O empresário Claudio Bardella, presidente do conselho de administração da Bardella e um dos fundadores e conselheiro do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), morreu nesta sexta-feira, 3, aos 85 anos. “Destacado empresário do País e grande formulador de ações e políticas para o desenvolvimento da economia brasileira e da indústria nacional”, disse o Iedi, em nota
Formado em engenharia industrial mecânica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ele comandou a Bardella, fabricante de equipamentos pesados fundada em 1911 pelo seu avô, o imigrante italiano Antonio Bardella. Também foi presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
“Bardella é personagem relevante da história econômica brasileira, defensor da democracia e do desenvolvimento sustentável. Parte sem ver a indústria de transformação recuperada”, disse, em nota, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva.
Claudio Bardella (C), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (E) e Andrea Matarazzo (D), em jantar em 2006 Foto: Luciana Prezia/Estadão
Segundo Dan Ioschpe, que presidiu o Iedi até agosto, Bardella tinha uma visão de uma indústria de base moderna, competitiva. “Ele se posicionou sempre institucionalmente a favor da democracia.”
Bardella fez parte de um movimento que se tornou simbólico dentro da luta pela redemocratização. Junto com os empresários Antônio Ermírio de Morais (Grupo Votorantim), Paulo Villares (Indústrias Villares), Jorge Gerdau (grupo Gerdau), José Mindlin (Metal Leve), Laerte Setúbal Filho (Itausa), Paulo Vellinho (Springer Admiral), Severo Gomes (da Tecelagem Parahyba) escreveram e assinaram, 1978, o “Documentos dos Oito”, que criticava a ditadura militar e defendia a democracia.
O velório do empresário ocorre hoje (04/11), entre 12h e 16h, no Cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes (SP).
Les grand pays le sont pour l’avoir voulu(Charles de Gaulle).
Nós, brasileiros, não temos como tangenciar a proposição enunciada pelo general De Gaulle: queremos ou não queremos ser um grande país?
Ao empregar o verbo vouloir (querer), o general implicitamente afirmou tratar-se de um problema de vontade. Expressão, aliás, que nos é muito familiar. Sempre que tentamos entender nosso atraso, alguém vitupera que nos falta “vontade política”. Peço vênia ao leitor para destrinchar um pouco essa fórmula em benefício da clareza e do realismo. Imaginar que uma nação inteira possa manifestar uma vontade homogênea a respeito de alguma coisa é bom como retórica (Ernest Renan: “a nação como um plebiscito de todos os dias!”), mas deixa a desejar quando se trata de elucidar um objetivo de tamanha grandeza.
A mim me parece que “querer o desenvolvimento” implica pelo menos quatro requisitos. Primeiro, um conjunto de lideranças e um sistema de instituições que se incumba de fixar prioridades realistas para o país, admitindo, naturalmente, espaço para discordâncias, mas ao mesmo tempo rechaçando alternativas sem pé nem cabeça. Segundo, uma elite (na acepção neutra, sociológica do termo) que assegure a normalidade das instituições, integrada por indivíduos cultos, dotados de caráter e de um genuíno senso de responsabilidade em relação à coletividade. Terceiro, um conjunto razoavelmente coerente de ideias (a quem prefira, o anacrônico ideologias) que legitime e esclareça tais ideias para o subconjunto mais amplo possível da sociedade. Quarto, líderes que personifiquem (carismatizem) a aspiração desenvolvimentista, convocando a sociedade para um padrão civilizado de convívio e de bem-estar.
Se o que De Gaulle pretendeu ao redigir a sentença em epígrafe foi expressar suas dúvidas quanto ao Brasil vir um dia a ser “um grande país”, penso que seríamos forçados a lhe dar razão. Temos, sem dúvida, uma minoria de grosseiros que se compraz em humilhar cidadãos de condição social inferior (“você sabe com quem está falando?”). Admitindo, ademais, que elites na acepção indicada são indispensáveis como um muro de arrimo para a estabilidade das instituições, atualmente não temos. Decididamente, não. Chego mesmo a cogitar que nossa estrutura institucional esteja em franco retrocesso.
Nossas ideias – ou, caso prefiram, o debate sobre o modelo de crescimento –, quando mal emergíamos da monocultura e da escravidão, eram anêmicas, e nem vejo como poderiam ter sido diferentes. Em seguida, sob o signo do positivismo de Augusto Comte e do nacional-desenvolvimentismo de Getúlio Vargas, tiveram uma efêmera serventia como orientação para o começo, ou seja, para o que os economistas denominam a “fase fácil” da industrialização. Hoje, à falta de melhor expressão, vejo-me obrigado a descrevê-las como uma incompreensível maçaroca. Insistimos num modelo de crescimento lastreado no investimento público, quando a tecla quase única da imprensa e do governo é qual será o tamanho do buraco orçamentário do ano que vem. Ou seja, continuamos enrolados numa mescla de ideologias peremptas que apenas sobrevivem em certos ambientes universitários, notadamente nas ciências humanas, e em alguns dos países que lhes deram origem.
