O economista Oded Galor lançou recentemente o livro "The Journey of Humanity: the Origins of Wealth and Inequality". O trabalho impressiona ao explicar o processo de crescimento econômico compilando evidências que remontam ao período anterior à migração do Homo sapiens para fora da África. A obra deixa claro que uma condição central para o fenômeno do crescimento é o capital humano. Sociedades bem-sucedidas foram aquelas que permitiram à maioria dos seus membros desenvolver suas potencialidades.
O crescimento teria se dado de forma desigual no mundo devido a condições geográficas, históricas, culturais e institucionais, que em alguns casos permitiram e em outros tolheram o uso de todo o potencial criativo do ser humano.
Para a América Latina, o diagnóstico é coerente com a literatura que vem se desenvolvendo desde os anos 1990. Nossas condições geográficas favoráveis à monocultura de exportação geraram concentração da propriedade da terra e da riqueza, trabalho escravo sem requisito de investimento em capital humano, instituições políticas e culturais que excluíam a maior parte da população do processo político, leis e governos mais voltados a preservar privilégios do que a prover bens públicos para todos.
Apesar de mostrar que o nível atual de desenvolvimento de cada país tem profundas raízes históricas, Galor afirma que o destino das nações "não está gravado em pedra". Conclui a obra afirmando que se tornarão desenvolvidas as sociedades que conseguirem forjar coesão social, induzirem uma mentalidade orientada para o futuro, privilegiarem a educação e a inclusão de todos.
A mentalidade orientada para o futuro (esforço hoje, recompensa amanhã) é fundamental para a acumulação de capital e conhecimento. A coesão social facilita os acordos, gera confiança no próximo e permite que todos aceitem sacrifícios presentes em nome de benefícios futuros. Também permite que se façam contratos com pessoas desconhecidas, ampliando as possibilidades de ganhos de comércio.
O que esperar do Brasil sob essa perspectiva? Dados do World Value Survey mostram que vamos mal em termos de coesão social. Apenas 6,5% dos brasileiros acreditam que a maioria das pessoas é confiável, ante uma média de 27% dos demais países. Ficamos em 80º lugar entre 88 países no ranking da desconfiança.
Quanto ao esforço coletivo para resolver os problemas da sociedade, 48% dos brasileiros acreditam que cabe ao governo a responsabilidade por atender as necessidades das pessoas, em oposição ao esforço individual. A média é de 16,5%. Só Jordânia e Zimbábue colocam mais responsabilidade no governo. O curioso é que o brasileiro não confia no governo, sendo o quinto na lista dos mais desconfiados. Logo, a mensagem parece ser de descompromisso individual com a solução dos problemas coletivos, jogando para um terceiro (o governo) a responsabilidade que não se quer assumir, e de buscar o governo sempre que precisar resolver um problema do seu grupo de interesse.
Em termos de mentalidade orientada para o futuro, também não vamos bem. Altas taxas de juros, alta dívida pública e baixa poupança são medidas da impaciência e preferência pelo presente. Dados do Banco Mundial mostram que temos a segunda maior taxa de juros real do mundo. A dívida pública é a 14ª maior entre 79 países emergentes (dados do FMI). Já a nossa taxa de poupança é muito baixa, ficando em 121º lugar entre 173 países.
Os nossos fracos resultados nos exames internacionais de proficiência em matemática, ciências e leitura mostram que também não vamos nada bem em termos de capital humano.
Não será fácil reverter essas condições que travam o crescimento. Uma possibilidade seria unir a sociedade em torno de poucas porém relevantes metas quantitativas, como o aprendizado escolar, a redução da pobreza e da violência.
Focar os resultados que fazem a diferença a longo prazo, sem descuidar do básico, que é evitar que a economia descambe em razão de gestões voluntaristas, baseada em fórmulas mágicas para o crescimento imediato, que sempre acabaram em desastre.