Taxas de ocupação nas UTIs do país são muito elevadas
Mesmo antes da epidemia, uma falha da medicina brasileira era a pouca atenção dada aos cuidados paliativos. Todo o mundo sabe que vai morrer um dia, mas, por uma série de fatores, esse é um assunto que preferimos evitar, inclusive nos hospitais. O resultado é o prolongamento de esforços terapêuticos para além do razoável, muitas vezes aumentando o sofrimento do paciente e incorrendo em gastos difíceis de justificar.
O que a experiência brasileira e internacional mostra é que, quando equipes de cuidados paliativos se engajam em estabelecer uma comunicação honesta e empática com os pacientes e seus familiares, explicando o que se pode esperar nas próximas fases da doença, mesmo os piores prognósticos tendem a ser recebidos com menos angústia. Isso permite traçar estratégias mais humanas e realistas de tratamento, seja o paliativo exclusivo ou proporcional.
Se paliar mais já era uma necessidade antes da Covid-19, tornou-se agora questão de sobrevivência —de pessoas e do sistema.
O grande gargalo são as UTIs. O Brasil tinha, antes da crise, 47 mil leitos de UTI, mas mal distribuídos e com taxas de ocupação elevadas —95% no SUS e 80% na rede particular. Há grande esforço para ampliar essa capacidade. A ocupação será reduzida com a restrição de cirurgias eletivas, mas é preciso fazer mais.
Pacientes paliados que já não tenham como se beneficiar de internação devem, até para reduzir o risco de contrair nova moléstia, ser transferidos para casa ou unidades de retaguarda.
Se os piores cenários se materializarem e a infecção atingir com força também as cidades menores, milhares de pacientes poderão ficar sem acesso a UTIs. Só 10% dos municípios do país contam com esse tipo de leito. A impossibilidade de proporcionar um tratamento efetivo não desobriga médicos de oferecer conforto a esses pacientes. Como estão os estoques e a distribuição de morfina?
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