quarta-feira, 25 de março de 2020

OPINIÃO CONSELHO EDITORIAL DO THE WALL STREET JOURNAL Repensando o isolamento do coronavírus, FSP


O custo humano das perdas de emprego e falências será superior ao que a maioria dos americanos imagina



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THE WALL STREET JOURNAL
Os mercados financeiros interromperam sua queda na quinta-feira (19), mas ninguém deve pensar que a calamidade econômica terminou. Se esse isolamento ordenado pelo governo continuar por muito mais que uma semana ou duas, o custo humano das perdas de emprego e falências será superior ao que a maioria dos americanos imagina. Isto não será muito apreciado em alguns setores, mas as autoridades federais e estaduais precisam começar a adaptar sua estratégia antivírus agora para evitar uma recessão econômica que superará em muito os prejuízos de 2008-2009.
O enorme projeto de afastamento social dos últimos dez dias foi necessário e fez muito bem. Advertências sobre reuniões de mais de dez pessoas e limitar o acesso a lares de velhos salvarão vidas. O público recebeu uma educação crucial em higiene e prevenção de doenças, e até mesmo os jovens podem entender a mensagem. Com alguma sorte, essa mudança de comportamento vai reduzir a disseminação do coronavírus o suficiente para nossos hospitais não ficarem saturados de pacientes.
Anthony Fauci, Scott Gottlieb e outros especialistas em doenças estão ganhando um tempo crucial para que o governo e a indústria privada organizem recursos contra o vírus.
Mas os custos desse isolamento nacional estão crescendo hora a hora, e não estamos falando de gastos federais. Falamos em um tsunami de destruição econômica que fará dezenas de milhões de pessoas perderem o emprego enquanto o comércio e a produção simplesmente param. Muitas grandes empresas podem suportar algumas semanas sem receitas, mas isso não vale para milhões de pequenas e médias empresas.
Até empresas ricas em caixa operam com uma fina margem e podem sangrar suas reservas em um mês. Primeiro elas demitirão empregados e depois fecharão, por necessidade. Mais um mês como esta semana e as demissões serão medidas em milhões de pessoas.
O prejuízo na produção será profundo e levará anos para se reconstruir. Em uma recessão normal, os Estados Unidos perdem cerca de 5% da produção nacional ao longo de mais ou menos um ano. Neste caso, poderemos perder esse tanto, ou o dobro, em um mês.
Nosso amigo Ed Hyman, economista de Wall Street, ajustou na quinta-feira sua estimativa para o segundo trimestre para uma queda anual do PIB de -20%. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou na Fox Business na quinta que a economia suportará tudo isso, mas será excesso de otimismo se continuar por muito tempo.
Se o PIB parece abstrato, considere o custo humano. Pense no empresário que investiu sua vida em um restaurante em Memphis para ver seus clientes desaparecerem em uma semana. Ou na rede de 30 lojas que emprega centenas de pessoas, mas não tem vendas e precisa fechar as portas.
Ou na recém-formada com US$ 20 mil em dívidas estudantis --feitas por encorajamento dos políticos-- que se vê demitida do primeiro emprego. Talvez ela possa voltar para casa e morar com os pais, mas e se eles também forem demitidos? Como se mede o custo humano desses sonhos despedaçados, vidas viradas do avesso ou danos à saúde mental resultantes das ordens dos governos federal e estaduais?
Alguns na mídia que não entendem a economia americana dizem que a China administrou um choque comparável à sua economia e agora começa a sair do outro lado. Por que os EUA não podem fazer o mesmo? Isto ignora que o Estado chinês possui uma enorme participação na economia e decidiu absorver os prejuízos. Nos EUA esses prejuízos serão suportados por proprietários privados e trabalhadores que dependem de uma economia privada funcional. Eles não têm uma folha de pagamentos do Estado a que recorrer.
Os políticos em Washington dizem aos americanos, como sempre, que virão em seu socorro, preenchendo cheques para indivíduos e oferecendo empréstimos às empresas. Mas não há volume de dinheiro capaz de compensar os prejuízos da magnitude que estamos enfrentando se isto durar mais várias semanas. Depois do primeiro trilhão de dólares neste mês, teremos de gastar mais US$ 1 trilhão em abril, e mais um em maio?
Quando o programa do Tesouro de empréstimos a pequenas empresas passar pelos detalhes burocráticos --completos, com ordens aos proprietários de que não podem demitir ninguém como preço para obter o empréstimo--, milhões de empresas estarão falidas e dezenas de milhões de pessoas, sem emprego.
Talvez tenhamos sorte, e o gênio humano e capitalista para inovação produzam uma vacina mais depressa do que se espera --ou pelo menos tratamentos que reduzam os sintomas do Covid-19. Mas do contrário nossos líderes e nossa sociedade muito em breve precisarão mudar sua estratégia de combate ao vírus para algo que seja sustentável.
O doutor Fauci explicou essa severa política de isolamento como durando 14 dias em seu prazo inicial. A orientação nacional seria então reconsiderada dependendo da disseminação da doença. Esse deverá ser o momento, senão antes, de oferecer novas orientações sobre o que poderá se chamar a fase 2 da campanha da pandemia do coronavírus. Esta certamente incluirá medidas rígidas para isolar e proteger os mais vulneráveis --os idosos e os que têm problemas médicos crônicos. Isso não deverá se tornar uma discussão sobre quantas vidas sacrificar contra quantos empregos perdidos podemos tolerar. O afastamento social substancial e outras medidas terão de continuar durante algum tempo de alguma forma, dependendo de como evoluirá nosso conhecimento do vírus e seus efeitos.
Mas nenhuma sociedade pode proteger a saúde pública durante muito tempo ao custo de sua saúde econômica geral. Até os recursos americanos para combater uma praga viral não são ilimitados --e se tornarão mais limitados dia a dia conforme os indivíduos perderem os empregos, as empresas fecharem e a prosperidade americana der lugar à pobreza. Os EUA precisam urgentemente de uma estratégia pandêmica que seja mais sustentável econômica e socialmente do que o isolamento nacional atual.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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