Os recados que celebridades bem humoradas queriam deixar para depois da morte
Em tempos de desesperança como o nosso, aplico uma receita, para mim, infalível. Releio Alvaro Moreyra, principalmente suas memórias, “As Amargas, Não...”, de 1954. Ninguém amou tanto a vida e falou dela com tanta delicadeza. Vejo agora que Alvaro, que não conheci, era delicado também ao falar da morte. Nesse livro, ele sugere divertidos epitáfios para seu túmulo —a que só chegaria dez anos depois. Eis alguns:
“Que silêncio, hein?”. “Peço apenas migalhas de pão para os pardais”. “Parei de rir. Parei de chorar. Morri?”; “Não contem anedotas. Sei todas”. “Com certeza sinto falta do mar”. “Foi para isto então?”. “Escutem, agora sou apenas uma alma. Sabem lá o que é isto?”. “Não tenham mais medo. Já podem dizer todo o bem que sabem de mim”. “O grande domingo!”. “Realizei o desejo: a casa de campo”. “Não tragam flores. Plantem uma roseira aqui”. “Afinal, envelheci”. “Obrigado!”.
Não sei se um deles foi adornar seu endereço final no cemitério São João Batista. As famílias nem sempre se lembram do que seus membros gostariam de dizer para a eternidade. Talvez por isso, em 1976, dirigindo uma revista aqui no Rio, encarreguei duas ótimas repórteres, Cleusa Maria e Christina Lyra, de perguntar a algumas celebridades bem humoradas o que elas gostariam de ler em seus futuros túmulos. Respostas:
Chacrinha: “Não quero choro nem vela”. Rubem Braga: “De volta às cinzas”. Juscelino Kubitschek: “Missão cumprida”. Tom Jobim: ”Tu foste a única culpada”. Nelson Rodrigues: “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado por imbecis de ambos os sexos”. Miéle: “Aqui jaz, absolutamente contra a vontade, Luiz Carlos Miéle”. Jorginho Guinle: “Aqui jazz”. Ivan Lessa: “Aqui, ó!”. Chico Anysio: “E agora, vão rir de quê?”. Paulo Gracindo: “Ingrata, já de branco, não é?”. Carlinhos (Canal 100) Niemeyer: “Flamengo até morrer”. Hoje, todos já se foram. E nenhum teve obedecidas suas últimas palavras.
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