quinta-feira, 17 de abril de 2025

Butantan terá complexo industrial para resposta rápida a novos vírus, diz secretário de Saúde de SP, Patricia Pasquini, FSP

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

Com a ameaça de novos vírus, novas bactérias e até de futuras pandemias, a exemplo do que ocorreu com o coronavírus, Eleuses Paiva, secretário de Estado da Saúde de São Paulo, fará do Instituto Butantan um centro de operações para tomada rápida de decisão, ou seja, um espaço para a produção acelerada de vacinas e medicamentos.

"Tudo o que nós vimos na Covid vai acontecer novamente. Precisamos nos preparar", disse em entrevista à Folha.

No comando da pasta há pouco mais de dois anos e quatro meses, o secretário afirma que cumpre a missão que recebeu de Tarcísio de Freitas (Republicanos): cuidar da saúde da população, que ainda sofre impactos da pandemia de Covid nos 645 municípios do estado.

A imagem mostra um homem sorrindo, vestindo um terno escuro. Ele está posicionado de lado, com um fundo desfocado que parece ser uma parede clara. O homem tem cabelo liso e um sorriso amigável, transmitindo uma expressão positiva.
Eleuses Paiva, em seu gabinete, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Entre as principais agendas do secretário, estão estão a regionalização da saúde, a reativação de novos leitos e a Tabela SUS Paulista, que remunera hospitais com uma cifra diferente do restante do país. A medida beneficia áreas como diagnóstico e tratamento do câncer de mama, procedimentos ortopédicos, exames e consultas especializadas, além de ampliar recursos para pacientes de longa permanência.

Como o sr. encontrou a Secretaria da Saúde ao assumir a gestão? A saúde do estado estava colapsando. Ainda havia um passivo da pandemia. As pessoas não faziam acompanhamento na maioria das doenças crônicas e não conseguíamos dar vazão às cirurgias eletivas. Fizemos algumas modificações estruturais no SUS do estado de São Paulo para colocar as filas para andar. Esse era o grande desafio.

Quais foram as modificações? Primeiro, a regionalização da saúde. O estado mais rico do país é heterogêneo. Temos regiões chamadas de Califórnia brasileira e outras com valores de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano) tão baixos que envergonha qualquer gestor. Não dava para ter uma política de saúde uniforme.

PUBLICIDADE

A partir do momento que os municípios aderiam ao projeto de regionalização, eles nos colocavam quais eram as demandas e nós íamos atrás da oferta de serviço. No interior do estado, o sistema filantrópico (principalmente as Santas Casas), detém 60%,70% do atendimento. E aí nós enxergamos uma coisa clara: quase todas as filantrópicas estavam em sustentabilidade econômica praticamente desaparecidas. Com cerca de 8.000 leitos desativados no estado de São Paulo, tínhamos que fazer uma política para reabrir.

Quanto mais um provedor atendia, mais aumentava seu déficit porque a tabela que remunerava esse procedimento no SUS estava sem reajuste há muito tempo. E aí se criava sistemas de subvenção. O provedor diminuía o atendimento, fechava leito e pegava a subvenção para tentar equilibrar as contas. Para romper com essa lógica foi criada a Tabela SUS Paulista, que hoje beneficia 800 instituições.

O dinheiro para a Tabela SUS Paulista já estava previsto no orçamento? Não, saiu dos R$ 4,8 bilhões a mais que o governador Tarcísio colocou na saúde, fora do orçamento. A Tabela SUS é um plus a mais que damos no valor de cada procedimento, que varia de cerca de 50% a 400%. Montamos também uma comissão para rever esses valores a cada 90 dias. Daqueles 8.000 leitos desativados, em dois anos, reabrimos 6.400. Em 2022, o estado fazia, em média, 700 mil cirurgias. Nós saímos no primeiro ano de um milhão de cirurgias eletivas e no ano passado fomos para um milhão e 200 mil cirurgias eletivas. O que íamos realizar em três anos, fizemos em dois.

Quando há necessidade, contratamos no privado. Abrimos uma licitação em Campinas para contratar leitos privados para atender a uma demanda emergencial de procedimentos, principalmente cirúrgicos e oncológicos. Temos a invasão de outros estados e isso não nos preocupa. Em algumas regiões –pode citar oncologia–, 60% do que atendemos são de outros estados. É o caso de Campinas, por exemplo. Aumentamos a oferta e reduzimos a fila para 15, 20 dias. Atualmente já está em 50 e poucos dias, mas ninguém vai esperar mais do que 60 dias para ser atendido.

