Com meros dois meses em uso experimental, é cedo para um balanço da afixação de câmeras “grava-tudo” no uniforme de policiais militares paulistas. Ainda assim, a redução na letalidade do patrulhamento suscita justificado otimismo.
Em comparação a julho de 2020, o mês passado registrou 40% menos mortes resultantes de intervenções da PM de São Paulo. Houve 25 óbitos, ante 42 no período anterior, marca atrás somente de junho de 2021, com 22 vítimas.
O período de retração nas ocorrências fatais coincidiu com o início do experimento de gravação de imagens durante o serviço dos PMs. Mesmo não sendo possível afirmar com certeza que o recuo se deveu à contenção induzida pelo aparelho, tal hipótese ganha força.
Policiais militares matam demais no Brasil. Em 2020 foram 6.416 suspeitos abatidos, 78% deles negros. É o triplo da letalidade policial registrada em 2013 e seis vezes o número de vítimas nos EUA (com população 60% maior e violência policial bem acima da observada em nações europeias).
Medidas para minimizar a carnificina são bem-vindas. A PM paulista vai no bom caminho ao aliar treinamento com equipamentos para aumentar a eficiência policial.
Assim ocorre com a disseminação de armamento não letal, como as armas de incapacitação neuromuscular (choque); um total de 3.750 delas já foram adquiridas e outras 3.125 estariam em vista. Das 270 ocorrências em que foram empregadas neste ano, até julho, 7 resultaram em mortes e 4 em ferimentos de agentes.
Para defensores usuais da truculência policial, o emprego de câmeras poderá inibir o policiamento ostensivo e reduzir sua capacidade de evitar crimes. Não é o que revelam estatísticas: em junho, com a menor quantidade de mortes, observou-se aumento de 12% nas prisões em flagrante.
A diminuição da letalidade soa ainda mais auspiciosa quando se toma em conta que o experimento com as primeiras 3.000 câmeras ocorre em apenas 18 batalhões paulistanos. Há planos de contratar mais 7.000 e estender o programa para toda a capital e Grande São Paulo em 2022.
Avaliação mais sólida da medida, por certo, só poderá ser traçada com dados acumulados ao longo de um período maior. Até lá, há que elogiar a iniciativa —protetora da reputação profissional dos policiais— e esperar que se sustente a colheita de frutos civilizatórios.
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