terça-feira, 26 de agosto de 2025

Marco Vinholi lança livro sobre regionalização de SP, FSP

 O diretor técnico do Sebrae e ex-secretário de Desenvolvimento Regional do governo estadual, Marco Vinholi (PSDB), lança, nesta terça-feira (26), o livro "Regionalização de São Paulo - Governança, Participação e Financiamento".

0
Marco Vinholi no Lançamento do livro "João Doria - O poder da transformação", do jornalista Thales Guaracy - Mathilde Missioneiro/Folhapress

A obra nasceu de sua pesquisa no mestrado e da experiência como gestor público, propondo caminhos para uma gestão regional mais integrada, participativa e eficiente.

Vinholi participa de uma sessão de autógrafos na Livraria Travessa, no shopping Iguatemi, a partir das 18h.

"As pessoas moram nas cidades, mas vivem regionalmente. Grande parte dos problemas e das soluções é de ordem regional. Dessa forma, a ideia é permitir que São Paulo valorize as singularidades de 32 unidades regionais e a interdependência entre elas, avançando para soluções compartilhadas e voltadas ao desenvolvimento integrado das macrorregiões", diz o ex-secretário.

com DIEGO ALEJANDRO, KARINA MATIAS e VICTÓRIA CÓCOLO

Sensor portátil detecta canabinoides sintéticos em cigarros eletrônicos e fluidos biológicos, Agência Fapesp

 José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Mesmo sem conter nenhuma substância ilícita, o líquido dos cigarros eletrônicos pode causar sérios danos à saúde. Em muitos casos, a concentração de nicotina nesses produtos é várias vezes superior à encontrada nos cigarros convencionais – o que favorece a rápida instalação da dependência. Além disso, como os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil – proibição que engloba a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, conforme resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – os produtos oferecidos aos usuários não passam por nenhum controle de qualidade.

“Alguns desses líquidos chegam a ter 100 vezes mais nicotina do que um cigarro comum, cujo limite máximo legal é de 1 micrograma de nicotina por cigarro. Além disso, já foram encontrados nos líquidos aditivos como o acetato de vitamina E, que causou mortes e lesões pulmonares permanentes em usuários nos Estados Unidos”, afirma Luciano Arantes, pesquisador e membro do comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Substâncias Psicoativas (INCT-SP).

O cenário se torna ainda mais preocupante quando se considera o uso clandestino de canabinoides sintéticos nesses dispositivos. Essas substâncias são criadas em laboratório para imitar os efeitos do tetrahidrocanabinol (THC), o principal componente psicoativo encontrado na Cannabis sativa (maconha). Mas os canabinoides sintéticos são muito mais potentes e podem desencadear efeitos neurológicos como convulsões, surtos psicóticos e até mortes por overdose.

“O que estamos vendo é uma corrida química. Grupos clandestinos produzem drogas com estruturas cada vez mais potentes, exigindo doses mínimas para obter o efeito desejado. Como não há qualquer rotulagem ou aviso, o usuário consome sem saber o que está ingerindo”, alerta Arantes.

Para enfrentar o problema, pesquisadores brasileiros, com parceria internacional, desenvolveram um sensor portátil capaz de detectar com precisão canabinoides sintéticos em líquidos de cigarro eletrônico e em fluidos biológicos, como a saliva. O dispositivo foi descrito em artigo publicado na revista Talanta.

“Nós desenvolvemos um método eletroquímico que identifica com alta seletividade e sensibilidade diferentes moléculas de canabinoides sintéticos. A análise pode ser feita em qualquer lugar, com uma pequena amostra, e o sensor responde por meio de um sinal eletroquímico característico”, descreve Larissa Magalhães de Almeida Melo, primeira autora do estudo, juntamente com a aluna Cecília Barroso.

O dispositivo utiliza um eletrodo de diamante dopado com boro, fabricado em colaboração com um grupo da Universidade de Tecnologia de Bratislava, na Eslováquia. “É um sistema simples: o eletrodo é conectado a um potenciostato portátil, que pode ser acoplado a um celular por sua porta USB-C ou mesmo por conexão sem fio via Bluetooth. A resposta é um gráfico de potencial por corrente, com picos específicos que identificam e quantificam as substâncias presentes”, explica Melo.

“Esse sensor apresenta uma grande inovação no campo dos dispositivos portáteis, pois alia a portabilidade dos sensores impressos com a alta estabilidade dos materiais de diamante dopado com boro, podendo ser reutilizados inúmeras vezes”, sublinha Wallans Torres Pio dos Santos, professor da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, e coordenador do estudo.

