quarta-feira, 14 de agosto de 2024

China foi de anátema à condição de maior parceiro comercial do Brasil, FSP

 Nesta quinta-feira completam-se 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas com a China. Em meio século, ela foi de anátema à condição de maior parceiro comercial do Brasil. Se as negociações avançarem, o presidente Xi Jinping descerá em Brasília ainda este ano. (Ele já esteve em Pindorama, em 1996, aos 43 anos, no Ceará.)

Lula restabeleceu as relações cordiais com a China, açoitadas durante o governo de Jair Bolsonaro. Ele acusava a China de ter criado o vírus da Covid e dizia que seu embaixador estava no Brasil para derrubá-lo. Chegou a pedir a sua remoção, sem sucesso.

Cerimônia em Pequim durante visita do então presidente Jair Bolsonaro, em 2019 - Jason Lee - 25.out.19/Reuters

Pelo mundo afora, entender o Império do Meio exige algum esforço. A primeira lei racista e xenófoba dos Estados Unidos mirou nos imigrantes chineses que haviam construído a ferrovia Transcontinental, no século 19. Por cá, a imigração chinesa foi condenada por escravocratas como o Visconde de Sinimbu e abolicionistas como André Rebouças.

Enquanto a China viveu o que hoje chama de "século de humilhações", o Brasil praticamente ignorou-a. Em 1944, a poderosa mulher do general Chiang Kai-shek, o rival de Mao Tse-tung, passou uns dias na ilha de Brocoió, no Rio. Cuidava da saúde, mas foi-se embora queixando-se da umidade.

De 1949, quando Mao entrou em Pequim, até 1974 o Brasil só reconhecia como China a ilha da Taiwan, para onde Chiang, batido, havia recuado. (Nos anos 60, o Partido Comunista do Brasil mandou 41 militantes para treinamento militar na China, 14 foram para a guerrilha do Araguaia e 12 morreram por lá).

Esse quadro começou a virar em fevereiro de 1974.

(O presidente americano Richard Nixon havia visitado Pequim dois anos antes. Deng Xiaoping havia saído do ostracismo, Mao Tse-tung já não enxergava direito e dizia que estava "convidado para tomar um drinque com o rei dos infernos".)

O presidente eleito Ernesto Geisel recebeu o embaixador Antonio Francisco Azeredo da Silveira e ouviu: "Não ter relações com a China é o maior irrealismo do mundo".

Geisel estava de acordo e perguntou por que o Itamaraty não se manifestava.

"Medo, medo dos militares", respondeu Silveira.

Dias depois, foi além: "O senhor reconhece a China de graça".

Ilusão democrática de Silveira, que viria a ser o novo ministro das Relações Exteriores. O general Golbery do Couto e Silva achava que "isso ainda está um pouco longe". Consultado, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Sylvio Frota, foi contra. O Serviço Nacional de Informações grampeou uma delegação que veio a Brasília.

O empresário Giulite Coutinho, que era estimulado pelo professor Delfim Netto, levou pela segunda vez uma comitiva a Pequim. Só no dia do embarque souberam que um dos intérpretes havia sido preso no Brasil em 1964. Ele explicou: "São águas passadas. Vamos olhar para a frente".

Geisel reuniu-se com os ministros militares e disse: "Se vocês querem ser coerentes, então, vamos cortar relações com a Rússia também e vamos nos isolar, vamos virar mesmo uma colônia dos Estados Unidos".

Geisel e Silveira bateram o martelo.

Frota aceitou a decisão de Geisel, mas, anos depois, ao ser demitido, acusou o presidente de ser um cripto-socialista e, entre outros exemplos, citou o reconhecimento da China.

Deputado Bragato Lança Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Doenças Crônicas de Pele na ALESP

 Nesta quinta-feira, 26/10, o Deputado Mauro Bragato inaugurou a Frente Parlamentar voltada para a defesa das pessoas acometidas por doenças crônicas de pele, como a psoríase.

O evento contou com a presença de renomados especialistas de diversas áreas médicas, que enfatizaram a importância do acesso rápido ao diagnóstico correto e da capacitação dos médicos que atuam na atenção primária à saúde.

Durante seu pronunciamento, Bragato afirmou: “Hoje é um dia especial para mim e para todos que veem a saúde como um direito fundamental do cidadão. Ao longo de minha carreira política, sempre lutei para garantir que a população tivesse acesso a uma saúde de qualidade. Esta Frente não é apenas um instrumento legislativo, mas sim um compromisso genuíno com a saúde e o bem-estar dos cidadãos.”

Gládis Lima, presidente da Psoríase Brasil, associação que há 23 anos atua com doenças crônicas de pele, ressaltou a complexidade de se obter um diagnóstico por dermatologistas no serviço público. O Dr. Marcelo Arnone, do Hospital das Clínicas, complementou, esclarecendo que não há exame de sangue para detectar a psoríase. “O diagnóstico é clínico e deve ser realizado por um dermatologista”, explicou.

Bragato destacou a essencialidade da colaboração entre pacientes, médicos e sociedade para enfrentar as doenças de pele. “Milhões de brasileiros lidam com desafios físicos e emocionais devido a doenças crônicas de pele. Nosso trabalho é defender seus direitos, fomentar parcerias e expandir o acesso a tratamentos e medicamentos. Unidos, buscamos promover saúde e igualdade no diagnóstico e tratamento”, salientou.

