Entre o planejado e a realidade há uma enorme diferença
Por um momento, deixei-me iludir pela preparação razoavelmente competente das autoridades sanitárias para a epidemia. Foi bom ver que elas pelo menos tinham planos, ao contrário do comandante-mor. Mas é claro que, entre o planejado e a realidade, há uma enorme diferença. E foi só a realidade aproximar-se para os buracos aparecerem.
Falta equipamento de proteção individual para os profissionais de saúde. Eles estão, em muitas unidades, trabalhando com material menos seguro que o desejável e com estoques menores que os confortáveis. Não ignoro que haja carência mundial desses produtos, mas a distribuição do que temos deveria ter sido mais criteriosa. Se médicos e enfermeiros mais habituados a lidar com situações críticas tiverem de ser afastados da linha de frente para cumprir quarentenas, nosso desempenho em salvar vidas será pior.
Algo parecido vale para os testes. Eles são importantíssimos para tentar quebrar as cadeias de transmissão na comunidade e indispensáveis para gerenciar o fluxo nos hospitais. O pior cenário é aquele em que pacientes de Covid-19 são misturados com os de outras doenças, infectando uma população cujo risco já tende a ser aumentado.
O gargalo são as UTIs, mais especificamente os ventiladores pulmonares. O mundo inteiro corre para produzi-los, mas eles dificilmente chegarão antes de um pico de demanda. Ocorre que mesmo nessa situação desesperadora há o que fazer, se houver planejamento.
Há ao menos um trabalho acadêmico (Neyman e Irvin, 2006) referendando a repartição de ventiladores em situações de catástrofe. Desde que o peso dos pacientes e os parâmetros ventilatórios necessários sejam parecidos, um único aparelho pode ser usado por quatro pessoas. Falamos aqui de em tese quadruplicar a capacidade. É claro que, para essa medida tornar-se viável, é preciso providenciar réguas e tubulação extra para as ligações. Há alguém cuidando disso?
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