terça-feira, 13 de agosto de 2024

Não é o que você compra que te faz rico; Entenda o segredo da verdadeira riqueza, FSP

 

Quem nunca se pegou admirando alguém dirigindo um carro esportivo caro e pensando: "essa pessoa deve ser rica"? No entanto, frequentemente, confundimos riqueza com a exibição de bens materiais luxuosos. Na busca por reconhecimento e status, acabamos gastando mais do que podemos para adquirir coisas que, muitas vezes, não precisamos. Mas essa exibição não representa a verdadeira riqueza.

Personare- Mulher lê livro
Uma pessoa rica, não é a que ostenta, mas a que possui liberdade para escolher. - Etienne Girardet/Unsplash

Morgan Housel, em seu livro "A Psicologia Financeira", nos convida a repensar o conceito de riqueza, destacando que a forma mais elevada de riqueza não é a posse de bens, mas sim a liberdade. Liberdade de acordar todos os dias e decidir o que fazer com seu tempo, sem se preocupar com obrigações financeiras. Essa capacidade de escolha e controle sobre como você gasta seu tempo vai além de qualquer bem material que se possa adquirir.

Housel também aborda o paradoxo da riqueza visível: ao vermos alguém com um carro caro, automaticamente associamos essa imagem à riqueza. No entanto, o que vemos é apenas a riqueza exterior, que muitas vezes não reflete a verdadeira situação financeira daquela pessoa. A realidade pode ser que essa pessoa está sobrecarregada de dívidas, vivendo uma vida de aparências, enquanto o verdadeiro rico pode ser aquele que vive de forma simples, mas segura e confortável.

O capitalismo moderno, segundo Housel, é excelente em criar dois fenômenos: riqueza e inveja. Muitas vezes, essas duas coisas andam de mãos dadas, pois a vontade de superar os outros e demonstrar status pode ser um combustível poderoso. Contudo, essa busca incessante por status e consumo pode levar a uma espiral de insatisfação e riscos desnecessários. O caso do Long-Term Capital Management ilustra bem essa dinâmica: traders que, apesar de já possuírem fortunas consideráveis, arriscaram tudo na busca por mais dinheiro, apenas para acabar perdendo tudo. Esse exemplo mostra que a ganância pode facilmente transformar riqueza em ruína.

A verdadeira riqueza, segundo Housel, é invisível. Ela não está nos carros luxuosos ou nas casas exuberantes, mas na segurança financeira que proporciona liberdade e paz de espírito. A verdadeira riqueza é saber que você tem o suficiente, que suas necessidades estão cobertas e que você pode lidar com as adversidades sem precisar comprometer seu padrão de vida. É a capacidade de poupar, de ser frugal, e de acumular recursos que possam ser usados quando realmente necessário.

Além disso, Housel nos lembra que a frugalidade e a poupança são as variáveis financeiras que mais controlamos e que garantem nossa segurança no futuro. Muitas vezes, a busca desenfreada por mais leva as pessoas a arriscarem o que já possuem, como foi o caso de figuras como Rajat Gupta e Bernie Madoff, que tinham riquezas inimagináveis, mas acabaram jogando tudo fora por quererem sempre mais.

Ser rico não é sobre consumir mais, mas sobre viver com menos do que você ganha e investir essa diferença para garantir um futuro seguro. O verdadeiro valor está na liberdade e na paz de espírito que a segurança financeira proporciona, e não na ostentação de bens materiais.

Construir a verdadeira riqueza exige paciência, determinação e disciplina. Não é um caminho para quem busca atalhos ou resultados rápidos, mas para quem compreende que a verdadeira liberdade vem da segurança que só o tempo, a prudência e o investimento inteligente podem oferecer. Somente através da sabedoria de poupar e investir de forma consistente é que se constrói um patrimônio capaz de proporcionar a liberdade que define a verdadeira riqueza. Afinal, é essa liberdade, e não os bens que se exibe, que realmente importa.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Joel Pinheiro da Fonseca - A proposta que pode acabar com o orçamento secreto, FSP

 Deputados e senadores pretendem retaliar o governo pelo questionamento que o Supremo vem fazendo à falta de transparência de emendas do relator e "emendas Pix". Confronto entre Poderes não é um problema; é parte do desenho da divisão de poder e exige que governo e Congresso entrem em algum acordo que funcione para ambas as partes. Essa é a lógica da política. Cada lado defende pautas que estão de acordo com seus interesses na busca do poder.

Na relação Executivo-Congresso, às vezes um e às vezes o outro defenderá aquilo que seria melhor à sociedade. E às vezes ocorre de um dos lados da disputa política defender algo que afronta diretamente os princípios básicos da nossa Constituição.

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Cisternas estocadas em Campo Formoso (BA), cidade priorizada no repasse de verbas de emendas parlamentares - Mathilde Missioneiro - 18.set.23/Folhapress

É um erro demonizar as emendas parlamentares. Há uma justificativa para sua existência: um deputado provavelmente sabe mais de necessidades locais de seu estado do que um gestor federal. Assim, é razoável que ele possa destinar algum recurso para projetos que ele sabe ser importante.

A questão é o "quanto" e o "como". Em 2024, o Orçamento federal contempla R$ 52 bilhões em emendas parlamentares. Num momento em que o Executivo está severamente limitado em seus gastos, os deputados nunca tiveram tantos recursos à sua disposição.

