quinta-feira, 28 de abril de 2022

Petrobras desiste de vender fábrica de fertilizantes para grupo russo Acron, FSP

 Letícia Fucuchima

SÃO PAULO | REUTERS

A Petrobras desistiu de vender a UFN-III (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III), localizada em Três Lagoas (MS), ao grupo russo Acron, depois de ter anunciado em fevereiro avanços no processo de desinvestimento que se estende por anos.

Segundo a Petrobras, o plano de negócios proposto pela Acron impossibilitou as aprovações governamentais necessárias para a continuidade da transação.

PUBLICIDADE

"Assim, a companhia está realizando os trâmites internos para encerramento do atual processo de venda e lançamento de um novo tão logo possível", afirmou em comunicado.

Logo da Petrobras em tanque na refinaria de Paulínia - Paulo Whitaker - 1.jul.2017/Reuters

Em fevereiro, a estatal disse que havia chegado a um acordo com a Acron para as minutas contratuais da venda, depois de a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ter comentado em um evento que a compra havia sido fechada.

O anúncio foi feito em fevereiro, antes da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia. O governante brasileiro se encontrou com Vladimir Putin dias antes do início da guerra na Ucrânia.

A estatal iniciou a fase não vinculante de venda da UFN-III em fevereiro de 2020. A planta teve sua construção iniciada em setembro de 2011, mas interrompida em dezembro de 2014, com avanço físico de cerca de 80% das obras.

Após concluída, a unidade teria capacidade projetada de produção de 3.600 toneladas de ureia por dia e de 2.200 toneladas de amônia por dia, segundo dados da Petrobras.

Moro e procuradores da Lava Jato foram parciais contra Lula, afirma comitê da ONU, FSP

O Comitê de Direitos Humanos concluiu que os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro foram parciais em relação aos casos investigados contra o ex-presidente Lula (PT).

"A investigação e o processo penal contra o ex-presidente Lula da Silva violaram seu direito a ser julgado por um tribunal imparcial, seu direito à privacidade e seus direitos políticos", afirma nota do órgão.

O comitê se manifestou após ter sido provocado pela defesa de Lula, que permaneceu 580 dias presos em Curitiba pela condenação no caso tríplex de Guarujá.

A afirmação do comitê não tem nenhum efeito jurídico, mas tem peso político para fortalecer o discurso de perseguição política às vésperas da disputa eleitoral na qual lidera as pesquisas de intenção de voto.

"Embora os Estados tenham o dever de investigar e processar os atos de corrupção e manter a população informada, especialmente em relação a um ex-chefe de Estado, tais ações devem ser conduzidas de forma justa e respeitar as garantias do devido processo legal", disse em nota o membro do Comitê Arif Bulkan.

O ex-procurador Deltan Dallagnon e o ex-juiz Sergio Moro
O ex-procurador Deltan Dallagnon e o ex-juiz Sergio Moro - Theo Marques/UOL

Os advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Martins, que representam o ex-presidente Lula, afirmaram que se trata de uma "decisão histórica".

"É uma vitória não só do ex-presidente Lula, mas de todos aqueles que acreditam na democracia e no Estado de direito", disse Zanin à imprensa na manhã desta quinta (28).

"Conseguimos o reconhecimento não apenas no Brasil, mas também em uma corte mundial, que a Operação Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol atuaram de forma ilegal, arbitrária e afrontando um tratado internacional da ONU", seguiu o advogado.

Ainda segundo a nota, o órgão diz que instou o Brasil "assegurar que quaisquer outros procedimentos criminais contra Lula cumpram com as garantias do devido processo legal, e a prevenir violações semelhantes no futuro".

De acordo com Zanin, o governo brasileiro terá que comunicar a ONU, em um prazo de até 180 dias, quais medidas ele irá tomar para "reparar danos causados ao ex-presidente Lula" e para evitar que procedimentos identificados na Lava Jato possam ocorrer com outros brasileiros.

Zanin afirmou ainda que o governo federal deverá, por determinação da ONU, traduzir e dar ampla divulgação de texto com a decisão do comitê. Segundo o advogado, a expectativa é que o governo cumpra com as determinações impostas "o mais breve possível".

​Juiz da Lava Jato, Moro abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro, com quem se desentendeu —isso motivou seu pedido de demissão em abril do ano passado.

No ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou Moro parcial nos processos em que atuou como juiz federal contra Lula. Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto Lula pela Lava Jato.

Diferentes pontos levantados pela defesa do petista levaram à declaração de parcialidade, como condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, familiares e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.

