segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Apenas 1% das punições a juízes no Brasil resultam em demissão, revela levantamento, FSP

 

Brasília

O número de juízes e desembargadores demitidos no Brasil entre 2006 e 2025 representou apenas 1% do total de punições aplicadas a magistrados, segundo levantamento feito pela Folha com dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e de 15 tribunais estaduais.

Os dados mostram que apenas sete juízes e desembargadores foram demitidos do Judiciário desde 2006.

A demissão, penalidade máxima prevista para magistrados em caso de falta grave, tem sido substituída pela aposentadoria compulsória, em que o juiz tem direito a receber vencimentos proporcionais ao tempo de trabalho.

Entre 2006 e 2025, ao menos 203 juízes foram punidos com a aposentadoria compulsória. Mesmo após envolvimento em crimes graves, como venda de sentenças, essa penalidade tem sido mais usada do que a demissão, que não dá direito ao recebimento de salário.

A imagem mostra a fachada do edifício do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Brasil. O prédio é moderno, com grandes janelas de vidro refletindo o céu e a vegetação ao redor. À esquerda, está o logotipo do CNJ, e à direita, as bandeiras do Brasil e de outro país. O ambiente é claro e ensolarado, com algumas nuvens visíveis no céu.
Prédio do Conselho Nacional de Justiça em Brasília - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O baixo índice de desligamentos ocorre porque magistrados só podem ser demitidos após sentença judicial transitada em julgado, ou seja, quando não cabem mais recursos. Já a aposentadoria compulsória pode ser aplicada após um PAD (processo administrativo disciplinar), que ocorre no âmbito de cada tribunal ou pelo CNJ.

Neste ano, o juiz Peter Eckschmiedt, do TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), foi punido com a aposentadoria compulsória após ser acusado de venda de sentenças. A corregedoria do TJ descobriu as execuções judiciais fraudulentas e, com isso, afastou o magistrado em maio.

Mesmo depois da punição, Eckschmiedt recebeu, em junho e julho, R$ 90 mil por mês, segundo dados do CNJ.

Procurados, o TJSP e o escritório de advocacia que representa o magistrado não responderam aos questionamentos da reportagem.

A aposentadoria compulsória corresponde a 31% das penalidades aplicadas contra magistrados desde 2006. A maior parte das punições (67%) são mais brandas. Entre elas, a advertência e a censura, quando o juiz não pode figurar na lista de promoção por merecimento durante um ano.

A punição mais severa para magistrados é mais rara do que com os demais servidores do Judiciário, que podem ser demitidos pelo PAD (processo administrativo disciplinar). No entanto, o índice de demissões também é reduzido nessa categoria.

Em quase 20 anos, apenas 0,03% de servidores do Judiciário foram demitidos, um total de 741. Desde 2013, menos de 30 desses servidores estaduais são demitidos por ano. Os desligamentos ocorrem em casos graves, como improbidade administrativa e abandono de cargo. Não há dispensa por baixo desempenho.

Os dados de demissões de servidores foram obtidos via LAI (lei de acesso à informação) com 17 tribunais estaduais. No caso das penalidades aos magistrados, o CNJ e 15 cortes estaduais enviaram as informações solicitadas, incluindo São Paulo e do Rio de Janeiro, dois dos maiores do país. Os tribunais de Minas Gerais e da Bahia, que também tem um número amplo de juízes e desembargadores, não enviaram dados.

As punições a magistrados estão sendo debatidas no âmbito da reforma administrativa, que vai discutir temas relacionados ao serviço público no Congresso Nacional. Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, já disse que a reforma será a prioridade do segundo semestre.

Relator do grupo de trabalho sobre o tema, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) afirmou que o texto da reforma trará o fim da aposentadoria compulsória. A ideia é substituir essa penalidade pela demissão via PAD no CNJ, o que eliminaria a necessidade de ter uma sentença transitada em julgado para que o juiz seja dispensado definitivamente, sem direito a salário.

De acordo com Cibele Franzese, professora de administração pública da FGV (Fundação Getulio Vargas), a aposentadoria compulsória surgiu como resultado da vitaliciedade, que é a estabilidade a qual os juízes têm direito. Essa vitaliciedade é, segundo a professora, uma garantia para a sociedade, já que permite que o magistrado possa julgar de maneira imparcial sem receio de perder o cargo.