É bom que um deputado possa direcionar recursos para, por exemplo, tocar um projeto de educação em municípios de seu estado. Mas a sociedade tem o direito de saber que é ele quem patrocina essa iniciativa e qual o projeto que irá receber o dinheiro, para que possa também ser fiscalizado. Que isso seja encampado pelo Executivo nem vem ao caso; é uma demanda elementar de transparência.

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É o caso agora: os deputados defendem uma prerrogativa sua que afronta os princípios básicos de transparência no uso de recursos públicos.

Não está claro como o governo se beneficia do combate ao orçamento secreto e suas derivações. Afinal, foram essas modalidades que deram mais liberdade ao Executivo para negociar apoio junto aos deputados, uma vez que as emendas individuais e de bancadas foram tornadas impositivas em 2015 e 2019.

Mais do que saber quem vence no cabo de guerra, é preciso ter um um plano para chegar num estado de coisas melhor. A cientista política Beatriz Rey traz uma proposta que sanaria esses desafios: manter apenas as emendas individuais e acabar com todas as outras. A emenda individual é a que permite a maior transparência e a maior responsabilidade: cada deputado é dono dos recursos que destina a suas localidades para determinados projetos. E se for identificado algum problema nesses projetos, já sabemos para onde olhar.

É o que ocorre nos EUA. Lá o equivalente às nossas emendas parlamentares são as "Congressionally Directed Spending Requests" ou "earmarks". Elas também são alvo de críticas e já chegaram a ser suspensas, mas hoje há um crescente entendimento de que têm seu papel legítimo.

A construção de uma sociedade livre passa por estar a todo momento reequilibrando os poderes, de modo que ninguém se sobreponha sobre os demais. Ao longo dos últimos governos, Congresso e Supremo vêm se tornando cada vez mais importantes. E quem saiu perdendo foi o Executivo, que se vê tolhido a todo momento pelo Judiciário e tendo que negociar o uso dos recursos junto aos parlamentares. Limitar as emendas é parte dessa agenda de reequilíbrio dos Poderes e, na medida em que traga mais transparência, será também um avanço de toda a sociedade.

Leonardo Goldberg - O extremismo enquanto fetiche, FSP

 Leonardo Goldberg

Psicanalista, é doutor em psicologia (USP)

Definir o que significa o extremismo político é importante para pensarmos nas discussões contemporâneas sobre os significados que orientam a vida pública, da macropolítica às batalhas culturais. Poderíamos pensar que os extremistas são aqueles que não apenas divergem do sistema vigente, mas se recusam a endossá-lo.

Em vez da figura do ermitão, do lobo solitário radical, o extremista mais eficaz é o mestre no jogo do cinismo. Por exemplo: ele pode defender radicalmente a democracia social se lhe convém, mas, ao mesmo tempo —e dependendo do grupo ao qual fala—, dizer que a democracia social, liberal ou dos pesos e contrapesos institucionais é apenas uma forma autocrática de manutenção do poder; e, por isso, deveria ser combatida. O cínico político é aquele que domina a artimanha de distanciar aquilo que diz do seu modo de viver, não apenas sem vergonha alguma, mas dotado de certa insolência com verniz.

Ilustração mostra 8 pessoas, ajoelhadas, vestidas de verde e amarelo (remetendo à bandeira do Brasil), em ato antidemocrático após o resultado da eleição presidencial.
Ilustração de Andres Sandoval - Andres Sandoval/SoU_Ciência

De forma praticamente intuitiva, alinhamos tal modelo de cinismo às necessidades do jogo político. Porém, o cinismo político ancorado por uma recusa das instituições, do pluralismo, marcado pelo tom acusatório e policialesco e pela relativização da violência de acordo com o aliado político, talvez seja a forma contemporânea mais precisa da pulverização dos extremismos.

Um caso paradigmático para pensarmos nessa figura do cínico político enquanto extremista é o de Adolf Eichmann (1902-62), um dos artífices do Holocausto. Eichmann foi imortalizado pela filósofa Hannah Arendt como aquele que incorporaria a banalidade do mal, através de uma espécie de sujeito cumpridor de ordens. No fundo, essa visão é confortável, pois coloca o mal ao lado de uma razão técnica mais ou menos ingênua.

Por outro lado, a filósofa e historiadora Bettina Stangneth esmiuçou a vida e gravações de Eichmann e mostrou que um dos principais organizadores do nazismo era um político astuto, ardiloso, eficiente, e que depois do nazismo articulou e participou ativamente de campanhas políticas de grupos extremistas na Argentina. Era, portanto, um animal político por excelência, sem banalidade alguma.

O nazista Adolf Eichmann, que foi responsável pelo transporte de milhões de judeus aos campos de extermínio - Reuters/Reuters

Um dos desafios mais importantes das democracias contemporâneas é identificar essa faceta do extremismo que está diluída em todos os espectros e amplificada pelas redes sociais, cuja estrutura reitera toda violência simbólica e física —vide os vídeos de guerra e de massacres que primeiro viralizam e depois são negados por seus autores (quando não chamados de método, por inconsequentes).

Se há uma psicopolítica do extremismo prenhe de certezas, a aposta das sociedades plurais deveria ser naquilo que o filósofo político Norberto Bobbio chamou de uma política da serenidade, essa virtude que, longe de se reduzir à "política do possível", é justamente ancorada em uma ética que inclua visões opostas no campo do conflito, do debate público, para que a palavra "tolerância" não seja apenas título de livro de cabeceira ou mantra matutino, mas a base inegociável daquilo que chamamos de democracia.