O sr. havia dito que a dengue atingiria o platô em maio e depois iria cair. A previsão continua? Não. No interior já atingiu o platô e a curva é descendente. É o caso das regiões de Araçatuba, Presidente Prudente, Marília. Os casos novos em Rio Preto, por exemplo, caíram pela metade. A nossa preocupação é a capital. Uma pergunta que todo mundo me faz é quando vamos resolver o problema da dengue. Quando tivermos vacina para colocar no braço do brasileiro.

Como estão as conversas com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]? Nós apresentamos o pedido de registro da vacina da dengue e eles solicitaram uma série de informações que foram apresentadas dia 7 de março. Aguardamos a manifestação.

Nós começamos a montar a estrutura para iniciar a produção da vacina da dengue em 2025. Fizemos uma programação para dois anos. Estamos hoje com a garantia de produção de 100 milhões de doses. E estamos olhando o aumento dessa produção, porque a Opas [Organização Pan-Americana de Saúde] já se reuniu conosco interessada em levar a vacina da dengue para outros países da América do Sul. Nós faremos do Instituto Butantan um complexo industrial para resposta rápida.

Como funcionará? Se eu tenho um vírus novo, preciso criar algum jeito de combatê-lo. Nós faremos do Butantan o maior centro de operação estratégica e tomada rápida de decisão do estado. Tudo o que nós vimos na Covid vai acontecer novamente. Precisamos nos preparar.

O que é essa tomada de decisão? Produção de vacina e medicamento. Estou tentando abrir mais seis fábricas dentro do Butantan. Vamos levar a Furp (Fundação para o Remédio Popular) para o Butantan gerenciar. Eu quero que moléculas imunizantes fiquem todas nesse centro industrial nosso. E aí, por exemplo, começou a gripe aviária. O que o Butantan fez? Nós já temos a vacina planejada.

A pandemia abriu as portas para a telemedicina. O estado tem projeto de saúde digital? Se é que a pandemia deixou algum legado positivo, a saúde digital foi um. O governador Tarcísio disse que o estado tem que ser a referência em saúde digital, pelas estruturas universitárias que temos. Buscamos casos exitosos no mundo e pegamos os modelos inglês e americano. Os dois usavam a academia como base.

Em São Paulo, fizemos a mesma coisa e usamos a USP (Universidade de São Paulo) como base num projeto de saúde digital pensando em inovação. Esses dois modelos tinham um centro líder e também montamos um, o Centro Líder de Inovação Digital. Lá, você tem o mapeamento de todo o estado, com inteligência artificial. Começamos a trabalhar com quatro grandes projetos: Tele APS (Atenção Primária à Saúde), sendo testada em 117 municípios paulistas. Partimos para o Tele SAP, que é o teleatendimento à população privada de liberdade. Começamos com 85% de resolutividade e já ultrapassamos 90%.

Os presídios já têm estrutura? Cerca de 50% deles estão com estrutura montada. Em dez meses, em média, foram feitos mais de 15 mil atendimentos.

Já houve alguma mudança para São Paulo com o Alexandre Padilha na Saúde? Não. Gostaria de elogiar o trabalho da ex-ministra Nísia. Em São Paulo, eu trabalho com política de saúde, não política na saúde. Tivemos um ótimo relacionamento com a Nísia e esperamos que possamos também ter com o Padilha.

O que o sr. espera da gestão Padilha para São Paulo? Precisamos que o Ministério da Saúde olhe mais para São Paulo porque o teto MAC (de média e alta complexidade) está defasado. No primeiro ano de governo, em outubro, nós já tínhamos estourado o teto em mais de R$ 1,2 bilhão de responsabilidades que eram do governo federal e o estado estava colocando recursos do próprio tesouro. Continuamos fazendo isso e ainda não conseguimos um reajuste do teto. Se era 1,2 bilhão em outubro do ano passado, eu posso falar que agora são três, quatro vezes mais.


RAIO-X | ELEUSES PAIVA, 71

Santos, 1953. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá. Especializou-se em medicina nuclear pela Faculdade de Medicina da USP. É professor assistente de imagenologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Como político, foi vice-prefeito de São José do Rio Preto e atuou como deputado federal em três oportunidades, duas como suplente e uma como titular (entre 2011 e 2015). Presidiu a Associação Paulista de Medicina e a Associação Médica Brasileira por dois mandatos.

A prioridade da segurança, Maria Hermínia Tavares, FSP

 Em boa hora, a proposta de emenda constitucional (PEC) da Segurança Pública saiu do forno. Recém-encaminhada ao Congresso pelo Ministério da Justiça, sinaliza a disposição do Governo Federal de —enfim— assumir papel ativo e positivo em face daquele que, segundo as sondagens de opinião, é hoje o maior problema a atormentar os brasileiros.

