segunda-feira, 14 de agosto de 2023

'Quero taxa de juros baixa que não traga inflação de volta', diz Haddad, FSP

 

SÃO PAULO

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta segunda-feira (14) que a queda da taxa básica de juros (Selic) deve ser acelerada com medidas da agenda econômica do governo. Mas ressaltou que é preciso um patamar de juros que não resulte em uma nova aceleração da inflação.

Haddad indicou que a decisão do Banco Central na fase mais crítica da pandemia, em agosto de 2020, de cortar a Selic para 2% não foi acertada. "No caso da taxa de juros, a gente viu há pouco tempo uma taxa muito baixa, mas que trouxe problemas. Eu quero uma taxa de juros baixa que não traga inflação de volta", declarou durante o podcast Reconversa, com o jornalista Reinaldo Azevedo e o advogado Walfrido Warde.

O ministro comentou que há algum tempo antes do início do ciclo de corte de juros, neste mês, já havia razões para a redução da Selic. Segundo Haddad, o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, impulsionado basicamente apenas pelo agronegócio, já mostrava um impacto dos juros na atividade econômica.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que havia razões para corte da taxa Selic há meses atrás. - Gabriela Biló /Folhapress

Por isso, segundo Haddad, houve um aumento de tensão na relação do governo com o Banco Central desde abril.

"Se esse corte de 0,5 ponto percentual [na taxa Selic em agosto] não viesse, teríamos um problema econômico grave no Brasil", afirmou o ministro. Haddad disse que teria problemas para entregar o que prometeu com a manutenção dos juros básicos em 13,75%.

Do ponto de vista político, Haddad ponderou que, sem corte em agosto, muitos políticos que votaram pela aprovação da autonomia do Banco Central poderiam se arrepender e achar que haviam tomado a decisão errada.

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O ministro refletiu que uma taxa de juros neutra —ou seja, que não estimula o crescimento econômico, mas não causa desaceleração da atividade— deveria ser de 8% com a inflação a 4%. Atualmente, a inflação acumulada em 12 meses está em 3,99%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na última ata do Copom (Comitê de Política Econômica), os diretores do BC indicaram que as condições macroeconômicas precisam melhorar ainda para um corte da taxa Selic de maior magnitude que o 0,5 ponto percentual da reunião deste mês. Para Haddad, portanto, o Brasil deve passar por um "longo processo" de contração na economia. "Quanto tempo vamos chegar a juros neutros cortando 0,5 ponto percentual?", questionou.

Segundo o ministro, os juros altos são uma questão histórica do país. "Na minha visão, o Brasil tem um viés de pagar juros altos que é impressionante".

Haddad disse que está criando um grupo de estudos com economistas acadêmicos que não são de mercado para fazer uma análise comparativa e entender como se combate a inflação em outros países.

Questionado sobre a autonomia do Banco Central, Haddad disse que não votaria a favor da medida nas circunstâncias em que foi aprovada, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Tínhamos um lunático na Presidência da República", afirmou. "Estávamos na mão de um psicopata, que é capaz de qualquer coisa", completou.

O ministro da Fazenda afirmou que este um bom teste para mensurar o sucesso da autonomia do Banco Central, já que este é um momento inédito de transição política. Haddad comentou que, à época da votação da medida, sugeriu a diminuição do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. "Tem que ter cautela para evitar que [uma medida como essa] se volte contra você", declarou.

Assim é porque parece, Dora Kramer, FSP

 A rotina de baixezas ilícitas, aliada à ofensiva golpista reiterada verbalmente por Jair Bolsonaro várias vezes e materializada por seus seguidores em 8 de janeiro, caminha para mais dia, menos dia levá-lo à prisão. Ele mesmo aventa em público tal desfecho na tentativa de se aplicar a vacina de vítima do "sistema".

Pois o processo investigativo que atua para desvendar o conjunto da obra destrutiva erigida num governo que segundo avaliação da Polícia Federal abrigou uma "organização criminosa" fecha o cerco sobre o ex-presidente. Não como mártir, mas na figura do algoz.

Mauro Cid e o então presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado - 18.jun.19/Reuters - REUTERS

Os investigadores não diriam ter certeza do envolvimento dele no desvio de bens públicos se não tivessem elementos para isso, mesmo antes da conclusão do inquérito das milícias digitais que vem de revelar um esquema para "passar nos cobres" presentes valiosos destinados ao Estado brasileiro.

