segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Ford abre caminho pra BYD na Bahia, The News

 Negociação de peso. A Ford e o governo da Bahia fecharam um acordo para reversão da propriedade da fábrica de Camaçari. Com isso, o local — que produzia modelos como Ka e Ecosport — passa a ser do estado.

  • A Ford já tinha encerrado a operação na fábrica em 2021, mas ainda não tinha chegado em um acordo de preço com a nova ocupante.

Por que isso é importante? Essa negociação pode, enfim, dar espaço à montadora chinesa BYD na Bahia, que pretende abrir três fábricas no estado, voltadas à produção de carros, ônibus elétricos e caminhões.

No final do ano passado, a BYD tinha assinado um protocolo para instalar esses locais de produção. Mas, de qualquer forma, começar com uma fábrica que já está pronta agiliza muito o processo.

Os impactos: Com a chegada da empresa chinesa, a previsão é de quase 5 mil empregos e mais de R$ 3 bilhões de investimentos na Bahia.

  • Segundo a BYD, esse complexo em Camaraçi vai produzir cerca de 150 mil automóveis — híbridos e elétricos — ao ano.

Inclusive, ainda que a marca não esteja na “boca do povo” brasileiro, ela já tem uma presença forte no país. Com mais de 20 concessionárias, a BYD ultrapassou a JAC Motors no mercado nacional.

O Nordeste é tão "conservador" quanto o Brasil, Marcus André Melo , FSP

 As declarações recentes do governador mineiro, Romeu Zema (Novo-MG), abriram uma caixa de Pandora de disparates políticos. Trato aqui apenas do suposto "esquerdismo nordestino", o qual exigiria uma mobilização para contrabalançá-lo. Disparates sem o menor respaldo empírico.

Contra um fundo escuro, homem grisalho usando óculos, terno escuro e camisa azul-clara gesticula e fala ao microfone sentado em uma cadeira
Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, participa de evento no Insper em São Paulo - Zanone Fraissat - 31.jul.23/Folhapress

No Nordeste há mais representantes na Câmara dos Deputados ligados ao centrão e outros partidos que orbitam em torno desse agrupamento do que a partidos afiliados a legendas de esquerda. Mais importante: o percentual de eleitos pelo PL, PP e Republicanos na região Nordeste (35,5%) é similar ao observado no plano nacional (36%). O Nordeste é, no mínimo, tão "conservador" quanto o Brasil.

Em 2022, os partidos nucleadores do chamado centrão (PL, PP, Republicanos), somados a PSC e Patriotas, elegeram 35% dos deputados federais. As legendas de esquerda (PT, PSB, PC DO B, Verde, Rede, Psol, Solidariedade), apenas 33%. Mas dois terços dos representantes do Nordeste pertencem a legendas do núcleo duro do centrão, de centro ou centro-direita, em uma classificação convencional.

O que gera os disparates é a incongruência entre o voto legislativo e o voto nacional: a concentração do voto em Lula na região. Mas lulismo não é petismo, muito menos "esquerdismo". Ele reflete fatores identitários e a preferência por um candidato nativo da região. A incongruência é brutal em Pernambuco, estado de origem de Lula, onde ele obteve 67% dos votos: o PT elegeu apenas um deputado em uma bancada de 25. O quadro é ainda mais dramático em Sergipe, onde o atual presidente obteve quase dois terços dos votos. Mas nenhum candidato do PT ou de qualquer partido de esquerda foi eleito; metade é do núcleo duro do centrão. Em Alagoas, a esquerda elegeu apenas 1/5 dos deputados, mesmo percentual encontrado no Rio Grande do Norte e no Maranhão.

O efeito supostamente ideológico do voto na região se dilui quando se controla por renda. O voto da baixa renda tem se concentrado no PT, independentemente da região.

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A incongruência é sobretudo efeito da incumbência do Poder Executivo: presidentes elegem governadores que elegem prefeitos. Ambos controlam a máquina que alimenta as redes locais. Para o eleitor, a estratégia dominante é votar nos candidatos dessas redes porque atraem investimentos e por receio de serem excluídos dos benefícios gerados por eles.

