sexta-feira, 6 de julho de 2018

Galvão Bueno faz editorial, e Glenda chora para a câmera, FSP

SÃO PAULO
O locutor e âncora Galvão Bueno bem que queria apontar um culpado, ao final. Ao surgir uma imagem de Neymar, até começou uma frase em tom acusatório, "Nossas grandes estrelas...", mas parou ou foi parado. Depois falou em derrota da seleção "no total, sem escolher ninguém", e afirmou repetidamente que "é um esporte".
Não era esse o seu instinto. Durante a transmissão, ele voltou a culpar o juiz durante toda a partida —e responsabilizou Fernandinho, raivosamente, pelo primeiro e pelo segundo gol da Bélgica. Só foi se conter ou foi contido depois de encerrado o jogo.
​E fez então um salto de oratória, passando tortuosamente a defender a manutenção de Tite ou, mais especificamente, que a atual direção da CBF não tome decisão nenhuma até passar o bastão, em abril de 2019.
Culminou com frases como "houve uma varredura, uma limpeza no futebol brasileiro", referência à investigação nos EUA. Acabou por confundir o comentarista Ronaldo, que apoiou Aécio Neves para presidente e começou a falar de política nacional, até ser cortado por Galvão, rindo e dizendo: "Aí eu já não sei".
O interesse editorial era mais comezinho, imediato: evitar que a direção atual da CBF atrapalhe, como explicitou o narrador, as "grandes audiências" alcançadas.
O encerramento interessado do locutor e âncora contrastou, em seguida, com a entrada lacrimosa de Glenda Kozlowski, chorando diante da câmera ao falar da reação da mãe do mesmo Fernandinho, diante do gol contra do filho.
Foi um encerramento mais adequado, na verdade, para a primeira cobertura não jornalística da campanha brasileira pela Globo.
Seu departamento de Esporte, antes da Copa da Rússia, se desgarrou do Jornalismo para permitir projetos ligados mais diretamente à publicidade.
As entradas ufanistas de Kozlowski e de Alex Escobar, forçando risadas desde antes da estreia no torneio, também os links com ruas em verde-e-amarelo que festejavam ao receber o sinal das câmeras, também a participação de garotos-propagandas dos patrocinadores nos próprios programas: tudo se integrou mais aos anúncios sempre verde-e-amarelos dos intervalos.
Ufanismo antes, lágrima depois, aí sim o jogo se completou.
Nelson de Sá
Jornalista, foi editor da Ilustrada.

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