04/07/2018 - O Globo
Desde que se rendeu ao rodoviarismo, a partir da década de 50, o Brasil passa por momentos difíceis causados por este desbalanceamento na estrutura de transporte. Há efeitos também nos grandes centros urbanos, que se atrasaram na construção do metrô, e ainda deixaram de conservar e expandir os trens, dobrando a aposta nos ônibus. Hoje, perseguem o tempo perdido.
O primeiro choque do petróleo, no início da década de 70, alertou para o fim da era do combustível fóssil barato. E a Petrobras sequer atendia ao consumo interno; era a maior importadora individual de petróleo do mundo. Em vão. O rodoviarismo foi mantido, o país se endividou para queimar combustível importado e terminou quebrando no início da década seguinte, depois do segundo choque, sendo obrigado a ir mais uma vez ao FMI.
Há pouco, ocorreu a greve dos caminhoneiros, que fechou estratégicos entroncamentos de estradas, e, com isso, dobrou o fraco governo Temer. Como em outras vezes, voltou-se a criticar a falta de uma estrutura minimamente robusta de transporte ferroviário.
Ao menos agora, o Planalto deu um passo certo, ao adotar o caminho mais lógico e curto para, enfim, desobstruir os gargalos para a expansão ferroviária: transferir a empresas privadas que já operam ferrovias, obras estratégicas que continuam nas pranchetas. É hora mesmo de ser realista. Na gestão de Fernando Henrique, avançou-se na privatização, mas a ampliação da malha jamais deslanchou como necessário. Com Lula e Dilma, principalmente com esta, tudo andou de lado, devido ao dogma anti-iniciativa privada. Mesmo quando não havia outra alternativa, contratos eram feitos, mas a capacidade do setor privado não podia ser exercitada em toda a sua potencialidade, devido aos preconceitos ideológicos.
Também foi assim que obras ferroviárias ficaram sob o controle do PR, dono do Ministério do Transporte, controlado até hoje pelo ex-presidiário Valdemar Costa Neto, trancafiado como mensaleiro. Gerou-se muita propina e poucos quilômetros de trilhos, a depender do caso.
As obras serão tocadas em troca da prorrogação de concessões. Um jogo em que todos ganham. Dessa forma, por exemplo, a Vale, hoje privada e com grande experiência no transporte ferroviário, que a ajudou a se tornar um dos maiores exportadores de minério de ferro do planeta, deverá ficar com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), enquanto a MRS Logística poderá executar o antigo projeto do Ferroanel de São Paulo.
É uma obra de necessidade óbvia, de apenas 53 quilômetros, que tirará os trens de carga dos trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), reduzindo o tempo de trânsito das composições na região da maior cidade do país e do maior porto, Santos. Pode-se fazer a crítica de que esta não é decisão para um governo a seis meses do fim. Não procede, porque este é um projeto de Estado, independe do governante de turno.
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