Testado com as substâncias AB-Chminaca e MDMB-4en-Pinaca, dois dos canabinoides sintéticos mais comuns e perigosos, o sensor demonstrou capacidade de detectar concentrações muito baixas, da ordem de 0,2 µM, mesmo na presença de altos teores de nicotina e outras interferências. Em química, o µM, chamado de micromolar, é uma unidade de medida da concentração de uma substância em solução. O valor de 1 µM é de um milionésimo de mol por litro.

“O grande diferencial do nosso dispositivo está na seletividade. Mesmo com a complexidade das amostras, conseguimos focar apenas nas substâncias de interesse. É como entrar num ambiente escuro e iluminar só o ponto que queremos observar”, compara Santos.

Além da aplicação como ferramenta de triagem pela polícia científica, o aparato poderá ser usado no campo da saúde pública para o pronto atendimento de usuários em situação de overdose ou acometidos por outras complicações – e também em ações preventivas de redução de danos. Para este último objetivo, o grupo de pesquisadores mantém parceria com o “Projeto BACO - A Toxicologia & as Análises Toxicológicas como fontes de informação para políticas públicas sobre drogas”. “O objetivo desse projeto é avaliar o uso de novas substâncias psicoativas em festas e festivais, por meio da análise de amostras de fluido oral (saliva). Nossa parceria com os pesquisadores do BACO busca estender o objetivo inicial do projeto para permitir não somente a análise da saliva, mas também uma triagem imediata em substâncias que os frequentadores pretendam consumir”, explica Arantes.

“Esses canabinoides sintéticos estão em constante transformação. Novas variantes surgem o tempo todo e muitas delas são extremamente potentes e perigosas. Nosso objetivo é desenvolver tecnologias que possam ser levadas a campo. Queremos que o usuário saiba o que está consumindo e tenha condições de tomar uma decisão informada. Isso pode evitar intoxicações graves e até salvar vidas”, ressalta Melo.

“Nossos levantamentos mostram que 63% dos usuários não sabem o que estão consumindo. Muitos acham que estão usando uma droga conhecida, mas na verdade podem estar utilizando uma substância com potência muito maior. Ao identificar a substância no local, o sensor dá ao usuário a chance de tomar uma decisão consciente sobre o uso. Isso, por si só, já reduz riscos e salva vidas”, aponta Santos.


Gráfico que permite identificar e quantificar a substância-alvo presente no cigarro eletrônico (figura: Larissa Melo/INCT-SP)

A capacidade de adaptação do método é outro ponto forte destacado pelos pesquisadores. “Já desenvolvemos sensores para outras classes de substâncias, como LSD e seus análogos sintéticos, catinonas e feniletilaminas. Estamos trabalhando também na incorporação de reagentes colorimétricos aos sensores, para facilitar a interpretação visual dos resultados”, detalha Arantes.

A FAPESP apoia o projeto por meio de auxílio à pesquisa concedido a José Luiz da Costa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em toxicologia e parceiro do grupo. Parte das análises foi feita em colaboração com o laboratório dele, utilizando amostras reais de saliva coletadas em ambientes de uso.

“As amostras de saliva utilizadas no estudo foram coletadas no âmbito do Projeto BACO, desenvolvido na Unicamp em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública [MJSP]. Esse projeto, por sua vez, é um desdobramento da pesquisa "A toxicologia das novas substâncias psicoativas (NSP): epidemiologia do consumo através da análise de amostras de cabelo e fluido oral", também apoiada pela FAPESP, na qual realizamos pela primeira vez no Brasil um levantamento epidemiológico sobre NSP em festas e festivais. A partir dos resultados dessa pesquisa, o MJSP decidiu apoiar e ampliar o estudo, permitindo coletas de amostras em número muito maior, de 500 amostras no projeto inicial para 2.500 no atual. Isso nos permitiu novas parcerias, incluindo esta, com o grupo do professor Wallans”, conta Costa.

“O objetivo é levar a ciência para onde ela pode causar impacto direto. Peritos, médicos e profissionais de saúde precisam de ferramentas acessíveis, rápidas e confiáveis para enfrentar os desafios impostos pelas novas drogas. O que propomos é uma solução prática, portátil e escalável”, resume Arantes.

O artigo A novel electrochemical method for detecting synthetic cannabinoids in e-cigarette and biological samples using a lab-made electrode pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0039914025010641.

domingo, 24 de agosto de 2025

Só com mais investimento saímos do atoleiro, Rolf Kuntz ,OESP

 Enfiado num atoleiro há pelo menos 12 anos, o Brasil só voltará a ser uma economia dinâmica se investir muito mais em capacidade produtiva, cuidar menos de fantasias diplomáticas, valorizar os interesses prosaicos e fizer do governo, mais uma vez, um instrumento de modernização do País. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter ambições mais amplas, mas fará um trabalho respeitável se concentrar seu empenho em tornar mais eficiente a economia brasileira. Depois de um avanço de 1,4% no primeiro trimestre, a produção perdeu impulso e pode ter aumentado apenas 0,3% no período de abril a junho, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), uma prévia do PIB elaborada pelo Banco Central.