A ida para uma cadeira no ministério de Bolsonaro também pesou, assim como os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, como a Folha, que expuseram a proximidade entre o juiz e os procuradores da Lava Jato.

Em resumo, Moro indicou testemunha que poderia colaborar para a apuração sobre Lula, orientou a inclusão de prova contra um réu em denúncia que já havia sido oferecida pelo Ministério Público Federal, sugeriu alterar a ordem de fases da Lava Jato e antecipou ao menos uma decisão judicial.

O ex-magistrado sempre repetiu que não reconhece a autenticidade das mensagens, mas que, ainda que fossem verdadeiras, não contêm ilegalidades.

Lula foi solto no início de novembro de 2019, após 580 dias preso na Polícia Federal em Curitiba, beneficiado por um novo entendimento do STF segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos.

Lula permaneceu preso de 7 abril de 2018 a 08 de novembro de 2019 em uma cela especial da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

O local tinha 15 metros quadrados, com banheiro, e ficava isolado no último andar do prédio. Ele não teve contato com outros presos, que ficavam na carceragem, no primeiro andar.

Em 2021, o ministro Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula (PT) na Lava Jato, devolvendo os direitos políticos ao petista e mudando completamente o xadrez da eleição presidencial de 2022.

Desde então, Lula acumulou vitórias nos tribunais, sendo a mais significativa a ocorrida logo depois, com o julgamento da corte que declarou que o ex-juiz Moro foi parcial ao conduzir procedimentos em Curitiba.

Outro marco simbólico para o petista ocorreu neste ano, quando o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a única ação penal ainda ativa contra o ex-presidente, que tramitava em Brasília, da Operação Zelotes.

Com o arquivamento de acusações e a declaração de prescrição de casos, hoje é improvável que Lula volte a ser condenado criminalmente na Lava Jato e operações relacionadas.

Governo de São Paulo troca comandos das polícias Civil e Militar, Terra

 O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), decidiu trocar os comandos das polícias Militar e Civil. Vai para a chefia da PM o coronel Ronaldo Miguel Vieira, que liderava o Batalhão de Choque. Já o novo Delegado-Geral é Osvaldo Nico Gonçalves, que era até agora responsável pelo Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope). Garcia é candidato à reeleição e pretende anunciar novas medidas na área de segurança nas próximas semanas. Embora haja queda de homicídios, o Estado sofre com a alta de roubos e furtos.

Ronaldo Miguel Vieira, de 51 anos, ingressou na corporação em 1989 e foi promovido a coronel em 2019. Além do Choque, ele comandou o Policiamento de Área Metropolitano-1, a Casa Militar, a Companhia Territorial e do Policiamento de Área e o Regimento de Polícia Montada 9 de Julho e outros cinco batalhões. Vieira assume a corporação no lugar do coronel Fernando Alencar, que estava no posto desde março de 2020. Maior do País, a PM paulista tem mais de 80 mil agentes.

Já o delegado Nico Gonçalves, de 65 anos, ingressou na Polícia Civil em 1979, como investigador. Ele foi o fundador do primeiro Grupo de Operações Especiais (GOE), chefiou as equipes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do Grupo Armado de Repressão a Roubos (Garra), do Grupo Especial de Resgate - GER, unidade especializada na soltura e livramento de reféns, e foi delegado de polícia na Capital, estando à frente de grandes eventos, como a visita do Papa Bento 16, em 2007, e a Copa do Mundo de 2014.

Nico Gonçalves assume o lugar de Ruy Ferraz Fontes, que era o delegado-geral desde o início de 2019, quando começou a gestão João Doria (PSDB). O novo delegado-geral se notabilizou por participar de prisões de grande expressão na última década, como a detenção do ex-médico Roger Abdelmassih, em 2014, e do ex-médico Farah Jorge Farah, que se matou ao receber a polícia em sua porta para cumprimento de um mandado de prisão em 2017.

Rodrigo Garcia assumiu o cargo no início deste mês, após a saída de Doria para disputar a Presidência da República nas eleições de outubro. O cargo de secretário da Segurança, que gere as duas polícias, continua a ser ocupado pelo general João Camilo Pires de Campos.

Entre os desafios de Garcia para reduzir a sensação de insegurança nas ruas, estão frear os crimes patrimoniais, como roubos e furtos de veículos e celulares. Dados divulgados nesta terça-feira pela Secretaria da Segurança mostram que os roubos aumentaram 7,4% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. No total, foram cometidos mais de 59 mil roubos nas cidades paulistas. Aumento ainda mais vertiginoso aconteceu nos casos de furto: alta de 28% no período, com 132 mil registros.