Em sinal trocado, o fanático bolsonarista não difere de um revolucionário guevarista
A eleição de Jair Bolsonaro como uma resposta brasileira ao desastre que foram os sucessivos governos do PT estimulou um tipo de eleitor nefasto: o fanático. É aquele que segue cegamente seu salvador da pátria e que trata seus discursos e tuítes, bem como os de seus ungidos, como grito de guerra "Deus Vult!" contra os inimigos.
É um espelho de como se comportam os fanáticos de esquerda idolatrando seus políticos de estimação, os "Lula é inocente", por exemplo.
Não quero dizer que todos os adeptos de Bolsonaro sejam fanáticos. Nem mesmo são a maioria. Uma grande parcela da população brasileira entende a importância de termos afastado a esquerda do poder em 2018 e apoia o presente governo com base nos valores representados na campanha e pelas políticas públicas implementadas pelos ministérios.
Mas neste artigo discorro sobre o perigo do fanatismo em geral.
Presa fácil de populistas, o fanático engole teorias da conspiração e desconsidera o bom senso e suas convicções de outrora. Comporta-se como guerreiro disciplinado de uma guerra em que tudo é permitido. Afinal, "é guerra contra os inimigos do povo", justifica, povo este cuja vontade estaria racionalmente materializada na figura do presidente.
Sua atitude não difere substancialmente da atitude do cristão perante a Bíblia. Mas o que na religião é bom na política não funciona. O fanático devoto da Igreja de Messias Bolsonaro é um soldado em uma guerra santa para limpar o Brasil de impurezas: a esquerda, os políticos tradicionais, o Congresso, o Supremo e os críticos do líder. Em sinal trocado, não difere substancialmente da atitude de um revolucionário guevarista.
Nesta semana, na rede social na qual a deputada Joice Hasselmann mostrava os primeiros passos após sair da UTI, havia em meio a desejos de melhoras um bom número de fanáticos de Jair Bolsonaro xingando-a, brigando e criticando. A "Bolsonaro de Saias", antes idolatrada por eles, foi proscrita após ter apoiado a ala bivarista no PSL.
As agressões absurdas e inaceitáveis feitas à jornalista Patrícia Campos de Mello foram amplamente disseminadas pelos fanáticos. Tudo é possível, alegam, uma vez que Patrícia produziu em 2018 uma reportagem com viés. Um erro não justifica a barbárie, mas infelizmente o fanático está em guerra.
Um conhecido meu que se diz liberal (mas não é) denunciou na semana passada dois "golpes" em curso para derrubar Jair Bolsonaro. O primeiro seria do Congresso, que aplicou técnicas de xadrez 4D ao impor as emendas impositivas como um mecanismo para forçar Paulo Guedes a descumprir as regras fiscais ao fim do ano.
O segundo seria dado pelo fato de Rodrigo Maia estar em campanha internacional para implantar o parlamentarismo. Meu conhecido está animado para ir às ruas no dia 15. Quer emparedar o Congresso e o STF.
Parte das forças que elegeram Bolsonaro prefere distanciar-se de atitudes antidemocráticas e busca alternativas não esquerda, como sugeriu o deputado Kim Kataguiri, um dos líderes da derrocada do PT, em artigo na grande imprensa.
Precisamos combater essa ideia de que existe um herói da política, capaz de resolver sozinho os problemas do país. No momento em que, por mérito do próprio presidente, estamos abandonando um regime no qual o Executivo e o Legislativo agiam como um único organismo em simbiose, não podemos correr o risco de o Executivo arregimentar o apoio da multidão impulsiva para afastar os controles parlamentar e judiciário, concentrando o poder.
Nós, liberais, seguiremos focados na luta por menos estado e mais poder ao cidadão e à sua comunidade local como caminho da prosperidade.
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