Precisemos entender que o futebol do século 21 é muito mais coletivo do que só o culto a um ídolo
MOSCOU
Neymar não deu entrevista na saída do estádio de Kazan nem na chegada ao Brasil, neste domingo (8). Não julgou importante responder a questões simples, como "por que a seleção perdeu, na sua opinião?", ou mais complexas: "É difícil ser Neymar?".
Ninguém tem obrigação de dar entrevistas. Mas quem quer ser grande precisa entender o tamanho de sua responsabilidade.
Neymar é o terceiro símbolo de uma época em que as Copas do Mundo consagram mais os times organizados do que os supercraques (veja ilustrações da Itália de 2006 e da Alemanha de 2014). Zidane e Ronaldinho não venceram em 2006, Messi e Cristiano Ronaldo não ganharam em 2010 nem em 2014, e Neymar não brilhou em 2018. Não foi nem sequer o melhor jogador da seleção.
Não seria justo culpá-lo pela derrota. Analisar o momento da carreira de Neymar é o ponto. Neymar sai da Copa menor do que entrou. Todos os jornais europeus trataram da queda do Brasil como a vez final em que Neymar caiu. Leitores estão rolando... de rir.
Neymar também poderia responder se a arbitragem melhorou com o árbitro de vídeo, que anulou um pênalti depois de tê-lo marcado sobre Neymar. Poderia falar sobre a diminuição do espaço, com as linhas de defesa e meio de campo espremidas em dez metros.
Ficou mais difícil driblar? Mas Neymar prefere se calar e seguir para Mangaratiba. Em algum momento das férias, enfiará a cabeça embaixo da água da piscina.
Neymar não é um menino. Completará dez anos de carreira no ano que vem. Menino é seu filho, que completará sete anos em 2018. Neymar é um homem, não um garotinho.
Mas comporta-se como se não entendesse que, diferentemente de um astro de cinema que precisa aparecer no lançamento, seu papel é demonstrar-se grande na adversidade. Porque Neymar não é um pop star, ou pelo menos não apenas isso. Ele faz parte de um time, acompanhado por 209 milhões de pessoas, que voltou a torcer com a intensidade que há tempos não havia, com gritos na porta dos hotéis que o fizeram manifestar-se antes dos jogos, com imagens e mensagens no Instagram.
Por mais que nós, brasileiros, precisemos entender que o futebol do século 21 é muito mais coletivo do que só o culto a um único ídolo, Neymar deveria saber que a esperança na Copa do Mundo, para 209 milhões de brasileiros, tinha seis letras: N-E-Y-M-A-R. A esperança é muda.
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