Cansei do tom sombrio do noticiário das últimas semanas, de modo que hoje vou dar uma de Pangloss, o personagem irremediavelmente otimista do “Cândido” de Voltaire.
Antes de mais nada, mesmo nos piores cenários hoje traçados, não estamos diante de um evento de nível de extinção da humanidade. Um dia a epidemia vai passar, e a esmagadora maioria das pessoas terá sobrevivido a ela. As estruturas produtivas também. Aliás, dois efeitos colaterais positivos da virtual paralisação de cidades brasileiras deverão ser a redução de homicídios e dos óbitos no trânsito.
Num plano já mais anímico, eu destacaria a retomada da confiança na ciência. Sei que isso é mais uma esperança pessoal do que uma certeza, mas não me parece implausível que as pessoas percebam que a coisa só não ficou muito pior porque muitos governos ouviram os cientistas e tomaram as medidas certas. Desfechos diferenciados entre países que deram ou não deram atenção às recomendações poderão oferecer uma base de comparação eloquente.
Se até Trump, depois de muita relutância, foi capaz de perceber que era melhor seguir a ciência do que suas intuições, então qualquer um é em princípio capaz de fazê-lo —bem, o Bolsonaro talvez não.
Ainda no capítulo microrganismos, bobeamos ao ignorar os alertas dos virologistas de que uma pandemia importante estava a caminho, mas não é tarde para fazer algo a respeito do problema da resistência a antibióticos, que, asseguram-nos os infectologistas, deverá causar uma próxima crise sanitária.
Outra consequência da passagem da Covid-19 que soa promissora é a disseminação do “home office”. As pessoas vão descobrir que o trabalho remoto é possível em muito mais situações do que se supunha, e isso poderá trazer impactos positivos para a produtividade, a felicidade individual, o trânsito e até a vida dos bairros.
Procurando bem, até epidemias têm aspectos positivos.
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