A proposta do ministro Ricardo Lewandowski é tão ambiciosa quanto necessária diante da expansão do crime organizado pelo território e da ramificação de seus negócios ilícitos em inimagináveis atividades lícitas. Seu propósito é favorecer a coordenação entre os 27 sistemas de segurança pública de responsabilidade dos estados, aumentando sua eficiência —hoje não só limitada como desigualmente distribuída pela federação.

O diagnóstico do ministro não é original: havia inspirado a lei do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), em 2018, quando Raul Jungman era ministro e Michel Temer, presidente —até morrer pelo desinteresse da gestão Bolsonaro. A iniciativa atual tem o declarado propósito de colocar o Susp na Constituição, fazendo companhia ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Sistema Nacional de Educação (SNE), na esperança de assim lhe dar robustez institucional.

Um homem de cabelo grisalho e usando um terno escuro está falando em um microfone. Ele levanta a mão direita, como se estivesse enfatizando um ponto. Ao fundo, há uma bandeira do Brasil com as cores verde, amarelo e azul.
O ministro Ricardo Lewandowski - Lúcio Távora/Xinhua

Em um Estado federativo, ou a União coordena e integra, ou prevalece a fragmentação de iniciativas de cada ente subnacional. E é disso que trata a proposta de Lewandowski, que contempla a criação de um conselho nacional composto por representantes dos três níveis de governo e da sociedade civil; a padronização de protocolos, informações e dados estatísticos; a atualização das competências das forças federais; e, por último e mais importante, a garantia constitucional para os fundos nacionais de Segurança Pública e Penitenciário.

Mas a constitucionalização, que ainda deverá passar por dura prova no Congresso, não garante por si a consolidação do Susp. Isso envolverá burocracias e delicada negociação com governadores e corporações armadas, que precisam acreditar que podem se beneficiar do novo arranjo. As experiências do SUS e do SNE indicam que estabilidade de regras e taludos repasses de recursos representaram incentivo essencial à adesão de estados e municípios.

Por fim, essa é uma reforma que —se iniciada agora— certamente se prolongará por mais de um mandato presidencial. Requer assim que a mudança vire aspiração da sociedade, forte o bastante para se impor à natural disputa político-partidária.

PUBLICIDADE

Desde já, seu êxito depende de que deixe de ser política de um ministro e se torne prioridade do presidente da República. E, além do mais, que ele saiba apresentá-la, junto com outras indispensáveis medidas de impacto mais imediato, como expressão da sua empatia com o medo e a aflição cotidianos de milhões de brasileiros comuns —razão de fazerem da segurança a sua aspiração maior.

O assunto certamente estará presente na disputa presidencial de 2026, quando caberá ao candidato da situação mostrar que lhe deu e continuará a dar a atenção que a gravidade do problema requer.

Longa vida a Bolsonaro, Ruy Castro, FSP

 Jair Bolsonaro volta ao hospital em decorrência da facada que lhe foi aplicada por um desequilibrado em Juiz de Fora na campanha de 2018. Naquele dia, Bolsonaro foi salvo pelos médicos. O que não impediu que, como presidente, escarrasse o seu desprezo por eles na pandemia, levando-os a trabalhar sob altíssimo risco de vida nas UTIs improvisadas, sonegando-lhes as vacinas, zombando dos pacientes que eles lutavam para salvar e nomeando o repugnante Pazuello como ministro da Saúde.


Só por isso, Bolsonaro justificaria que se soltassem foguetes a cada nó nas tripas que o acomete. É o que, neste momento, ele parece estar pedindo, ao descrever-se como em situação quase terminal e desfilando alegremente pelos corredores como um moribundo. Mas nem os que têm os piores motivos para odiá-lo querem que ele morra num leito de hospital. Não. Bolsonaro precisa viver.

Espera-se que se recupere logo da nova cirurgia, fique firme e volte à invejável forma que ostentava nos jet skis e motociatas enquanto o Brasil enterrava os mortos. Precisará disso para encarar os rigores do julgamento pelos crimes de que é acusado. Enfrentará um processo demorado, em que terá de ficar sentado horas por dia num banco duro de madeira –o banco dos réus–, enquanto seus acusadores desfiam as infâmias que cometeu e pedem punição adequada.

Bolsonaro terá amplo direito de defesa e seus advogados entrarão com todos os recursos possíveis para protelar sua condenação —o que não será nada mal, já que só prolongará sua agonia. Milhares de pascácios fantasiados de amarelo voltarão a acampamentos em Brasília, não mais defronte aos quartéis, mas nos arredores do STF, rezando para pneus por sua absolvição. Será um espetáculo e tanto, e a que, se fosse preciso, muitos pagariam para assistir.

Que os médicos de Bolsonaro garantam a desobstrução intestinal que o aflige e o devolvam o mais rápido possível à vida pública —ou, pelo menos, à privada. Bolsonaro precisa viver, e quanto mais, melhor —para pagar.