KAZAN
Não ganhar mais uma Copa do Mundo não tem a menor importância para o futuro do futebol brasileiro.
Tanto é verdade que já foram conquistadas cinco e o presente do nosso futebol é o que é, com clubes inadimplentes e cartolas corruptos ou fora do jogo, por causa do FBI e da Interpol, ou ainda dando as cartas, graças à leniência das autoridades brasileiras.
O futebol brasileiro ficou 24 anos sem passar do tri ao tetra e já está há 16 sem sair do penta ao hexa. E daí?
A Alemanha nem pentacampeã é e seu campeonato nacional beira os 45 mil torcedores em média por jogo.
No país cinco vezes campeão não chega aos 18 mil.
Ganhar Copas do Mundo, francamente, é o de menos, por maior que seja a comoção que afeta até crianças desligadas do futebol, mas capazes de chorar com a eliminação. Uma senhora em prantos que acompanhava o secretário-menor da CBF em Kazan chegou a dizer que estava de luto, e Renato Augusto comparou a derrota à morte de um parente. Menos, minha senhora, muito menos, Renato Augusto.
A Espanha só foi ganhar sua primeira Copa oito anos atrás e nem por isso o Real Madrid e o Barcelona eram menores do que são, ao contrário, tinham o mesmo tamanho.
É preciso entender de uma vez por todas que são clubes os responsáveis pela grandeza ou pequenez do futebol de um país, sem precisar exagerar como o presidente madridista que trabalha contra a seleção espanhola para não ver ofuscado o clube presidido por ele. Você sabe, rara leitora, você sabe, raro leitor: entre o seu clube campeão mundial e a seleção brasileira a escolha será quase sempre, mais de 90% das vezes, pelo clube.
E você que torceu contra, ou disse que torceu, porque o Temer não merece, o coronel Nunes também não, o Marco Polo que não viaja e o Caboclo que ele inventou muito menos, veja que quanto pior, pior mesmo, porque nada vai mudar.
Tanto que a seleção perdeu as últimas quatro Copas e nada mudou, assim como quando ganhou não foi por causa de Havelange e Teixeira, mas por causa de Pelé, Mané, Tostão, Rivellino, Romário, Rivaldo e Ronaldos.
O Brasil está fora da Copa, mas ela não acabou. Na terça-feira (10), em São Petersburgo, deveremos ter um recital de futebol: França x Bélgica, com ares de final antecipada, como seria França x Brasil. Só que seria e não será. Mas só mesmo.
Juca Kfouri
Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.
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