É certo que não atingimos uma profundez comparável àquela em que hoje vivem os argentinos. Eles, que tudo tinham para crer na agropecuária, despencaram, e poucos se atrevem a especular sobre quando voltarão à tona. Nós, que durante décadas menoscabamos nosso potencial agrícola, ainda estamos com o pescoço acima da água graças ao agronegócio, complementado pela exportação de minérios. Não sabemos como criar empregos para uma população que ultrapassa os 200 milhões e já um tanto envelhecida, como há poucos dias mostrou o IBGE. Mas, bem ou mal, ainda estamos boiando, isso é um fato.
Para tocar no tema de um convívio social pacífico, o leitor notará que não me faltou coragem. Mas pode e deve repreender-me por haver até aqui me omitido sobre todos os pontos relevantes para no mínimo a metade inferior da distribuição de renda. Convívio pacífico com a criminalidade crescendo a toda brida é, obviamente, um disparate. Imaginar que os desprovidos da sorte possam apreender noções que postulamos como necessárias à construção de um “grande país” é um disparate do mesmo tamanho.
Admitamos, entretanto, que mesmo o nosso tradicional otimismo e nosso proverbial senso de humor têm tido razões para se sustentar. Dias atrás, uma celebridade econômica de cujo nome no momento não me recordo declarou que nos próximos anos o crescimento econômico brasileiro será alavancado pelo Nordeste. Exultai, nordestinos! Rejubilai-vos! Assim o queira Deus. Salvo melhor juízo, o economista-chefe de um grande banco norte-americano prognosticou que o Brasil será a Suíça da América Latina. Tranquilizei-me ao reler a frase. Ele disse Suíça “da América Latina”, e passou ao largo do horizonte temporal em que atingiremos tão benfazejo estágio. Tudo estará bem se acabar bem; o que não podemos é esquecer as sábias tiradas do Marechal De Gaulle.
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SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM CONSULTORIA, É MEMBRO DAS ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS E BRASILEIRAS DE CIÊNCIAS
Cintia Tucunduva, delegada que investigou o caso von Richthofen em 2002, comentou oterceiro filme da série “A Menina Que Matou Os Pais”, recém lançado em streaming. A delegada avalia, em vídeos postados em seu perfil no Instagram, que este é o melhor longa da série, pois os outros dois ficaram “fora da realidade”.Veja os vídeos abaixo.
Cintia diz que, desta vez, a investigação foi bem retratada, mas aponta uma diferença no temperamento de Suzane von Richthofen no filme e na vida real. “Não me recordo da cena em que a Suzane pede perdão ao irmão. Eu não me recordo de nenhum momento dela relativo à compaixão, a perdão, a arrependimento”, ela diz.
Ela também responde a um seguidor que questiona se Suzane gritou ao ser presa, como retratado em uma cena do novo filme. Isso não aconteceu na vida real, segundo ela. “A Suzane não teve demonstração de gritos e desespero no momento em que foi presa. Durante toda a investigação, não demonstrou nenhum sentimento”, afirma Cintia Tucunduva.
A delegada aponta um detalhe sinistro de frieza: a reação de Suzane, ao invés dos gritos do filme, foi perguntar se podia dormir no sofá da delegacia enquanto era preparada uma minuta de prisão temporária.
“Deitou para dormir no sofá, e eu pensei ‘Nossa, eu nunca vi isso’. Ela estava totalmente desacreditada que o crime fosse esclarecido ou o que fosse acontecer alguma coisa a ela. Deu essa impressão”, diz Cintia. Os vídeos postados no Instagram da delegada na quarta, 1, e na quinta, 2, têm a participação da filha dela, Stella. Veja:
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Delegada elogia filme
“Achei o filme bem interessante”, comenta Cintia no primeiro vídeo. “Ele foi feito na ótica da observadora que estava com uma autorização para acompanhar as nossas investigações. Foram pontuados os pontos principais, ficando claro que, num primeiro momento, tudo levava a crer que quem cometeu o crime era alguém familiarizado com a rotina da casa”, diz.
