O relevante é pensar e inventar o Uber ou a Amazon ou o Facebook
06/07/2018 | 05h30
Por Pedro Doria - O Estado de S. Paulo
A política brasileira para tecnologia é burra.
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Parece duro dizer assim, de forma tão crua. Mas é burra. Pior do que burra, é criminosa. O digital não é prioridade para o governo de Michel Temer. Como não foi para os governos de Dilma Rousseff ou de Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Henrique Cardoso.
A última aprontada pelo Planalto é a seguinte: um naco do Fundo de Universalização de Telecomunicações, quase R$ 800 milhões, será usado para cobrir o subsídio ao diesel dos caminhoneiros. Criado no fim do governo FH, o Fust serve para pagar a infraestrutura das teles que dá prejuízo. É um fundo grande: leva, todo mês, 1% sobre a receita operacional bruta de todas as empresas de telecomunicações. Levar cabo até uma região remota, com gente pobre, é muito caro e não dá retorno. Mas é necessário. Para isso, existe o Fust. Quando o governo saca deste fundo para subsidiar o diesel, tenta amainar um problema de transporte que tinha de ter sido resolvido no século XX ao preço de não resolver as questões do século XXI.
Não se trata de uma ficção. Pegue-se a lista da revista Fortune com as 500 empresas mais valiosas. Em primeiro, a Apple. Seguida de Amazon, Alphabet (Google), Microsoft e Facebook. É o top 5. Uma empresa de hardware e software seguida por quatro empresas de software.
Este é o negócio que mais dá dinheiro no mundo. É um negócio que se constrói da seguinte forma: muito engenheiro, muito designer, computador bom na mão de todo mundo e uma conexão sólida com a internet. Salpique crédito para que pequenas empresas com times de três ou quatro possam viver por dois anos. De cada cinco, três vão falir e duas se sustentarão. Vez por outra, uma destas vira negócio que vale bilhões.
O melhor notebook da Apple custa, nos EUA, quase US$ 2 mil ou, aproximadamente, R$ 7,7 mil. A mesma máquina comprada legalmente, aqui, sai por R$ 17 mil. Dá saudades do tempo em que só dobrava. Soma o câmbio desfavorável com a quantidade absurda de impostos e dá nisso.
Num mundo em que computador virou commodity, o Brasil ainda os trata como produto de luxo, que não pode, não deve, chegar a quem é pobre. Assim como o cabo que o Fust foi criado para pagar, mas não pagará. No governo passado, o então ministro Aloizio Mercadante celebrou que a chinesa Foxconn fabricaria iPhones no Brasil. Traz quase tudo pronto, encaixa as peças, paga imposto menor. O Brasil, conta a lenda dos press releases, ganharia algum tipo de conhecimento.
Pois é conhecimento irrelevante. O relevante é o software e o serviço. O relevante é pensar e inventar o Uber, ou a Amazon, ou o Facebook. Este é um jogo de quantidades. Muita gente que saiba programar, muita gente que tenha uma tela digital nas mãos desde cedo e conectada à rede. O segredo é escola pública que ensine código aos alunos bons de matemática, é celular e computador subsidiado e o Fust que seja usado para seu fim legal.
Apesar do governo, o Brasil anda.
Montar uma startup no Brasil, por conta da estúpida carga de impostos e total falta de políticas públicas, é mais caro do que fazê-lo em qualquer um de nossos vizinhos. Mas brasileiros montam startups. Olham para as coisas nossas e tentam imaginar soluções digitais. Que sejam mais simples e mais baratas. Foi assim, faz uns anos, com o boom de apps de táxi. É assim, agora, com as fintechs.
Mas basta entrar num dos muitos coworkings, espaços que múltiplas startups dividem, para compreender que está se tentando de tudo. Apesar de o governo ainda não ter entendido o século 21. Quem sabe o próximo.
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