Nesse ritmo, o País dificilmente fará mais do que materializar o crescimento de 2,21% indicado no último boletim Focus, uma síntese de projeções do mercado. As funções do governo e as ambições de empresários, financistas e trabalhadores envolvem, no entanto, muito mais do que a expansão estimada para o ano presente e para os dois ou três seguintes. É perfeitamente razoável, no caso de uma economia emergente, ambicionar um ritmo de avanço maior do que o realizado pelos países mais avançados. É preciso correr para diminuir as diferenças entre volumes de produção, níveis de consumo e perspectivas de emprego e de padrões de vida.

Para conseguir esse avanço é preciso poupar e investir em capacidade produtiva. Poupança e investimento dependem tanto do governo quanto do setor privado. Para investir mais em transporte, energia, saneamento, saúde, educação básica e formação de mão de obra, o governo tem de selecionar seus gastos, planejar e programar suas atividades e cuidar da eficiência do setor público. Se suas contas forem bem administradas, o setor público será menos pesado, deixará mais crédito para empresas e consumidores e a economia funcionará com juros mais assimiláveis. O empresariado poderá investir mais em capacidade produtiva e o potencial de crescimento econômico será ampliado.

No Brasil, um cenário com esse conjunto de condições é apenas uma abstração desejável. O equilíbrio das contas públicas é um objetivo permanente e raramente efetivado. Sempre carente de financiamento para fechar suas contas, o Tesouro compete com empresários e consumidores. Isso dificulta a redução de juros e atrapalha tanto o consumo quanto o investimento produtivo.

O Executivo tenta, às vezes, pressionar o Banco Central para reduzir os juros e desemperrar a economia. Mas o órgão, normalmente, cumpre sua função, nada além disso, quando aperta a política monetária para conter o efeito inflacionário da gastança pública e do desarranjo orçamentário. Jogos semelhantes de pressão sobre o Banco Central são realizados por um governo de esquerda no Brasil e por um de direita nos Estados Unidos.

Assim como a aritmética, a moeda é indiferente à coloração partidária dos governos. Apesar disso, as consequências do desarranjo monetário podem ser menos visíveis, ou até neutralizadas em parte, em economias com ampla intervenção governamental. Mas essa intervenção, para funcionar, tem de envolver mais do que moeda e preços. Quando isso ocorre, a perda de liberdade afeta mais do que a escolha entre um sorvete e uma fatia de bolo ou entre uma sorveteria popular e uma chique.

Longe de cenários desse tipo, os brasileiros têm de viver e enfrentar os problemas econômicos em condições políticas e sociais mais encontráveis em sociedades abertas. Em sociedades desse tipo, os preços são determinados por um complicado sistema de preferências e decisões de empresários, consumidores e agentes públicos. Não só os gastos de quem prefere este ou aquele tipo de sorvete interferem no valor final encontrado no varejo. A gestão das finanças públicas também afeta as condições gerais dos mercados, variações de preços setoriais e a precificação final de cada item. Esse amplo quadro inclui as decisões políticas dos eleitores e das autoridades.

Não há como tratar as condições de crescimento da produção, de abertura de empregos e de geração de condições de consumo como fatos “meramente” econômicos e mensuráveis apenas por critérios técnicos. O atoleiro enfrentado pelo Brasil há pelo menos 12 anos – alguns analistas levariam a análise bem mais longe – é um fato político, produzido por decisões e arranjos políticos. O ganho de produtividade necessário para livrar o País desse atoleiro também é, portanto, uma questão política e seria bom se todo cidadão o entendesse dessa forma.

O País cresceu menos de 2% em seis dos dez anos entre 2015 e 2024. O crescimento igualou ou superou 3% em apenas quatro. A maior taxa, 4,8%, ocorreu em 2021, em parte como compensação do desastre do ano anterior, quando o valor produzido encolheu 3,3%. Em nenhum outro período o resultado sequer bateu em 4%. Para crescer é preciso investir em meios de produção e em mão de obra. Neste século, raramente o valor investido igualou ou superou 18% do Produto Interno Bruto (PIB), barreira ultrapassada, em vários emergentes. No primeiro trimestre essa taxa bateu, no Brasil, em 17,8%.