarações feitas nesta quinta-feira pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a crise é séria, vão na contramão do que tem dito Bento Albuquerque e o governo. E não alteram o jogo, porque não há ação correspondente.
Ou seja, a prometida recuperação da economia não está sendo comprometida apenas pelo aumento do rombo fiscal e da dívida; pelo desemprego e perda de renda; e pela escalada da inflação e dos juros. Está sendo comprometida também pela escassez de energia elétrica, sem que a população seja devidamente informada sobre as consequências. “Não haverá racionamento”, limita-se a repetir o ministro Bento Albuquerque.
Este não é apenas o governo que esconde ou nega o tamanho dos problemas. É também o governo que sempre está sendo surpreendido pelas adversidades. Cantada pelos especialistas, não previu o fogaréu na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. E tem se mostrado pífio no combate às chamas e à ação dos responsáveis. Foi assim com a pandemia, foi assim com a recuperação econômica que deveria ter sido em “V” e não foi. Foi assim com as reiteradas rejeições dos pacotes caóticos de reforma tributária, que deveriam ter sido aprovados rapidamente, e não foram. E está sendo assim com o “meteoro” dos R$ 90 bilhões em precatórios que desabou sobre o colo do ministro Paulo Guedes, com informações de que vêm mais.
Ainda em 2020, ele havia prometido um “big bang” na área econômica, mas até agora ninguém não o viu nem entendeu o que deveria ter sido. Das propaladas reformas política e administrativa, que deveriam ter avançado, só se sabe que estão entaladas em alguma repartição de Brasília.
E como o projeto da reeleição vai afundando, melhor tirar todos os problemas do foco, atacar o Supremo e pregar que o sistema de voto eletrônico não presta...
>>CONFIRA
» Reservatórios quase secos
O gráfico mostra que, neste agosto, o nível médio mensal de armazenamento dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade hídrica do País, encontra-se abaixo do nível registrado no mesmo período em 2001, quando o Brasil passou pela até agora mais séria crise hídrica. São números que mostram a gravidade do problema. Além de reduzir sua importância na comunicação com a sociedade, o governo Bolsonaro não vem adotando medidas contra ela.
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