O Estado de S.Paulo
11 Julho 2018 | 05h00
Enquanto pioram as projeções para a indústria e para a maior parte das atividades, num cenário de crescente incerteza política, pelo menos o agronegócio mantém perspectivas de bom desempenho neste ano. A safra de grãos deve consolidar-se como a segunda maior da história, apesar da escassez de chuvas em grande parte das áreas produtoras. Principal fonte de receita de exportação, o agronegócio continua proporcionando ao País dólares suficientes para garantir segurança externa. A produção total de grãos deve chegar a 228,5 milhões de toneladas, volume só inferior, por uma diferença de 3,9%, ao recorde histórico da temporada 2016-2017. A nova estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada ontem, foi pouco inferior à de junho, com redução de 1,2 milhão de toneladas. Nesta altura, a colheita de verão foi concluída, a dos produtos do segundo e do terceiro plantios está avançada e prosseguem os trabalhos das culturas de inverno, com o trigo como principal componente.
A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é pouco menor – 227,9 milhões de toneladas para os grãos de todas as estações – e também reflete os efeitos da chuva insuficiente.
A maior produção continua sendo a de soja, com um total de 118,9 milhões de toneladas na projeção da Conab. Esse volume é 4,2% maior que o da safra 2016-2017 e também superior ao estimado em junho (118 milhões). A segunda maior cultura, a do milho, deve render neste ano 82,9 milhões de toneladas, considerados os dois plantios. O volume deve ser 15,2% menor que o da temporada anterior.
O conjunto das projeções inclui condições tranquilas no abastecimento do mercado interno, mesmo com safras de arroz (11,8 milhões de toneladas) e feijão (3,3 milhões) ligeiramente menores que as do ano passado. A de trigo está projetada em 4,9 milhões de toneladas, com um bom ganho em relação à anterior (4,3 milhões). De modo geral, o suprimento do mercado interno continua sem problemas, com boas perspectivas de oferta para a maior parte dos produtos essenciais. Pressões como as verificadas no varejo no fim de maio e no mês de junho, em consequência da crise no transporte rodoviário, são muito improváveis, se nenhum dano muito mais grave for gerado, neste semestre, pela insegurança política.
Além de assegurar boas condições de abastecimento do mercado interno, o agronegócio continua gerando a maior fatia dos dólares conseguidos com a exportação. Os últimos números consolidados do comércio externo do agronegócio chegam até maio. Esse trabalho é produzido pelo Ministério da Agricultura com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Nos primeiros cinco meses do ano o setor exportou produtos no valor de US$ 40,3 bilhões.
O aumento das quantidades garantiu uma receita 3,8% maior que a de janeiro a maio de 2017. Entre os dois períodos, o índice de preços caiu 0,4%. Os US$ 40,3 bilhões faturados em 2018 corresponderam a 43,1% da exportação total. Um ano antes a parcela do setor equivaleu a 44,2%.
Em 2018, até maio, o agronegócio gerou superávit comercial de US$ 34,3 bilhões. Como outros setores foram deficitários, o saldo geral do comércio exterior de bens ficou em US$ 24,2 bilhões nos cinco meses.
Nos 12 meses até maio, o valor exportado pelo agronegócio chegou a US$ 97,5 bilhões, com aumento de 11,9% em relação ao período imediatamente anterior. O total faturado pelo setor equivaleu a 43,6% da receita geral do comércio exterior de bens. O saldo comercial atingiu US$ 83,5 bilhões.
Soja e derivados continuam no topo das vendas do agronegócio, com produtos florestais e carnes no segundo e no terceiro lugares neste ano. A Ásia, liderada pela China, mantém-se como principal destino das exportações do setor, logo acima da União Europeia. Mas o comércio com a China seria muito mais satisfatório se o mercado chinês – como o europeu e o americano – também absorvesse manufaturados. Sem isso, o comércio com a China parece colonial.
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