No lançamento, temas como a telemedicina e avanços em tratamentos foram discutidos, com destaque para novos medicamentos. Autoridades como Cláudia Maria Afonso de Castro, superintendente do Ministério da Saúde em São Paulo, e Dr. Ricardo Romiti, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), marcaram presença no evento.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Arqueólogos encontram resquícios de experimentos de alquimia de Tycho Brahe, FSP

 Reinaldo José Lopes

São Carlos (SP)

Em meio ao entulho de um palácio destruído há mais de 400 anos, arqueólogos da Dinamarca encontraram fragmentos de vidro e cerâmica que ainda trazem resquícios dos experimentos de alquimia feitos por um dos mais importantes astrônomos da história. Tudo indica que o nobre escandinavo Tycho Brahe (1546-1601), cujas observações do céu serviriam de base para diversos trabalhos científicos revolucionários, usava minérios para produzir medicamentos cuja receita, na época, era secreta.

É o que concluem Kaare Lund Rasmussen, da Universidade do Sul da Dinamarca, e Poul Grinder-Hansen, do Museu Nacional dinamarquês, em artigo publicado no último dia 25 na revista especializada Heritage Science. A análise da dupla identificou, em cacos provavelmente oriundos dos laboratórios de Tycho Brahe, restos de metais que fariam parte dos chamados "Medicamenta Tria" (trio de medicamentos) receitados pelos alquimistas para diversos tipos de doenças.

Brahe, membro de uma das mais importantes famílias da nobreza da Dinamarca, provavelmente seria descrito como uma figuraça se estivesse vivo hoje. Perdeu parte do nariz num duelo com um primo na juventude (eles se desentenderam porque um não queria aceitar que o outro era melhor em matemática).

pintura retrata um nobre com bigode e barba e parcialmente careca. ele está vestido de preto e aparece diante de um fundo preto
O nobre escandinavo Tycho Brahe (1546-1601), um dos mais importantes astrônomos da história - Reprodução

Os dois fizeram as pazes, e Brahe passou a usar uma prótese nasal feita de ouro e prata (provavelmente só em ocasiões especiais). Ele insistiu em se casar com uma jovem plebeia e, por isso, seus filhos perderam o direito aos seus títulos de nobreza.

Apesar das excentricidades, ele realizou algumas das observações astronômicas mais precisas numa época em que ainda não havia telescópios, identificando, por exemplo, as explosões estelares que hoje chamamos de supernovas.

Em meio ao debate sobre as novas ideias do polonês Nicolau Copérnico, que propunha que a Terra e os planetas giravam em torno do Sol, Brahe propôs um modelo intermediário, no qual a Terra continuava no centro do Cosmos, mas os demais planetas girariam em torno do Sol.

Já o trabalho de Brahe com a alquimia é menos conhecido porque, mantendo a aura de segredo que costumava existir em torno dessa prática, ele não publicava seus resultados, ao contrário da divulgação ampla que dava para seu trabalho astronômico.

"Com muita labuta e por meio de grandes gastos, fiz muitas descobertas no que diz respeito aos metais e minerais, bem como sobre as pedras preciosas e plantas", declarou ele sobre o tema. "Estarei disposto a discutir essas questões francamente com príncipes e nobres, e outras pessoas de distinção e conhecimento. Mas não há nenhum propósito útil em tornar essas coisas amplamente conhecidas."

Em parte, o segredo pode estar ligado à fama sobrenatural da alquimia, que supostamente conferiria a seus praticantes o poder de transformar metais comuns em ouro (o que Brahe negava) ou mesmo o de criar um elixir da juventude ou da imortalidade. A prática era uma mistura de química rudimentar com crenças místicas, segundo as quais era possível recriar a harmonia do Cosmos em laboratório –daí a ligação entre alquimia e astronomia, como se a primeira fosse a versão terrena da segunda.

Todas as descrições contemporâneas do trabalho do astrônomo em seu palácio de Uraniborg ("o castelo de Urânia", musa da astronomia) falam da presença de uma série de instrumentos experimentais complicados feitos de vidro, como alambiques, nos quais ele supostamente destilava seus elixires alquímicos. No entanto, ao perder o patrocínio da monarquia dinamarquesa, Brahe foi forçado a deixar a ilha de Ven (hoje pertencente à Suécia), onde ficava Uraniborg. O palácio e as instalações vizinhas foram desmanchados, e os materiais de construção, reciclados em outros edifícios.

Os autores do novo estudo analisaram fragmentos que devem ter feito parte da instrumentação alquímica de Brahe com espectrometria de massa (basicamente uma "balança" química de precisão) para identificar resquícios dos experimentos. Entre suas descobertas está a presença elevada de um quarteto de elementos químicos –cobre, ouro, mercúrio e antimônio– que parece se encaixar no que sabemos sobre outros trabalhos de alquimistas.

Segundo textos escritos décadas depois da morte de Brahe, quando a alquimia já estava em declínio, esses elementos fariam parte dos "Medicamenta Tria". Esses três supostos remédios serviriam para tratar doenças infecciosas, epilepsia e enfermidades da pele, do sangue e venéreas, entre outras coisas. E os quatro elementos químicos faziam parte das receitas em diferentes composições, faltando apenas a prata, além de componentes derivados de matéria orgânica.

Como indica a menção a plantas em sua frase sobre os segredos da profissão, porém, sabe-se que Brahe também trabalhava com remédios de origem vegetal. Não há registros de que ele tenha testado sistematicamente a eficácia de suas poções para curar doenças.