Sete anos depois da crise hídrica na Grande São Paulo, que forçou um racionamento não declarado no abastecimento de água, seu maior sistema de distribuição entra em situação preocupante. O nível dos reservatórios do Cantareira, como noticiou O Estado de S. Paulo, caiu abaixo de 40%.
Isso caracteriza estado de alerta, segundo normas operacionais da Agência Nacional de Águas (ANA). O ideal neste período seria contar com reservas de 60%.
Na mesma época em 2020, o complexo de represas estocava água em 50% de sua capacidade. Hoje, como há um ano, a região metropolitana ainda fica distante da emergência configurada quando a Sabesp, companhia estadual de saneamento básico, precisou captar o recurso abaixo das tubulações usuais, no volume morto.
Houve avanços significativos nos meios para enfrentar a escassez. O sistema São Lourenço entrou em linha, agregando 5.000 litros por segundo (5 m³/s) à vazão disponível. A interligação com a bacia do Paraíba garantiu mais 7 m³/s para desafogar o Cantareira.
Com isso, o contingente populacional dependente do sistema encolheu de 9 milhões de pessoas para 7,2 milhões. Tornou-se possível reduzir a captação autorizada no Cantareira de 33 m³/s para 27 m³/s.
Mesmo assim, o armazenamento continuou caindo. As previsões mais drásticas indicam que o volume poderá despencar a 20% em dezembro, quando aí sim haveria razão para alarme.
Por trás da insegurança hídrica está uma década com precipitação abaixo da média na região. A presente estiagem em cinco estados brasileiros (MG e SP, onde estão os mananciais do Cantareira, mais GO, MS e PR) é a pior em 91 anos.
Crescem indicações da ciência para a possibilidade de que a retração de chuvas seja resultante da crise climática mundial e do desmatamento na Amazônia, no cerrado e na mata atlântica.
Secas e estiagens prolongadas se encaixam predições de eventos extremos formuladas pelo Painel Intergovernamental de Mudança Climática, da ONU. Não será surpresa se a tendência perdurar.
Nesse cenário, obras para buscar água cada vez mais longe da metrópole não serão sustentáveis, além de drenar bilhões da sociedade. É preciso repensar o padrão de consumo, e o poder público deveria tornar permanentes as campanhas de conscientização, não reciclá-las só quando seca a fonte.
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