Até o início da semana, o governo britânico recomendava que os cidadãos mantivessem a rotina. A ideia era permitir que a população desenvolvesse imunidade ao coronavírus e evitar prejuízos graves à economia. O cenário mudou. Na sexta (20), o primeiro-ministro anunciou o fechamento de pubs e a cobertura de até 80% dos salários de quem tiver que parar de trabalhar.
Governantes de todo o mundo já foram atropelados pelos fatos, mas alguns deles insistem em ficar vendados no meio da estrada. Nos dias em que a curva de casos no Brasil atingiu a faixa do milhar e as projeções econômicas chegaram à recessão, Jair Bolsonaro optou por uma teimosia cada vez mais perigosa.
O presidente afirmava, há pouco mais de dez dias, que a emergência que se desenhava era "muito mais fantasia". Disfarçou uma mudança de tom quando a explosão da Covid-19 no país se mostrou inevitável, mas terminou a semana chamando a doença de "uma gripezinha".
Bolsonaro falava sobre a possibilidade de ter sido infectado e usou o diminutivo para comparar o vírus à facada da campanha de 2018. Queria demonstrar força, mas deu mais um sinal de desgoverno e crueldade. Para valorizar a própria imagem, mandou um recado de menosprezo sobre uma doença que matou milhares.
O governo conseguiu reforçar seu comportamento inconsequente mesmo diante dos desafios crescentes da crise. Bolsonaro repetiu que a economia não pode parar, mas escalou sua provocação aos governadores em vez de coordenar um planejamento cuidadoso das restrições aplicadas nos estados, como o fechamento do comércio e de estradas.
Para piorar, enquanto o país se preparava para pedir à China o empréstimo de equipamentos para enfrentar o surto, o filho do presidente atacava os governantes do país e mobilizava o Itamaraty para fazer uma comovente defesa de sua honra.
O país atravessa dias decisivos no enfrentamento aos efeitos do coronavírus. De novo, Bolsonaro provou que não está à altura da missão.
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