Ela explica: “Um dos detalhes é a jarra amarela, o saco de lixo e da faca. Eles foram importantes porque quem pegou esses utensílios, esses objetos, sabia onde eles estavam e não fizeram nenhuma desordem na casa. Então, a gaveta que foi retirada a faca, a gaveta da cozinha, estava em ordem, inclusive fechada, o saco de lixo [utilizado] estava em um saco de supermercado com os outros saquinhos na despensa, tudo juntinho, organizado.”
Um dos seguidores elogia o vídeo e ela responde a ele: “Esse filme foi o melhor. Os outros ficaram fora da realidade. Foi uma investigação intensa, com muita cobrança e pressão, mas valeu a pena. Resultado super positivo.”
Estreou nesta sexta-feira, 27, no Prime Video, o terceiro e último filme da tríade do caso, A Menina Que Matou Os Pais - A Confissão, no Prime Video. Estrelado por Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Allan Souza Lima e Bárbara Colen, a produção é um destaques da plataforma de streaming. Ela é a mais vista no serviço no Brasil há seis dias.
Carla Diaz e Bárbara Colen em cena de 'A Menina que Matou os Pais - A Confissão' Foto: Divulgação/ Prime Video
O longa é a continuação dos filmes A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais”, lançados em 2021, também pelo Prime Video. Nesses filmes, o chocante assassinato do casal Richthofen é abordado sob duas perspectivas distintas: a de Suzane Von Richthofen e a de Daniel Cravinhos. Enquanto A Menina que Matou os Pais apresenta a visão de Daniel, retratando Suzane como uma jovem descontrolada, O Menino que Matou Meus Pais é contado sob a perspectiva de Suzane, onde Daniel é mostrado como um namorado abusivo e manipulador.
Carla Diaz na cena do enterro do casal von Richthofen Foto: Divulgação/Prime Vídeo
Já A Menina Que Matou Os Pais - A Confissão aprofunda-se nos acontecimentos que se seguiram ao crime, revelando momentos cruciais da investigação policial, depoimentos e a confissão do crime. Dirigido por Mauricio Eça e com roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes, autores e co-criadores de Bom dia, Verônica (Netflix), o filme é baseado nos autos criminais e nas declarações de Daniel e Suzane à polícia.
Produzido por Santa Rita Filmes em coprodução com a Galeria Distribuidora e o Grupo Telefilms, o elenco conta ainda com Kauan Ceglio, Arthur Kohl, Che Moais, Adriano Bolshi, Augusto Madeira, Débora Duboc, Daniel Alvim e Gabi Lopes, entre outros.
Em 31 de outubro de 2002, o Brasil foi abalado pelo assassinato do casal Marísia e Manfred Von Richthofen, cometido no quarto onde dormiam. O envolvimento de sua filha, Suzane, no crime, juntamente com seu namorado, Daniel Cravinhos, e seu irmão, Cristian, fez com que o país acompanhasse atentamente todos os desdobramentos do caso.
Polícia apresenta assassinos do casal Manfred e Marisia von Richthofen. Na foto, Cristian Cravinhos, Daniel Cravinhos e Suzane von Richthofen Foto: AGLIBERTO LIMA\AE
O ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo, José Masi, desempenhou um papel crucial na elucidação do crime. Ele notou comportamentos estranhos em Suzane e Daniel, como a falta de desespero e a cumplicidade evidente entre eles. A investigação levou à descoberta de evidências que contradiziam a versão inicial de um roubo, como joias da família supostamente “roubadas” encontradas no lixo da mansão.
A cena do crime foi meticulosamente alterada para simular um roubo, mas detalhes como sacos de lixo usados para cobrir o rosto das vítimas levantaram suspeitas. A investigação revelou que o crime foi planejado e executado com a ajuda de Suzane, que tinha conhecimento íntimo da casa e das rotinas dos pais.
CASO2 S9 SAO PAULO 12/11/02 CASO VON RICHTHOFEN ED GERAL JT - REPRODUCAO DE FOTOS FEITA PELO FOTOGRAFO SERGIO CASTRO, DE PORTA RETRATO DO ENGENHEIRO MANFRED VON RICHTHOFEN EM SUA SALA NA SEDE DA DERSA, FOTOS JUNTO AOS FILHOS SUZANE E ANDREAS E A ESPOSA MARISIA . FOTO REPRODUCAO SERGIO CASTRO/AE Foto: Sergio Castro/Estadão
A motivação para o crime foi a hostilidade dos pais de Suzane em relação ao namoro dela com Daniel. A denúncia do Ministério Público de São Paulo detalhou os acontecimentos da noite do crime, descrevendo como Suzane, Daniel e Cristian entraram na casa, atacaram o casal com porretes e depois tentaram encenar um roubo. Os três foram presos, confessaram o crime e foram condenados.