Como esperado, Bolsonaro teve, em relação a 2018, ganhos muito maiores no Nordeste (16,5% na média) que em outras regiões. No Maranhão, nas eleições municipais de 2012, o PC do B elegeu cinco prefeitos. Quatro anos depois, quando Flávio Dino foi eleito, foram 46, um aumento de 820%. O Maranhão elegeu 58% do total de prefeitos eleitos pelo partido no país. O governador é rei.


Defensorias vão ao STF em defesa de medida do CNJ que desativa manicômios judiciários, FSP

 Defensorias Públicas de todos os estados brasileiros enviaram ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido para ingressar como amicus curiae (amigo da corte) em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que questiona a desativação dos hospitais de custódia do país, conhecidos como manicômios judiciários.

A medida, determinada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), busca cumprir a Lei Antimanicomial, de 2001, que prevê que pessoas com transtornos e doenças mentais que cometeram crimes sejam atendidas pela Rede de Atenção Psicossocial (Raps). A desativação dos hospitais deve ocorrer até maio do ano que vem.

foto mostra porta com pequena abertura no meio, onde é possível ver o cabelo de uma pessoa que está de costas
Interior do Complexo Médico Penal do Paraná, em Pinhais - Haroldo Caetano - 17.out.2018/Ministério Público de Goiás

Proposta pelo Podemos, a ADI sugere que o dispositivo representa a "usurpação de competência legislativa dos entes federativos pelo CNJ". As Defensorias, no entanto, discordam. "[A ação, se for vitoriosa,] pode implicar em profundos retrocessos em termos de direitos fundamentais, com destaque para a dignidade de pessoas acometidas de sofrimento psíquica", afirmam.

O pedido de ingresso é encabeçado pelo Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital nos Tribunais Superiores (Gaets). Na avaliação do colegiado, a medida do CNJ segue o que já é previsto em lei e deveria ter sido cumprido há mais de duas décadas.

"A resolução veio sanar uma situação de tortura institucional. Como é um tema que atinge poucas pessoas, e mistura o saber do direito e da saúde, se torna alvo de muito preconceito", afirma a defensora pública Patricia Magno, apoiadora da iniciativa e especialista no tema. Magno

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"Estamos sofrendo fake news. A gente não está liberando criminosos", destaca ela, que integrou o grupo de trabalho responsável pela minuta da resolução do CNJ.

Magno ainda lembra que, em decisão liminar, o ministro do STF Edson Fachin afirmou não vislumbrar inconstitucionalidade na resolução.

"O Brasil, de fato, ainda tem um longo passivo no que tange à atualização de sua prática antimanicomial. A resolução do Conselho Nacional de Justiça, até pela atuação normativa secundária desse órgão do Poder Judiciário, busca ajustar a estrutura judiciária às diretrizes internacionais", declarou o magistrado.

Quem apoia a resolução afirma que ela admite internações para períodos determinados e justificados, além de cuidados psiquiátricos integrados à assistência social. Os críticos, por sua vez, dizem que o SUS não tem estrutura para absorver a demanda, e que a internação em unidades gerais colocaria em risco tanto quem cumpre a medida judicial quanto os demais pacientes.

Dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais de dezembro de 2022 apontam que, das 832.295 pessoas presas no Brasil, 1.869 são internos em medida de segurança em hospitais de custódia.

A determinação para que essas unidades sejam desativadas opõe o CNJ a entidades como a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).

O CNJ defende que o encerramento desses locais atende à legislação em vigor há mais de 20 anos e segue o que foi decidido por um grupo de trabalho que reuniu diferentes atores, inclusive representantes da Organização Pan-Americana de Saúde e da Organização Mundial da Saúde.

A desativação dos hospitais de custódia seguirá um protocolo elaborado conjuntamente pelo conselho e pelo Ministério da Saúde. O documento estabelecerá, por exemplo, como o Judiciário deve supervisionar a saída dessas pessoas dos hospitais de custódia e como será acompanhada a medida de segurança junto à rede de saúde.