Ela diz que, no entanto, a aposentadoria compulsória não deveria se tornar a penalidade máxima para um juiz, que também precisa ser punido após a sentença transitada em julgado. Mas, na prática, são raras as demissões de magistrados.

"O que era para ser uma garantia à sociedade acaba sendo um privilégio desse membro de poder. Ele deveria ser afastado para responder pela conduta que teve, mas o que acontece é que a aposentadoria confessória acaba sendo vista como a própria pena, o que não deveria ser", afirma.

Já Fernando Fontainha, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), avalia que eliminar a aposentadoria compulsória não deveria ser uma solução.

Segundo o professor, permitir uma diversidade de penas é uma maneira de dosar a proporcionalidade. Ele afirma que, além disso, a categoria encontraria outras formas de manter punições mais brandas, caso essa medida avance.

"Se a proposta é tirar uma modulação de pena, ela é ruim e impõe um recrudescimento desnecessário, porque não vai mudar a cultura. É grande a chance de as corporações darem seis meses [de licença] com salário", diz. "Acho que poderia imaginar outras gradações. Por exemplo, a aposentadoria compulsória com metade dos vencimentos proporcionais, que causaria mais medo na corporação."

Malafaia se diz indignado com bandeira dos EUA em ato na Paulista, mas Eduardo Bolsonaro elogia, FSP

 O pastor Silas Malafaia, que organizou o ato pró-Bolsonaro no domingo (7), disse à coluna que ficou "indignado" quando viu a bandeira norte-americana ser aberta em plena avenida Paulista no dia em que se celebrava a Independência do Brasil.

"A minha vontade era pedir para arrancar [a bandeira]. Esse pessoal não tem noção nenhuma", afirma o religioso.

A imagem mostra uma grande multidão reunida em uma manifestação, vista de cima. A maioria das pessoas está vestindo roupas amarelas, e no centro da cena, há uma grande bandeira dos Estados Unidos estendida no chão. Ao fundo, pode-se ver um edifício com um telhado vermelho e uma estrutura de vidro. A bandeira do Brasil também é visível entre a multidão.
Bandeira dos Estados Unidos é aberta na avenida Paulista durante ato bolsonarista - Eduardo Knapp/Folhapress

"Eu fiquei tão indignado quando vi aquela bandeira que você não queira nem [saber]", segue. "Eu sou contra bandeira americana na nossa manifestação. Eu sou 100% contra".

"Parece que eu estava adivinhando que a [TV] Globo, que são uns bandidos, tiraria uma foto grande com a bandeira [norte-americana]".

Além de veículos do grupo Globo, diversos outros, como a Folhapublicaram a imagem da bandeira dos EUA sendo aberta e carregada por manifestantes na avenida.

"O povo chegou na manifestação às 13h, ficou até 17h30. A bandeira ficou estirada lá por poucos minutos. Mas foi a foto que eles [veículos de imprensa] queriam", diz o pastor. "Foto grande com a turma do PT toda de vermelho [em manifestações] não tiram!"

Depois de criticar a abertura da bandeira, Malafaia enviou novo áudio à coluna dizendo desconfiar de armação da esquerda.

"Posso te falar uma verdade? A minha ficha está caindo. Quem é que vai me dizer que não foi a turma da esquerda que estava ali e estendeu [a bandeira dos EUA]? Que não foi a própria esquerda que plantou isso para tentar desmoralizar o nosso evento, que era patriota, de 7 de setembro? Foi muita coincidência esse negócio", afirma ele no áudio.

"Não sei se não foi uma armação, sabe? Pode ser até [iniciativa] de gente nossa mesmo, de bolsonarista, de gente que não pensa. E pode ser de 'nego' da esquerda. Eles são terríveis", diz.

Eduardo Bolsonaro publica foto da bandeira americana na manifestação bolsonarista de domingo e agradece ao presidente dos EUA, Donald Trump - @BolsonaroSP/no Twitter

Malafaia afirma ainda que, no momento em que viu a bandeira dos EUA na avenida Paulista, estava "preocupado com o evento, nem me preocupei [em saber] como estenderam uma bandeira bem perto [do caminhão de som em que estavam as autoridades]".

"Mas eu prometo uma coisa: qualquer outra manifestação que eu estiver no comando, quero ver quem vai estender uma bandeira americana", diz ele.

