“Se uma mulher tem inclinações acadêmicas, normalmente é porque há algo de errado com a sexualidade dela”. Horrível? Nietzsche.
Hegel tenta ser mais generoso: “Mulheres são capazes de educar-se, mas elas não são feitas para atividades que exijam uma faculdade universal, como as ciências mais avançadas, a filosofia e algumas formas de produção artística... Mulheres regulam suas ações não pelas exigências da universalidade, mas por inclinações e opiniões arbitrárias”.
E tanto Nietzsche quanto Hegel são misóginos amadores perto de Schopenhauer, que escreveu um pequeno ensaio cujo objetivo principal é enxovalhar o outrora chamado sexo frágil. Ali ele afirma que a “mulher é por natureza feita para obedecer”. Mesmo nos raros momentos em que tenta demonstrar simpatia, o resultado é duvidoso: “Mulheres são naturalmente dotadas para atuar como enfermeiras e professoras de nossa primeira infância, pelo fato de que são elas próprias infantis, frívolas e míopes”.
O problema é com os alemães, dirá a leitora. Não. “No que diz respeito aos sexos, o macho é por natureza superior, e a fêmea, inferior, o macho, soberano, e a fêmea, súdita”. Essa é do helênico Aristóteles, que também descreve as mulheres como “machos deformados”.
Faltaram autores de esquerda, reclamará a inconformada leitora. Bem, Rousseau, que é o pai espiritual da esquerda, escreveu: “Sempre justifique as limitações que você impõe às meninas, mas não deixe de impô-las”.
Mulheres estão absolutamente certas em exigir a plena igualdade de direitos e em denunciar os abusos de que ainda são vítimas. Receio, porém, que avancem o sinal quando cobram de autores, inclusive os do passado, uma espécie de atestado de bom comportamento em relação ao gênero feminino. Fazê-lo é ignorar que as pessoas são prisioneiras de seu tempo e levaria ao banimento quase total da filosofia e da literatura.
Hélio Schwartsman
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