Se o Supremo autorizar, ele vai de novo depor na PF e terá seus sigilos bancário e fiscal quebrados, assim como os de sua mulher, Michelle. Daí para uma operação de busca e apreensão é um pulo nesse tipo de andar das carruagens.

Já vimos em escândalos anteriores envolvendo altos personagens da República como primeiro são mapeadas as malfeitorias do entorno até a obtenção de fundamentos que impliquem o chefe. No caso PC Farias, no mensalão e na descoberta da corrupção na Petrobras, no entanto, houve mais complexidade para o desvendamento dos crimes.

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Agora o que vemos é um volume imenso de provas produzidas pelos investigados, cujos comportamentos obtusos demonstram que as aparências não enganam. São o que são. Do abuso de poder, das urdiduras antidemocráticas ao badernaço golpista, passando pelas sabotagens e fraudes no trato da pandemia, chegamos à rapinagem de joias.

Tudo registrado em palavras e imagens que Jair Bolsonaro, para se livrar, precisa provar que só ele não viu.


Antônio Penteado Mendonça- Déficit operacional do setor de planos de saúde está na casa de R$ 1,7 bilhão, OESP

 Em 2022, os planos de saúde privados fecharam o ano com um déficit operacional de R$ 11 bilhões. É número para ninguém colocar defeito e, na sua composição, estão incluídos inúmeros tópicos que merecem, cada um, um estudo detalhado, porque todos são relevantes individualmente e, somados, levam a uma pergunta, cuja resposta pode ser dramática: será que os planos de saúde privados com o desenho atual são viáveis? Não vamos nos esquecer de que eles têm por base uma lei muito ruim.

Uma leitura superficial dos resultados dos planos de saúde privados no primeiro semestre do ano pode levar a uma resposta enganadora. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Privada (ANS), nos primeiros seis meses de 2023 os planos tiveram um lucro de R$ 968 milhões. Frente ao número consolidado no ano anterior, seria um resultado bom, mas, se as contas forem abertas, veremos que ele não é tão bom assim, e que o resultado positivo é decorrência de uma particularidade dos produtos do setor de seguros.

Em maio passado, o setor bateu o recorde de beneficiários cobertos, com um total de 50,7 milhões de vidas
Em maio passado, o setor bateu o recorde de beneficiários cobertos, com um total de 50,7 milhões de vidas Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO

Graças à capacidade de investirem em títulos públicos grandes quantias de dinheiro, fruto de seu faturamento e utilizadas para a formação do mútuo para viabilidade do negócio, essas empresas conseguem resultados financeiros positivos que, somados ao resultado da conta de aceitação, podem transformar o número da última linha do balanço de prejuízo em lucro.

A leitura criteriosa do desempenho do setor vai mostrar que o déficit operacional continua alto, na casa de R$ 1,7 bilhão. Ou seja, o faturamento com a operação não está suportando os custos diretos do negócio e, no caso da redução dos juros, o resultado pode voltar a ser negativo.

É evidente que o desempenho médio do setor não corresponde ao resultado das operadoras analisadas individualmente. De acordo com a ANS, o Brasil tem um total de 920 operadoras, das quais 680 são de planos de assistência médica e 240, exclusivamente odontológicos.

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É importante ressaltar que as operadoras maiores, por terem mais faturamento, tendem a ter um resultado financeiro mais expressivo, o que melhora seu desempenho.

Uma notícia boa é que, em maio passado, o setor bateu o recorde de beneficiários cobertos, com um total de 50,7 milhões de vidas. Foi o número mais alto desde o início da série histórica, o segundo mês consecutivo de crescimento dos beneficiários e o segundo mês sucessivo em que o recorde de participantes foi quebrado. Anteriormente, o melhor resultado era o de novembro de 2014, com 50,5 milhões de beneficiários.

Neste momento, não há nada que indique uma reversão da tendência, mas atualmente 25% da população brasileira já está inserida no sistema. Então, em função da renda e do emprego, o limite máximo de beneficiários possíveis de serem atendidos pelo atual desenho dos planos de saúde privados está próximo. De outro lado, as despesas são ilimitadas. Ou o sistema passa por uma revisão ou o terceiro sonho de consumo do brasileiro pode estar com os dias contados.