O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), diz que "o estrago dessa imagem foi grande, e Malafaia tenta explicar o inexplicável. Tinha bandeira no Rio de Janeiro, boneco do [Donald] Trump em outras manifestações".

"Ele pensa que as pessoas são idiotas ao tentar culpar a esquerda. Essa é a política deles mesmos, tanto que o [deputado federalEduardo Bolsonaro está elogiando a bandeira dos EUA na avenida", seguiu.

Malafaia diz que Lindbergh e o PT não têm moral para falar "de ninguém". "Que moral esse cara tem para falar da gente? Eles andam tudo de vermelho, com a camisa da cor do comunismo. Pelo amor de Deus."

"Estava todo mundo de verde e amarelo na avenida", segue. "Por causa de uma bandeira americana? Vá plantar batata esse cara."

Em postagens no X, Eduardo Bolsonaro festejou a iniciativa de se levar uma bandeira norte-americana para a avenida Paulista e escreveu: "Por que uma bandeira dos EUA no dia da Independência do Brasil? As ditaduras geralmente são derrubadas de fora para dentro, porque dentro delas os tiranos censuram qualquer ferramenta que possa fazê-los perder o poder. É por isso que no Dia da Independência do Brasil as pessoas foram às ruas para desmentir a narrativa oficial de que Donald Trump não tem legitimidade no Brasil e que há um ataque americano em andamento contra a soberania nacional. Não! Os brasileiros não precisam mais das prostitutas da mídia tradicional, ricamente pagas com o dinheiro dos contribuintes, para se informarem. E sim, somos um povo educado que sabe agradecer àqueles que nos ajudam na guerra para resgatar nossas liberdades e a democracia."Ele termina a mensagem escrevendo em maiúsculas: "MUITO OBRIGADO, PRESIDENTE DONALD J. TRUMP, POR TRABALHAR PARA CONSERTAR A BAGUNÇA DEIXADA POR SEU ANTECEDENTE".

Ruy Castro - O criador anônimo, FSP

 

O logotipo de James Bond, 007, todos conhecem. O 7 é a coronha da pistola, a que se acoplou o gatilho e o cano de uma Walther PPK. Para alguém com licença para matar, nada melhor como cartão de visita. O pôster de "Amor, Sublime Amor" (1961) —"West Side Story", claro—, também já dizia tudo: a silhueta de um casal dançando nas escadas de incêndio de um edifício depauperado. E o de "Cabaret" (1971)? Um totem luminoso de teatro com Liza Minnelli encarapitada nele. E o de "Manhattan" (1979), de Woody Allen? As silhuetas de edifícios-símbolo de Nova York, como o Empire State, o Chrysler, as Torres Gêmeas e o Citicorp Center, soletrando a palavra "Manhattan" para formar o famoso skyline.

Logotipo de 'James Bond 007' na entrada do Burlington Arcade, em Londres - Tolga Akmen - 4.out.21/AFP

Tenho fascínio por artes gráficas e sempre quis saber de quem eram essas marcas. Em vão —os créditos dos filmes não as atribuíam a pessoas, mas a empresas que não me diziam nada. Agora sei. São todas de autoria de Joe Caroff, um designer gráfico morto há dias em Nova York, aos 103 anos.

Caroff não era famoso nem entre os colegas. Ao contrário deles, não assinava os desenhos, não fazia exposições, não publicava portfólios. Só trabalhava. E, como fazia isso muito bem, era requisitado por editoras de livros, companhias de teatro e produtores de cinema. Chegou a produzir uma capa de livro por dia. Para ele, estava bom —"Sou só um prestador de serviços", dizia.

Caroff recebeu US$ 300 pelo logotipo de 007, criado para um filme de produção modesta, "O Satânico Dr. No", em 1962. Nada mal, porque a marca só lhe tomou alguns minutos para bolar e uma hora para executar. Como ele poderia adivinhar que aquele seria o primeiro de uma bombástica série de filmes, hoje no 25º? Todos explorando o famoso logotipo, pelo qual nunca mais recebeu um centavo —e nunca se queixou.

Ele foi também o autor dos belíssimos cartazes de "Os Reis do Iê-Iê-Iê" (1964), dos Beatles, "Último Tango em Paris" (1972), com Marlon Brado, e "Zelig" (1983), também de Woody Allen. Sempre anônimo, como parecia gostar.