Em junho de 2013, não eram só os 20 centavos. Em março de 2020, não é só o coronavírus. O caldeirão chamado Brasil se põe a ferver, com todos os problemas borbulhando juntos, sem que ninguém esteja perto de controlar o fogo.
A crise atual se desenha muito, muitíssimo mais grave do que a de 2013. Há agora um vírus bem difícil de conter, uma economia doméstica paralisada, um mundo lá fora também derretendo —matéria-prima de sobra para caos social do tamanho do das revoluções.
O problema mal começou e baratas já voam em velocidade supersônica. Quem antes batia panela agora bate panela; quem antes não batia panela agora toca apito. Liberais pedem intervenção do Estado; gente que vive da Bolsa pede que a Bolsa feche as portas.
O presidente que falava que o coronavírus era fantasia passou a se fantasiar de máscara (sim, fantasia, porque o uso que faz não tem nada de saudável). As palavras que ele profere já nascem com raquitismo. Seu exército de redes sociais vai perdendo divisões dia a dia. Bolsonaro conclama seguidamente "o povo", mostrando que perdeu mesmo a noção do que ocorre fora do cercadinho do Alvorada.
O governo ontem prometia gerar empregos e hoje corta salários. A economia que deveria crescer mais de 2% passou a ser objeto de contas que começam com o sinal de negativo à frente. A precariedade do mercado informal cobra seu preço: falta caminho para o dinheiro do governo chegar rapidamente às pessoas que não terão o que comer.
Quando o coronavírus entrar para o livro de história das epidemias, nada estará como antes. Muita gente não sobreviverá à doença, como já se vê. Quem continuar por aqui precisará reconstruir a economia sobre novas fundações —vários líderes estarão soterrados embaixo delas. A miséria social terá piorado muito. Se junho de 2013 foi uma chuva fora de época, março de 2020 mais parece o dilúvio da Arca de Noé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário